01/11/2009 - 0:00
“Reduzi o uso de agrotóxicos na minha plantação em 80%” Elcio Spinassi, produtor de morangos em Jarinu (SP)
Sabe aquele filme em que um ator coadjuvante rouba a cena e leva para casa um Oscar? É exatamente o que tem acontecido em algumas lavouras brasileiras, com a utilização de um produto pouco conhecido e que “atende” pelo curioso nome de coadjuvante de tecnologia.
Baseado na utilização de água oxigenada, vinagre (ácido acético) e um outro desinfetante natural, a novidade tem colaborado com produtores de verduras e legumes.
Há 21 anos cultivando morangos no município de Jarinu (SP), Elcio Donizete Spinassi aprendeu que da boa qualidade de seu produto depende a rentabilidade de seu negócio. “No morango se o produto é bom você consegue um alto preço. Mas, se não for, não há meio-termo, você simplesmente não vende”, afirma o produtor, dono de 25 hectares onde cultiva pouco mais de um milhão de pés de morangos.
Uma premissa seguida à risca e que o levou a tomar uma medida drástica. Há três anos ele percebeu que o consumo da fruta vinha caindo devido ao grande uso de defensivos agrícolas na produção. Dados do Ceagesp apontam a fruta como uma das campeãs em contaminação ao lado do tomate.
Diante disso, ele resolveu eliminar a aplicação desses produtos tão nocivos à saúde humana. A grande questão era como conseguir reduzir o uso dos defensivos sem ficar refém de pragas, fungos e bactérias que comprometem a produção.
Passados dois anos das primeiras aplicações com o coadjuvante, os resultados foram tão satisfatórios quanto surpreendentes. “O produto se mostrou eficiente e hoje já reduzi em 80% o uso de agrotóxico na minha plantação”, revela. A ação desinfetante consegue interromper os ciclos de micro-organismos prejudiciais às plantas. Uma novidade colocada nos campos brasileiros pela Tech Desinfecção, uma pequena empresa do interior de São Paulo, que pretende ganhar mercado com a nova tecnologia. “É biodegradável e não deixa resíduos no solo, tampouco nos alimentos”, explica o diretor técnico e um dos sócios da empresa, Carlos Henrique Christo. Ele acredita que o uso do defensivo natural possa se estender a outros tipos de culturas, o que tem consumido seus esforços. “Temos vários laudos que comprovam sua eficiência em hortifrútis, bem como na produção de grãos”, diz o diretor.
De acordo com a empresa, o fato de poder ser diluído em água barateia a sua aplicação em comparação com defensivos. “Em alguns casos, a aplicação do coadjuvante chega a ser 60% mais barata do que os defensivos convencionais”, pondera o diretor financeiro e também sócio da Tech, Camilo dos Santos. Uma economia que o produtor de morangos Spinassi garante já ter registrado. “Hoje meu gasto com proteção ao cultivo caiu 50%”, estima o produtor, que já utiliza o coadjuvante em toda sua área e aponta o produto como uma alternativa ao cultivo orgânico.
De posse de um produto que parece ser competitivo no mercado, a Tech se prepara para entrar numa verdadeira briga de cachorros grandes. Com o coadjuvante vendido em pequena escala e apenas para alguns nichos de mercado, elas ainda não entrou no radar das grandes multinacionais do setor. Mas isso pode mudar em breve. “Por enquanto nós apenas comercializamos o produto. Mas investimos R$ 4 milhões em uma fabrica em Cotia e a partir de 2010 iremos produzir. Além disso, houve uma mudança na legislação que permite o registro do produto como aditivo para produção orgânica.
Com isso poderemos ampliar nosso mercado de atuação”, explica Camilo, que pretende, em um ano, dobrar o faturamento da empresa, que hoje é de R$ 5 milhões ao ano. “O agronegócio tem um grande potencial e estamos nos preparando para entrar com força nesse segmento”, analisa o investidor.
Contudo, o caminho não será fácil. O Ministério da Agricultura tem sido extremamente rigoroso quando o assunto é registro de novos produtores. O fato de um defensivo funcionar bem em morangos não garante o registro para outras frutas. Para cada alimento, é necessário um novo estudo. “São processos lentos, mas temos certeza de que valerão a pena”, diz o empresário.
Na defesa da rentabilidade
Quais são os prós e os contras do produto que pretende ser uma alternativa aos defensivos agrícolas