Há algum tempo, quando produtores rurais e técnicos ligados ao agronegócio reuniam-se para trocar informações e experiências a respeito do manejo de pragas nas principais regiões agrícolas brasileiras, a única estratégia pautada era o controle químico.

Quase nenhuma importância era dada ao controle biológico aplicado, e pouco era comentado sobre o uso prático de agentes benéficos na agricultura. Para muitos influenciadores, esse assunto estava restrito às referências teóricas, geralmente debatidas em ambientes acadêmicos durante sessões em simpósios e congressos científicos.

Hoje, o cenário mudou e a indústria tem se mobilizado para alavancar a distribuição de insumos biológicos em diversos países. No final de outubro, um evento realizado anualmente na Suíça, Annual Biocontrol Industry Meeting (ABIM), reuniu especialistas vindos de 48 países e cerca de 900 pessoas que desenvolvem soluções biológicas para o manejo de pragas e doenças de plantas.

De acordo com a comissão organizadora da ABIM, esse foi o maior público dos últimos 10 anos. Da mesma forma, entre os dias 15 e 17 de novembro aconteceu em Campinas/SP o Biocontrol LATAM, evento que atraiu um público bastante expressivo interessado na evolução do mercado latino-americano de biológicos.

Em ambas conferências, além da abordagem técnica e científica, profissionais ligados ao setor apresentaram suas experiências sobre o uso prático de macrobiológicos (predadores e microvespas) e microbiológicos (bactérias, fungos e vírus), confirmando a tendência mundial de aceitação e o interesse dos agricultores pela adoção de tecnologias sustentáveis e baixo impacto socioambiental.

Toda essa movimentação tem levado à expectativa de crescimento anual do setor na ordem de 15%, cinco vezes superior à estimativa para o aumento de vendas de agroquímicos no país, guardadas as devidas proporções.

Para que o emprego de agentes biológicos apresente eficiência satisfatória em campo, é fundamental que o gatilho para a aplicação seja acionado no momento correto, ou seja, no início da infestação da praga-alvo. Em um futuro próximo, o uso de dispositivos eletrônicos, desenvolvidos por empresas de tecnologia da informação, associadas a pesquisadores e técnicos ligados ao agronegócio, possibilitará realizar diversas tarefas simultaneamente, de maneira rápida e assertiva.

O acompanhamento remoto da chegada da praga à lavoura, bem como o seu desenvolvimento e crescimento populacional por meio de armadilhas inteligentes, é um caminho que já está sendo projetado e deve chegar ao mercado muito em breve.

Aliado a esta tecnologia de ponta, a aplicação de predadores e microvespas com o uso de veículos aéreos não tripulados (drones) impulsionará a distribuição destes inimigos naturais em grandes áreas de produção agrícola, ampliando o potencial de absorção que antes era restrito às pequenas áreas, principalmente devido ao método tradicional de liberação manual.

No caso dos microbiológicos, especialmente os fungos, o uso de sensores de umidade deverá indicar o momento certo para recomendação e pulverização destes biológicos, já que os mesmos são extremamente dependentes da umidade do ambiente e do microclima para esporular e atacar o alvo.

Vale ressaltar que neste momento, todas estas novas tecnologias cibernéticas estão em fase de adaptação e aperfeiçoamento para atuar no ambiente agrícola, que ainda é pouco conhecido por grande parte de seus desenvolvedores. Porém, isso não afeta o potencial de sucesso futuro, desde que todos os riscos e desafios sejam devidamente mensurados e não negligenciados.

O ganho de produtividade a partir do sucesso do manejo de pragas é resultado de uma série de atividades que devem ser estruturadas e executadas de forma integrada. Definitivamente a revolução 4.0 está chegando ao campo e o controle biológico encontra um terreno fértil para que na esteira da agricultura de precisão ocupe seu devido espaço nas grandes áreas agricultáveis do país.