“A pecuária é um terreno fértil para fundos de todo o mundo”

Olímpio Rossetti, caça-investidores

De fala mansa e sorriso tímido, o empresário Olímpio Rossetti não se parece com um banqueiro. Sempre com uma calça jeans, bota e camisa, também não se veste como um típico fazendeiro, embora seja pecuarista de terceira geração. Chapéu, apenas para cavalgar e se a cavalgada for longa. Mas a verdade é que Rossetti não é um banqueiro, embora tenha mais de US$ 100 milhões disponíveis para investir em fazendas. Talvez na sua, leitor. Dono de uma empresa chamada Rural Consult, ele se especializou em colocar pecuaristas e investidores para falar a mesma língua, já que é conhecedor de ambos os mercados. “A pecuária é um grande investimento, mas precisa de escala para ser viável”, comenta. Enquanto um investe o dinheiro, o outro adquire e engorda garrotes até que virem bois em ponto de abate. O que parece simples na verdade é um complexo processo que envolve uma série de vendas casadas, um rígido sistema de rastreabilidade e o monitoramento do gado, o que o pecuarista-financista chama de Rural Total. Esse pelo menos é o conceito que ele tem adotado em sua empresa, cujo trabalho tem sido ajudar a construir algumas histórias importantes no mundo da carne. Entre elas se destaca a Cotril, gigante do confinamento que chegou a engordar mais de 600 mil animais num ano. Com dinheiro disponível, coisa rara em períodos de aperto internacional, ele procura parceiros para replicar o modelo, a exemplo do que fez com a Agropecuária Nova Vida, em Rondônia.

João Arantes Neto: era dono de 28 mil cabeças de gado, passou a 52 mil e vai chegar a 120 mil em dois anos

Em 2004, quando começaram as conversas com Rossetti, a nova Vida trabalhava com genética e engordava cerca de 28 mil cabeças ao ano. Filho do lendário pecuarista joão Arantes jr., famoso por importar gado senepol na década de 1990 em seu avião DC10 particular, joão Arantes neto conta que seu faturamento saltou de R$ 9 milhões para R$ 22 milhões entre 2004 e 2008. hoje ele engorda 52 mil cabeças por ano e pretende chegar a 120 mil. “Vamos fazer nosso próprio confinamento, num investimento de R$ 9 milhões”, diz. Mágica? Segundo Rossetti, não. “Basta saber trabalhar que todo pecuarista pode crescer de forma sustentável e melhorar o desempenho da fazenda”, diz.

Todos os anos, a nova Vida realiza dois dias de campo, em que vende aproximadamente 600 tourinhos que abastecem as fazendas de cria da região. “Em vez de recebermos em dinheiro, o Rossetti nos recomendou que financiássemos os nossos compradores e pegássemos garrotes como pagamento, um ano depois.” O preço de um touro, segundo ele, equivale a aproximadamente sete garrotes. incluídos os juros, ele receberia nove garrotes de dez arrobas. “Para o pecuarista, foi sensacional porque pagar com o produto dele mesmo era quase um sonho, porque não teria de levantar o dinheiro”, explica. Fato é que um ano depois estavam lá 5.400 garrotes para engordar. Em vez de venderem e ficarem com a diferença dos juros, eles resolveram levar os animais até o ponto de abate, com 16 arrobas. E nesse ponto entra o trabalho de Rossetti como “caça-investidores”. Com um fundo de investimentos ele conseguiu o dinheiro, cujo pagamento aconteceria um ano depois por meio do desconto de uma CPR – Cédula de Produto Rural, ou CDCA – Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio. “Fizemos toda a operação, pagamos o investidor e levantamos 14% de lucro sobre o investimento”, comenta Arantes.

“Agora também estamos comprando animais por meio de títulos, por isso chegaremos aos 120 mil animais ao ano, que é o nosso objetivo”, diz.

Para o investidor, a garantia de recebimento está no lastro do próprio gado, que é monitorado por uma das empresas de Rossetti, que também fabrica os brincos e acompanha diariamente o que acontece com o rebanho. “Desde a primeira ação sabemos tudo o que acontece com os animais e essa é a nossa principal preocupação”, pondera. Segundo ele, é difícil explicar todos os processos para investidores que não sabem nada ou muito pouco sobre pecuária. “Por isso, mantemos informados como está e onde está o gado”, diz. “Se o pecuarista conseguir engordar antes o gado e aumentar o giro, ou mesmo ganhar mais arrobas, é um dinheiro que entra livre para ele”, afirma. Mas, por outro lado, caso não consiga terminar os animais conforme o combinado, sua rentabilidade será menor. Por essa razão, Rossetti está mapeando regiões em todo o Brasil para construir novos confinamentos. “Agora precisaremos de mais parceiros e mais fazendas, já que dinheiro não é o nosso problema.”