15/02/2013 - 18:59
Dizer apenas que a cabanha Dorper Campo Verde, de Jarinu (SP), investiu R$ 30 milhões em seis anos é pouco para resumir o trabalho do criatório de ovinos dessa raça sul-africana, no País. Mas dá uma ideia da magnitude do negócio. A Campo Verde, localizada a 70 quilômetros da capital paulista, conta com um plantel de 1,4 mil animais de alta genética para a venda de matrizes e reprodutores, administra o rebanho dentro das normas de bem-estar animal, possui uma central de reprodução e tem a pretensão de exportar ovinos para países da América Latina. “Nossa missão é vender a melhor genética Dorper”, diz o proprietário Luiz Roberto Horst. No ano passado, a receita da cabanha foi de R$ 2,8 milhões e a meta para 2013 é chegar a R$ 3,2 milhões com a venda de animais e a prestação de serviços a outros criadores. “A ovinocultura tem um grande potencial de crescimento no Brasil. Temos muito a contribuir”, diz Horst.
Quando nasceu, em 2006, a Campo Verde já anunciava seu objetivo de ser uma grande produtora de genética ovina. E está se saindo bem. Nos últimos quatro anos, a cabanha ganhou vários prêmios de melhor criadora e expositora em exposições agropecuárias, nas quais acontecem julgamentos oficializados pela Associação Brasileira de Criadores de Dorper (ABCDorper), entidade com sede em São Paulo. Mas é agora que a Campo Verde está pronta para alçar maiores voos. “Estamos estabilizando o rebanho e a partir de agora vamos ter o retorno dos investimentos”, diz Horst. A cabanha, este ano, pretende ainda importar 400 embriões da África do Sul para dar continuidade ao processo de melhoramento do rebanho.
A Campo Verde comercializa animais puros para os rebanhos de elite, animais de genética para os rebanhos que se destinam à produção de carne, através do cruzamento industrial, e também o sêmen dos melhores reprodutores. Para a coleta do material genético, os animais são enviados à central de inseminação da canadense Alta Genetics, em Uberaba (MG). Já passaram pelo processo mais de 30 machos. A Campo Verde também possui uma central de serviços de reprodução assistida para atender animais de clientes da cabanha. No laboratório de reprodução são realizadas coleta de embriões, avaliação, congelamento, descongelamento e implante desses embriões em barrigas de aluguel, além de diagnóstico de gestação por ultrassonografia
O plano de exportar animais para países da América Latina tem como foco especialmente México, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Uruguai, Paraguai e Argentina. “São mercados com potencial para o desenvolvimento do dorper”, diz Horst. “Gostaríamos de exportar sêmen, embriões e até mesmo animais vivos, a partir de 2014.” Mas, para que isso seja possível, o Ministério da Agricultura precisa aprovar o Plano Nacional de Sanidade Animal, documento em discussão nos fóruns sobre ovinocultura desde 2004. Ele é a base para que o País possa assinar protocolos sanitários internacionais, como convênios bilaterais para pesquisas e comércio de genética. “Estamos na expectativa para exportar”, diz Horst.
O criador conta que o plano da cabanha, de ganhar escala na genética, só foi possível a partir dos investimentos que foram feitos anteriormente na propriedade. Horst herdou a cabanha do sogro, o empresário Mário de Castro, morto em 2011. Castro fundou, na década de 1970, a Plascar, uma das principais fornecedoras de autopeças, em Jundiaí (SP), atualmente controlada pelo grupo International Automotive Components (IAC), de Luxemburgo. Quando vendeu a empresa, em 1995, Castro comprou a fazenda Campo Verde e, mesmo sem experiência na ovinocultura, decidiu investir no setor. “Meu sogro era um empresário visionário”, afirma Horst. “O alto investimento foi pensado para um retorno no longo prazo”. Em 2006, a cabanha importou cinco mil embriões da África do Sul, o berço do dorper e do white dorper (animal todo branco), criados naquele país na década de 1930 a partir do cruzamentos de duas outras raças. Ao assumir os negócios do sogro, Horst levou com ele a sólida experiência empresarial, já que até o ano passado trabalhou como executivo da PDG, de São Paulo, uma das maiores empresas do setor imobiliário na América Latina. “Sou mais rigoroso com o fluxo de caixa”, diz. “Estabeleci metas anuais e estou investindo mais em marketing.” Desde que Horst assumiu a cabanha, o faturamento quase dobrou. Passou de R$ 1,6 milhão, em 2011, para R$ 2,8 milhões no ano passado, quando foram vendidos 768 animais por preços médios de R$ 4 mil para as fêmeas e de R$ 2,8 mil para os machos.
O agrônomo Carlos Vilhena, gerente da fazenda, atribui o bom desempenho da Dorper Campo Verde ao manejo. Todos os nascimentos são provenientes de inseminação artificial, através de laparoscopia. Mensalmente, até 80 ovelhas são submetidas ao processo, com taxa de prenhez em torno de 75%. A fazenda também possui uma estrutura robusta e moderna para a criação dos animais em sistema semi-intensivo. Em 100 hectares há 49 módulos com dez piquetes cada um, sendo 18 para pastejo rotacionado e 31 para confinamento. No curral, construído sob as normas de bem-estar animal, é possível manejar até 400 animais de uma só vez. A Campo Verde também possui uma fábrica própria de ração que gera uma economia de R$ 120 mil por ano. “Produzimos uma média de 30 mil quilos de ração por mês, com a qualidade que desejamos”, diz Vilhena.
De acordo com o veterinário Manoel Claudio da Cunha, gerente de produção da Campo Verde, a estrutura da fazenda permite um trabalho cuidadoso com o rebanho. Todos os animais recebem um chip para o controle informatizado de pesagens, vacinações e acasalamentos. “Somos pioneiros ao fornecer a documentação completa de todos os animais que comercializamos, inclusive com o registro na ABCDorper”, diz Cunha.
Esse tipo de controle mais refinado dos rebanhos da raça interessa à ABCDorper. O criador Antônio Castilho, presidente da entidade, sediada em São Paulo, acredita que a demanda por carne ovina será crescente nos próximos dez anos. “O dorper fica pronto aos 120 dias de vida, com até 45 quilos de peso vivo”, diz Castilho. “É uma raça estratégica para a ovinocultura de corte.”
Para valorizar esses animais, no mês passado a ABC Dorper firmouuma parceria com a certificadora australiana Aus-Meat. Programas de certificação impulsionam investimentos em genética porque a carne de animais da raça, ou de seus cruzados com outras raças, fica mais valorizada. A carne de dorper será certificada no frigorífico do grupo VPJ, do criador Valdomiro Polisseli Júnior, em Pirassununga (SP). “O produto com o selo Dorper vai para o mercado a partir de março”, afirma Castilho.