01/02/2008 - 0:00
PLANO 2008: o compositor quer gravar um disco com canções brasileiras de domínio público
Aos 60 anos de idade, o cantor e compositor Renato Teixeira faz jus à fama de ser bom de prosa. Basta uma simples pergunta para que ele traga à tona uma seqüência de reminiscências. Detalhe: todas elas envolvem a música, direta ou indiretamente. O autor de preciosidades como “Romaria”, sucesso imortalizado na voz de Elis Regina, se define como um caipira. Nascido em Santos e tendo vivido em Taubaté dos 11 aos 21 anos, o cantor atribui à cidade toda a riqueza cultural de sua obra. No entanto, faz uma ressalva: “A cultura caipira realmente é a minha cultura, mas a música caipira não é a minha música, embora seja muito influenciada por este gênero”. Além da viola e violão tradicionais dos cantores sertanejos, seu trabalho traz outros instrumentos como bateria e contrabaixo. Seu estilo é o folk, conceito que vem do folclore, do contar a história de um grupo de pessoas. Mas esta definição nem sempre foi clara. O divisor de águas na trajetória do artista foi “Romaria”. “Ela determina o exato momento em que eu consegui encontrar o formato, uma linguagem brasileira, nova, baseada na cultura popular”, diz.
Depois de “Romaria”, vieram outros clássicos como “Frete”, música de abertura do programa Carga Pesada, “Amora” e “Amanheceu peguei a viola”, do programa Som Brasil, da Rede Globo. Esta última, inclusive, entrou na seleção das 17 letras “inquestionáveis” da música brasileira, feita pela Academia Brasileira de Letras, que este ano completa 110 anos. Inquestionáveis porque são canções dirigidas especificamente ao povo brasileiro, não servem para o argentino, para o uruguaio. A escolha, segundo Teixeira, é um reconhecimento não só de seu trabalho, mas do espaço da música folk no Brasil. Música que fala da cultura caipira, que evoluiu bastante nos dias atuais. “Não é uma cultura tola, do Jeca Tatu, nunca foi.” Segundo o compositor, esta imagem do peão maltratado, com bichode- pé, não retrata a realidade do interior brasileiro. “Isso foi uma criação de Monteiro Lobato, que por sinal foi um fazendeiro com uma fazenda-modelo, inspirada em uma propriedade dos EUA”, diz. Ainda sobre esta temática, Teixeira se diz contrário à reforma agrária. “A coisa que o homem mais ama na vida é a terra dele. Eu acho um absurdo fazer reforma agrária por lei. Reforma agrária é algo familiar. O dono da terra divide pelos filhos, que dividem pelos filhos, quem não quiser vende sua parte”, comenta.
VAQUEIRO E BOIADA: referências constantes na obra do cantor
Apesar da familiaridade com o campo, o cantor não tem investimentos rurais. Apenas vive em uma chácara, na Serra da Cantareira. As referências ao vaqueiro, à boiada usadas em suas músicas, principalmente as em parceria com Almir Sater, são todas de Taubaté. “Meu pai era funcionário público e trabalhava para uma organização do Estado que dava assistência técnica à população rural. Eu estava sempre com ele, com os agrônomos e veterinários visitando as fazendas”, explica-se. Versátil, o cantor também atuou no meio publicitário na virada dos anos 60 para 70. Foi autor de jingles, como o clássico “Ortopé”. No ano passado, ele lançou o seu primeiro DVD, que encerrou o ano com 100 mil cópias vendidas. Para este ano, o grande projeto é um disco com canções brasileiras, que ninguém sabe ao certo de onde vieram. “Quero gravar estas músicas ao vivo, em São João del Rei”, diz.