01/05/2009 - 0:00
SERTANEJO BOM DE BICO: apreciador de uma boa cachaça, o cantor lança bebida que é a sua cara
Cantor, pecuarista e, principalmente, cachaceiro. Esse é Eduardo Costa, um dos novos ícones da música sertaneja, cujas canções têm ocupado a primeira colocação em rádios por todo o Brasil. Confesso apreciador da tradicional “caninha”, seu principal sucesso, não por acaso, se chama Cachaceiro. A letra, sugestiva, explica: “Dizem que sou cachaceiro, cachaceiro eu não sou. Cachaceiro é quem fabrica pinga. Eu sou é consumidor.” Nessa toada, o artista já vendeu mais de 200 mil CDs, o que em época de pirataria o fez aparecer entre os principais artistas da gravadora Universal Music no Brasil. Em se tratando de apresentações, no chamado circuito sertanejo, que conta com milhares de festas de rodeio País afora, ele realiza uma média de quatro shows por semana, com cachês que variam entre R$ 50 mil e R$ 80 mil por apresentação. Em sua casa, num bairro nobre de Belo Horizonte, ele mantém uma coleção com mais de 150 garrafas das mais variadas marcas e valores. E para provar que entende do assunto tanto da boca para fora como (literalmente) da boca para dentro, o artista lançou um rótulo com o seu próprio nome e foto. A novidade aconteceu numa parceria com a tradicional Cachaça Germana, uma conhecida empresa familiar de Minas Gerais, especializada na fabricação de bebidas artesanais com alto valor agregado. Alguns de seus produtos podem chegar a R$ 500 e isso não é conversa de bebum. “O que estamos fazendo é resgatar a cultura da cachaça mineira, produzindo uma bebida de qualidade, que é um patrimônio cultural do Estado”, revela o cantor.
Segundo Costa, a possibilidade de uma linha de bebidas com o seu nome, nasceu durante um almoço informal com membros da família Caetano, donos da cachaçaria. Entre um gole e outro, a ideia de unir a marca de cachaça ao nome Eduardo Costa agradou a todos. “Queremos levar a bebida para públicos que ainda têm um certo preconceito com a cachaça, principalmente o feminino”, ressalta Costa, que não investiu financeiramente na empreitada, mas entrou com o nome e todo seu “know how” de cachaceiro.
Já para a Germana, a nova linha se tornou a principal aposta para avançar nesse mercado. Tanto que sua produção recebeu um dos maiores investimentos já feitos pela empresa, cerca de R$ 900 mil. “Trata-se de um produto diferenciado”, explica Valter Caetano Pinto, master blend da Germana e um dos sete irmãos que tocam a holding Unipahr, que engloba ainda uma casa noturna chamada Alambique e uma empresa de agenciamento de duplas sertanejas.
Produzida na fazenda Vista Alegre, uma propriedade de 600 hectares encravada em meio a montanhas, no município de Nova União (MG), a cachaça Germana tem na sua produção artesanal, em que a bebida é feita praticamente da mesma maneira há mais de 100 anos, o seu grande diferencial. “Faço parte da terceira geração que produz a cachaça e o processo foi apenas otimizado. Mas a essência é a mesma”, diz Caetano. Lá são produzidos por ano, apenas 180 mil litros da bebida. Para se ter ideia, grandes indústrias chegam a fabricar mais de 80 milhões de litros por ano. Desse total, cerca de 22% é exportado, principalmente para o Reino Unido. A cachaça é envelhecida em tonéis de carvalho, umburana e bálsamo, por períodos que variam de dois a dez anos, dependendo da linha. “No caso da Germana Eduardo Costa, a bebida é envelhecida por cinco anos, em tonéis de umburana que dá um gosto adocicado à cachaça e deve agradar ao público feminino”. Além disso, não há nenhuma química no processo. “A fermentação da cachaça é feita com fubá de milho. Até a embalagem é feita com folhas de bananeira e cada garrafa é embalada de forma artesanal, uma a uma”, conta Caetano, responsável por todas as misturas e receitas de cada linha de cachaça que sai do alambique. “Às vezes fico semanas preparando a bebida. É um verdadeiro trabalho de alquimista, mas que resulta em uma bebida com personalidade”, orgulha-se.
A CACHAÇA DO CACHACEIRO: a empresa investiu R$ 900 mil para produzir a cachaça Eduardo Costa. O plano é conquistar o público feminino
FESTA COMPLETA: os negócios da família incluem a casa noturna Alambique, uma das mais famosas de Belo Horizonte, e uma empresa para agenciar duplas sertanejas.
Se considerar os resultados da empresa, tanto cuidado tem surtido efeito. Segundo a supervisora de planejamento da Germana e filha de Valter, Grazielle Caetano, a expectativa é de crescimento de 10% no mercado interno e de 25% no mercado externo. “A demanda por esse tipo de bebida tem crescido muito, principalmente na Europa”, conta. Mesmo sem revelar faturamento, a tendência é de que os ganhos também sejam grandes, já que os cuidados na produção fazem com que a bebida tenha um alto valor agregado. A Germana Eduardo Costa, por exemplo, deve custar cerca de R$ 120 a garrafa de 750 ml. Já a garrafa Germana envelhecida dez anos pode chegar a custar R$ 300 no mercado. “É um produto premium, feito para quem realmente aprecia tomar uma boa cachaça, com todos as características para fazer dela uma bebida especial. Essa cachaça é a minha caral”, derrete- se Eduardo Costa, que não perde a oportunidade para oferecer: “Vai uma cachacinha aí?”
Da cachaça à pecuária
Depois de lançar bebida, cantor já mira outros negócios para o campo
Ocantor Eduardo Costa fala das expectativas com sua marca de cachaça e revela planos para alçar outros voos no setor agrícola. A exemplo de outros famosos, o cantor mira a pecuária de elite
Qual o diferencial da cachaça Eduardo Costa?
É uma bebida produzida com cuidado, de forma artesanal. Se você quiser uma grande quantidade, provavelmente não vamos conseguir atender. Isso se reflete no sabor.
Qual sua previsão de ganho com essa nova cachaça?
Ainda é difícil mensurar isso financeiramente. A estimativa é produzir cerca de 600 mil garrafas por ano. Mas o ganho maior será na questão da promoção da imagem. Ter uma cachaça que é literalmente a minha cara é, com certeza, uma ótima forma de promoção. Não só para mim, mas para a cachaça mineira.
Você acompanhou todo o processo de criação da bebida?
Sim. Sempre que podia ia até a fazenda e conversava com o Valter sobre as características da bebida. Queríamos que ela tivesse um sabor leve, quase adocicado. Acho que vai agradar às mulheres, que ainda têm preconceito com a cachaça.
Esse é o principal público da sua bebida?
Acho que, de uma forma geral, a principio serão os fãs que irão comprar, mas logo todo apreciador de boa cachaça vai gostar. Quando falo do público feminino é porque nele está a maior resistência à bebida. Hoje, se você convida uma mulher para tomar cachaça, ela se ofende. Mas quando provam, gostam. Existem cachaças de muita qualidade, que devem ser degustadas como o vinho. Agora temos oportunidade de levar isso a um público maior.
Você tem outros negócios no campo?
Sim. Invisto em pecuária, com gado de elite, principalmente nelore. Tenho parcerias com gente que conhece do ramo, como o Bruno, da dupla Bruno e Marrone, Alvimar Perrela, presidente do Cruzeiro, entre outros.
Como funcionam essas parcerias?
Na maioria dos casos eu tenho parte em animais dos rebanhos deles. Os animais ficam nas propriedades, confinados. São pessoas em quem eu confio e não participo do processo produtivo.
Mas você tem apenas parcerias ou tem um negócio próprio nessa área?
Por enquanto, parcerias. Mas comprei recentemente uma fazenda em Belo Horizonte e pretendo investir na criação de gado. Ainda estou estudando a melhor forma de fazer isso, conversando com especialistas. Mas me parece um ótimo negócio.