Parque das Emas: unidade de preservação do cerrado brasileiro sofre com a invasão de braquiárias

Utilizados como forrageiras na formação de pastagens nas áreas de solo pobre do cerrado, os capins braquiária e gordura, quem diria, se transformaram em ameaçadoras pragas para o Parque Nacional das Emas, que abriga uma das maiores unidades de conservação e preservação do cerrado brasileiro. Com uma superfície de 132.000 hectares, a reserva localiza-se no sudoeste de Goiás e se estende pelos municípios de Mineiros, Serranópolis e Chapadão do Céu, além de Costa Rica e Alcinópolis (MS) e Alto Taquari (MT). As fazendas de criação de gado que outrora rodea-vam o parque foram substituídas por grandes propriedades agrícolas. E o capim, que um dia alimentou o rebanho, virou problema. Adaptadas à região, as forrageiras rapidamente se disseminaram. O convívio harmonioso da natureza começou a dar sinais de enfraquecimento. O desequilíbrio se instalou.

Em 2006, a administração do Parque das Emas buscou várias formas de solucionar o problema: roçada, extração da gramínea, corte raso e abafamento da planta, com a utilização de uma lona no chão. Sem sucesso.

 Dilema: Pitelli acredita que o controle biológico é caro e demanda tempo

Em 2010, estudo realizado pela administração da reserva revelou que 10% de sua área já estava comprometida. Convidado a elaborar um estudo sobre o impacto das gramíneas invasoras, Robinson Antonio Pitelli, especialista em manejo de plantas daninhas e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal, chegou à conclusão de que o processo ideal de combate através do controle biológico – que consiste na introdução de um inimigo natural específico da planta – não seria possível, em razão da urgência exigida para a resolução do problema. “Este é um processo caro e demanda um período de aproximadamente dez anos, tempo que não temos mais”, diz Pitelli. “No caso específico da braquiária no cerrado, o controle é uma questão de sobrevivência da integridade biológica da unidade de conservação.”

Para desgosto dos ambientalistas, dentro e fora do governo, a solução encontrada foi apelar para o velho e sempre combatido herbicida. A partir daí, Marcos da Silva Cunha, chefe da reserva, buscou parceria com a Monsanto. A multinacional americana tem como responsabilidade apoiar os agricultores donos de terras que estão localizadas em áreas estratégicas no entorno do parque. “São proprietários que já usam o produto. Será mudado somente o objetivo da aplicação. E tomaremos todos os cuidados para que seja utilizada corretamente”, diz Gabriela Burian, gerente de sustentabilidade da empresa. Esse é o primeiro projeto da Monsanto no Brasil direcionado a uma grande reserva. As primeiras aplicações já estão sendo realizadas. “Os agricultores recebem os produtos, fazem a aplicação e acompanham os resultados. O interesse em controlar a braquiária é de ambas as partes”, diz Silva Cunha. “No final todos serão beneficiados.”

A estratégia é fazer um cordão de isolamento nas áreas de entrada da reserva para impedir o avanço da braquiária e recuperar as plantas nativas. Segundo Silva Cunha, o herbicida foi aplicado nas áreas de entorno da reserva, inicialmente. Caso os resultados sejam positivos, a ideia é solicitar ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), órgão ambiental do governo federal, autorização para fazer o mesmo controle internamente.

Como era de se esperar, a medida provocou a chiadeira ambientalista. O coordenador geral de proteção do ICMbio, Paulo Henrique Carneiro, diz que é preciso cautela no encaminhamento do assunto. Ele adverte que a legislação restringe o uso de defensivos químicos em áreas de conservação ambiental. “Até mesmo herbicidas e defensivos agrícolas menos tóxicos podem causar algum nível de contaminação ao meio ambiente e provocar a mortalidade de algumas espécies de animais”, diz Carneiro. “A questão deve ser avaliada caso a caso para se verificar qual situação causa menos danos: a manutenção da planta invasora ou a utilização do herbicida.”

 

Pioneira: Gabriela Burian, da Monsanto: tomaremos cuidados para que seja utilizado corretamente

Representante dos fabricantes de herbicidas, a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) alega que os produtos com baixa toxicidade têm rápida degradação microbiana e não oferecem riscos aos animais.

“Quando o assunto é agrotóxico há sempre uma polêmica”, diz José Annes, gerente de educação da Andef. “Porém, ele é uma importante ferramenta para a produção agrícola e um meio de minimizar o risco de praga. Se não houver controle, as plantas invasoras podem acabar com uma área de reserva legal.”

Annes lembra que a experiência do Parque das Emas não é novidade em reservas ambientais no Brasil. Já passaram pelo mesmo processo a Floresta Nacional de Bom Futuro (RO), o Parque Nacional dos Aparados da Serra, localizado entre os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a Chapada dos Veadeiros (GO) e os Parques Estaduais de Itirapina e Vassununga (SP).

Comparação na área de cerrado

Sem controle

Como resultado, o que existe no Parque das Emas é um aumento contínuo da população de gramíneas agressoras, entre elas os capins braquiária e gordura e com menos intensidade o andropogon e o colonião

Com controle

Na proposta da empresa, a aplicação de herbicidas à base de glifosato, com baixa toxicidade aos animais e microorganismos do solo, se torna altamente eficaz no controle das invasoras. Como resultado não permite a rebrota, mas o surgimento de plantas nativas