O clima sempre foi um dos elementos mais incontroláveis para quem trabalha no cultivo de alimentos. Antecipar-se aos humores de São Pedro pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma lavoura, porque eles influenciam do plantio e colheita até a formação dos preços das culturas no mercado financeiro. Todo produtor, ora está de olho no El Niño, fenômeno que provoca seca, ora se desespera com a La Niña, que faz chover na hora errada. Isso, sem contar a ansiedade provocada pelas instabilidades consideradas normais pelos estudiosos da meteorologia. No entanto, alguns produtores já começam a minimizar esse tipo de preocupação. Para saber o que se passa lá em cima, eles estão investindo, aqui embaixo, em modernas estações meteorológicas para terem na palma das mãos previsões confiáveis no lugar de meros palpites. “A estação tem se tornado uma ferramenta fundamental na nossa tomada de decisão”, diz o administrador de empresas Frederico Ribeiro Krakauer, presidente do Grupo Mutum, dono de 50 mil hectares no município de Nova Mutum, em Mato Grosso, onde cultiva 30 mil hectares, entre soja e algodão.

Krakauer investiu R$ 100 mil na compra da plataforma tecnológica Hemisphere Pro, desenvolvida pela Olearys, de São José dos Campos (SP). A ferramenta, que integra através de um software estações meteorológicas a uma sonda acoplada ao pivô de irrigação, permite ao produtor monitorar tanto o clima, quanto as doenças e a umidade do solo. Com isso, ele consegue reduzir, de uma só vez, os gastos com defensivos, energia elétrica e água. “A tecnologia trouxe uma visão nova para nós e, consequentemente, pode levar um benefício econômico significativo nas próximas safras”, afirma o produtor. Para testar o potencial da estação, a tecnologia foi utilizada em um projeto piloto para as culturas de soja e algodão. Na oleaginosa, foram monitorados 400 hectares do total de 24,5 mil hectares. A economia com defensivos foi superior a 30%, o equivalente a cerca de R$ 2,5 mil, por hectare. Além disso, foi observado um incremento da ordem de 10% na produtividade: 60 sacas de 50 quilos, por hectare, ante a média de 50 sacas da fazenda. “Esse desempenho aconteceu porque estávamos munidos de dados mais precisos e agimos com a certeza da informação, não no chute”, diz Krakauer.

No algodão, o Hemisphere Pro foi utilizado em uma área de 800 hectares, do total de seis mil cultivados. E também nessa cultura houve ganho médio, por hectare, acima do restante da propriedade. Na área de teste foram colhidas   6,1 mil quilos, por hectare, ante a média geral de 5,6 mil quilos.“Com o algodão, a economia foi superior a 50% em energia elétrica e no consumo de água”, afirma Krakauer. “Essa economia também foi alcançada com a decisão de também irrigar a área no período noturno, fora do horário de pico de preços.”


Revolução: para Balbi, da Olearys, com o Hemisphere Pro, os produtores começam a trabalhar com pacotes de soluções mais completos e eficientes

Satisfeito com o resultado observado nas lavouras, o produtor quer aplicar a nova tecnologia em toda a propriedade, já na safra 2016/2017. Krakauer planeja comprar mais duas sondas e diz que está apenas esperando o dólar se acalmar um pouco, para fazer a aquisição. Os equipamentos são importados pela Olearys da empresa austríaca Adco. Segundo Vítor Balbi, gerente da Olearys, a tecnologia começou a ser apresentada no País em 2013. “O sistema de sonda é uma ferramenta revolucionaria”, diz Balbi. “Os produtores começam a trabalhar com pacotes de soluções e não mais com elementos desconectados, o que determina o sucesso de seu uso.”

Krakauer não está sozinho nesse tipo de investimento. Há, atualmente, um despertar para a redução de custos que está levando os produtores a apostar nas estações meteorológicas inteligentes. O grupo Mizote, de São Desidério, no Oeste da Bahia, participa desse movimento. Em abril deste ano, o produtor Willian Seiji Mizote, administrador das fazendas, que ocupam 27,7 mil hectares, instalou uma estação em uma de suas propriedades, de dez mil hectares de área. Mizote foi beneficiado pela plataforma de serviços Agroservice, da Bayer CropScience. Por meio de pontos acumulados no programa de relacionamento com os clientes, o agricultor pôde adquirir o equipamento. Ele espera que nesta safra a estação já lhe traga informações climáticas que o auxiliem no controle de doenças e pragas. “Saber a hora ideal para as pulverizações foi um dos grandes motivos que me fez apostar nessa solução”, diz Mizote. “Nossa meta é que a eficiência na tomada de decisão agregue mais produtividade”.


Aposta: o produtor Willian Mizote acredita que a estação meteorológica ajudará no aumento da produtividadade em suas fazendas, no Oeste baiano

Animado com a possibilidade de mudança de patamar tecnológico, o produtor já planeja ampliar o uso das estações meteorológicas para as outras duas propriedades do grupo, que também estão situadas no Oeste da Bahia e que juntas somam 17,7 mil hectares. “Se tudo andar bem nesta safra, é o que faremos”, diz Mizote. Para o executivo Ivan Moreno, diretor de acesso ao mercado da Bayer CropScience, não há como dar errado. “Esse movimento é um caminho sem volta”, afirma. A Bayer já instalou 35 estações meteorológicas, por intermédio do Agroservice, e espera chegar a 100 unidades ainda nesta safra. “Com essa tecnologia, prestamos um serviço de excelência ao agricultor”, diz Moreno. “Ao mesmo tempo, podemos aumentar o nosso banco de informações de cada região, aferindo cada vez mais precisão aos dados coletados no dia a dia nas propriedades.”