QUALIDADE A TODA PROVA: especializado em carnes nobres, Wessel abastece os principais hotéis e restaurantes do Brasil

Atencioso e dedicado, como quem responde pessoalmente às poucas reclamações que recebe, o húngaro István Wessel comanda o negócio de sua família: um império da carne erguido nos últimos 50 anos. Mesmo trabalhando exclusivamente com cortes especiais, Wessel comercializa nada menos do que 100 toneladas por mês, fornecendo para grandes redes de supermercados, hotéis cinco-estrelas, restaurantes luxuosos e lanchonetes badaladas. Agora, em mais uma sacada de mestre, preparase para abastecer os navios que atracarão no Brasil em 2009.

O talento de István está no sangue, herdado do avô Márton e do pai László, ambos nomeados “mestresaçougueiros” na Hungria, onde tudo começou. Foragidos da guerra, por pouco não pararam na Austrália, mas foi no Brasil que o negócio deslanchou. O começo, no entanto, foi duro. Logo que chegou ao Brasil, em 1957, László Wessel, que não falava uma palavra sequer em português, arrumou um emprego como desossador de carnes em um frigorífico, mas em pouco tempo percebeu que os açougues brasileiros eram muito ruins. Sem ter nada a perder, resolveu usar seu know-how para entrar no negócio. Não demorou a pegar um empréstimo e abrir uma casa de carnes no bairro do Bexiga, tradicional reduto italiano em São Paulo, onde já existiam dez açougues. “Se tem tanto açougue é porque tem gente para consumir”, dizia à época.

“A picanha é um corte muito comum na Europa,

mas não para churrasco.

Lá, eles a fazem cozida”

ISTVÁN WESSEL, “açougueiro de luxo”,

que introduziu

o corte no Brasil

Dito e feito. Mesmo em meio a tanta concorrência, a casa de carnes era um sucesso, tanto que em menos de um ano os Wessel já estavam em boas condições financeiras. A estratégia foi focar na qualidade dos produtos, em novos cortes e, principalmente, nos europeus que chegavam para trabalhar nas indústrias automobilísticas recém-instaladas no Brasil. O açougue logo ficou conhecido e passou a atrair cada vez mais os estrangeiros, sedentos por comidas típicas da Europa.

O negócio ia muito bem quando István começou a trabalhar com seu pai, mas ele queria mais. O Bexiga já estava pequeno para tanta demanda, então, em um ato de auto-afirmação, abriu uma loja na avenida Faria Lima, novo oásis dos endinheirados paulistanos, em 1974. A idéia era criar um açougue chique, sem açougueiros, que vendesse a carne já embalada e pronta para o consumo, coisa inimaginável na época. Mesmo sob desconfiança de alguns, a loja emplacou.

Depois, já com uma clientela cativa, apresentou aos brasileiros alguns novos cortes, que viriam revolucionar a culinária brasileira, como a picanha, sinônimo de churrasco até hoje. “Eu não gosto de falar isso, mas o Belarmino Iglesias, dono do Rubayat (um dos melhores restaurantes especializados em carne de São Paulo), sempre diz que a primeira vez que ele viu picanha no Brasil foi na Wessel”, conta, humilde, István. “É um corte muito comum na Europa, mas não para churrasco. Lá eles a fazem cozida, que também fica muito boa”, continua. Além da picanha, os Wessel também foram os responsáveis pelo lançamento de outros produtos de sucesso, muito comuns hoje em dia, como o carpaccio e o steak tartare.

A Wessel já era uma grife da carne, mas ainda pouco explorada. A virada veio por acaso. Durante um curso de cinema, István conheceu o publicitário Júlio Ribeiro, que passou a lhe mostrar a importância de fortalecer sua marca. Seguindo os conselhos do amigo, István fez com que a empresa familiar crescesse de forma assustadora, tanto em vendas quanto em valor agregado.

NOVAS FRENTES: com uma marca forte, Wessel ataca com novos produtos

Mesmo com um volume tão alto, István nem sequer cogita comprar uma fazenda e criar seus próprios animais. Segundo ele, não é o seu negócio. “Eu não crio gado, pois não é o nosso foco de investimento. O ciclo do gado e o ciclo da carne são coisas muito diferentes. A picanha representa apenas 1% do boi. O filé mignon mais 1%. Tudo o que a gente vende não corresponde nem sequer a 15% do animal, então não compensa”. Mesmo assim, mantém funcionários treinados em cada um dos frigoríficos que atendem à empresa, tudo em nome da qualidade.

É com esta objetividade que István vem preparando seu filho Daniel para assumir o controle da empresa e investindo pesado em novos produtos com valor agregado mais alto, como uma exclusiva linha de hambúrgueres das mais diferentes carnes, como picanha, fraldinha, filé mignon, cordeiro e vitelo, esta última uma opção mais light. “É light naturalmente, pois é uma carne mais magra. A gente não vende coisa light aqui. Comida saudável é comida gostosa”, completa o açougueiro, totalmente avesso aos produtos dietéticos.

Quanto eles faturam por mês? Esta é uma pergunta que eles não respondem nem sob tortura, segundo os Wessel, “por motivos óbvios”, mas, com certeza absoluta, já superaram em muito os rendimentos do velho László.

A SAGA DOS WESSEL:

originária da Hungria, a família trabalha há quase um século com carnes. No Brasil, a marca é sinônimo de qualidade e sofisticação

AÇOUGUEIROS COM ORGULHO: na primeira foto, família reunida na Hungria, em 1934. No centro, László Wessel em seu primeiro açougue no Brasil, nos anos 50. Acima, István (segurando a faca)

ao lado do irmão János e do patriarca, em 1974, já na Faria Lima.