Perdas: o excesso de abates nos anos anteriores reduziu em 30 milhões de cabeças o rebanho brasileiro

Pela primeira vez nos últimos três anos haverá uma oferta mais confortável tanto de boi gordo quanto de boi magro. Ou seja, os frigoríficos não terão problema para encontrar sua principal matéria-prima. Pelo menos é o que afirmam alguns especialistas, como Maria Gabriela Tonini, analista de mercado da Scot Consultoria. “Começa a haver uma recuperação no número de matrizes e com isso se tem um aumento de animais em idade de abate”. Isso quer dizer que com um número maior de animais disponíveis existe a tendência de os preços baixarem, certo? Nem tanto. Se de um lado há mais animais disponíveis para o abate, por outro a indústria exportadora espera recuperar o espaço perdido nos dois últimos anos. Em 2008, o Brasil sofreu um revés da União Europeia em que 16 mil fazendas habilitadas a expor tar foram reduzidas a 1.600. Em 2009, a crise financeira fez com que alguns mercados diminuíssem o ritmo de compra. E para 2010, conforme explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria Expor tadora de Carne (Abiec) Roberto Gianetti da Fonseca, o ano será de recuperação. “A previsão é de que haja um aumento entre 10% e 20% no volume de exportações da carne brasileira em 2010.” E é nesse ponto que começa a confusão.

104.224 toneladas de carne foram exportadas pelo Brasil em novembro de 2009

Expectativa: frigoríficos esperam a queda nos preços e consequente aumento das vendas em 2010

Em janeiro, alguns frigoríficos como JBS e Marfrig ventilaram esperar a queda do preço dos bois e, por outro lado, ainda pretendem aumentar as suas margens de venda no Exterior. Segundo afirma Ricardo de Castro Merola, presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), o caminho é justamente o inverso e se faz necessário melhorar os preços do boi magro. Em algumas regiões, esses animais chegam a custar cerca de R$ 75/arroba, o mesmo preço de venda do boi gordo. “Comprar boi magro pelo preço do boi gordo inviabiliza o confinamento e compromete a pecuária nacional. Se esse cenário não mudar até o meio do ano, certamente haverá nova queda na produção”, avisa.

Contudo, com o aumento da oferta de animais para a engorda, a tendência é que a cadeia volte a se equilibrar. Até dois meses atrás, o pecuarista que mais ganhava dinheiro era justamente o fornecedor de bezerros, que chegaram a cotações acima de R$ 600. O preço de custo dos animais também subiu nos últimos anos, principalmente com o período em que a mineralização chegou aos seus mais altos patamares.

 

Fabiano Tito Rosa, também da Scot Consultoria, diz que há outras pendências no mercado de boi gordo. “Não consigo enxergar os pecuaristas vendendo seus animais por um preço muito mais baixo do que está sendo praticado no momento.” Sérgio De Zen, do Centro de Pesquisa em Economia Aplicada (Cepea/USP), diz que esses ciclos são naturais. “Os preços subiram muito nos últimos anos e a atividade voltou a ser compensadora. Por isso é natural que os pecuaristas voltem a investir segurando suas matrizes e fazendo mais bezerros.”

Preços: é necessário melhorar o valor do boi magro para viabilizar o confinamento, afirma Merola

A dúvida, porém, é em relação a quanto tempo esse mercado vai aguentar até que os preços desabem. Em curso, há uma série de negociações que visam abrir novos mercados, conforme explica Gianetti. “A China está abrindo mais espaço para o Brasil e já percebemos uma recuperação nas compras vindas da Europa”, explica. Mas um problema ainda tira o sono dos exportadores e o nome dele é “câmbio”. Se o real continuar se valorizando diante do dólar, a carne brasileira se tornará menos competitiva, e o preço sempre foi um dos nossos atrativos”, avalia.

Na mesma linha de raciocínio, Gabriela explica, que em janeiro de 2009, a carne brasileira era vendida a US$ 1.860 a tonelada e que em novembro esse valor subiu para US$ 2.295. Mesmo assim houve um aumento na quantidade vendida ao mercado externo. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o volume de carne exportado pelo Brasil em 2009 passou de 81.812 toneladas em janeiro para 104.224 toneladas em novembro. “O câmbio segurou um pouco os negócios do Brasil, o que reduziu a remuneração dos frigoríficos. A tendência é de que em 2010 as coisas comecem a melhorar, já que o País está sempre em busca de novos mercados”, prevê Gabriela.