14/11/2018 - 13:31
Uma dezena de aplicativos gratuitos para celular está a um toque de distância dos produtores rurais. As plataformas levam informações diárias de clima, preços futuros das principais commodities, cotações do dólar, além de dados atualizadas da produção. Na lista dos apps tem até um que dá dicas da melhor forma de comercialização. Adicionalmente às plataformas digitais, há uma série de profissionais, entre agrônomos, veterinários e zootecnistas, que estão à disposição do produtor para sanar qualquer tipo de dúvida. Não, não se trata de mais um novo serviço de uma recém-nascida startup do campo. Pelo contrário. Os serviços são de um companheiro de longa data do produtor: o banco. “Há tempos as instituições financeiras deixaram de ser simplesmente um agente de concessão de crédito”, diz o economista Tarcísio Hübner, vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil. “Hoje, essas instituições se fortalecem para dar um suporte mais adequado ao produtor na hora da aprovação de crédito.”
É com esse tipo ênfase que agentes financeiros, como o Banco do Brasil, o Bradesco e o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), estimulam cada vez mais o crédito orientado. Trata-se de uma das modalidades em que o produtor é guiado tecnicamente, através de assistência prestada pelo banco, e que pode ser feita diretamente ou através de entidades especializadas de extensão rural. “Esse trabalho é a forma mais eficiente para a gestão dos recursos”, diz Hübner. “Evita que o produtor faça investimentos acima de sua capacidade.” Dono de cinco mil agências, uma carteira total de crédito de R$ 633,5 bilhões, sendo R$ 187,9 bilhões no agronegócio, na safra passada o Banco do Brasil desembolsou R$ 85,1 bilhões aos produtores. Isso representou 55,7% do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2017/2018.
A perspectiva é chegar em R$ 103 bilhões nesta safra. Com o resultado, o banco não só se consolida como o maior agente financeiro para o produtor rural, mas como a maior rede de atendimento no campo. A instituição possui 247 assessores técnicos, entre engenheiros agrônomos, veterinários e zootecnistas, além de uma equipe de 713 gerentes especializados no agronegócio. “Esses gerentes são capacitados para entender a atividade da sua região e podem orientar o produtor sobre os custos e comercialização, por exemplo”, diz Hübner.
Recentemente, o BB expandiu suas fronteiras de relacionamento no campo ao lançar o app Agrobot, um consultor virtual que interage com o produtor. Com o cruzamento de informações pela internet, o aplicativo tece recomendações de custos, oportunidades de vendas e ajuda o produtor no planejamento financeiro. “E, claro, leva ao produtor algumas alternativas de linhas de crédito”, diz Hübner. “Por enquanto, a ferramenta faz simulações nas culturas de soja, milho, café, trigo, algodão e arroz.” O aplicativo pode ser instalado em aparelhos com sistemas iOS (Apple) e Android (Google).
Na cola do BB, o Bradesco também é um dos que tem criado soluções digitais, levando recomendações ao produtor, além de manter um serviço especializado e dedicado ao agronegócio. Atualmente são cerca de 200 profissionais, entre agrônomos e técnicos agrícolas, que dão o suporte sobre crédito orientado, segundo o administrador de empresas Leandro José Diniz, diretor de Empréstimos e Financiamentos do banco. “É com o time que, durante uma visita na fazenda do produtor, o banco pode levar uma visão mais completa e diferenciada de crédito”, afirma Diniz. “É o momento em que podemos enxergar as necessidades do produtor.” Com origem no município de Marília (SP), o Bradesco é uma das instituições que se vangloria de suas raízes no campo, sem nunca ter deixado de lado essa origem. Para Diniz, é o que mantém a força do banco no interior.
Com um total de 4,7 mil agências, a instituição possui uma carteira de R$ 22 bilhões no agronegócio. Considerando apenas os bancos privados, isso representa 26% de participação no crédito rural. A carteira de crédito total do Bradesco é de R$ 492,9 bilhões.
Dinheiro também é o que não falta para o sistema de cooperativismo de crédito, encabeçado pela Sicoob. Dono de 895 agências e uma carteira de R$ 42,9 bilhões – R$ 12,3 bilhões para o agronegócio –, a cooperativa faz projeções otimistas de crescer 15% na safra 2018/2019, podendo fechar em R$ 14,2 bilhões. A onda de juros reduzidos pelo governo federal no atual PAP 2018/2019 é o que sustenta as projeções (confira a reportagem da página 60). “A cooperativa vai muito bem, quando o produtor vai bem”, diz Marco Aurélio Almada, presidente do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), ligado ao Sicoob. “Por isso, a importância do crédito orientado é grande, na medida em que ele aumenta a competitividade do produtor rural associado à cooperativa.” Para o agrônomo Luciano Ribeiro, superintendente de Negócios e Desenvolvimento do Sicoob, a orientação ao produtor é subsidiada pelo próprio conjunto de cooperativas agrícolas associadas. Além disso, o grupo mantém participação ativa em programas de extensão rural, em parceria com órgãos estaduais e municipais. “Criamos um ambiente no qual trabalhamos o máximo possível para prestar o melhor serviço ao produtor rural no processo de tomada de decisão de crédito”, diz Ribeiro.