18/02/2013 - 14:40
A linguagem financeira no Brasil está ganhando um novo idioma: o árabe. O agricultor que ainda não ouviu falar em crédito sharia, linha salam, contratos wakala e murabaha, vai entender o que significam esses termos se financiar a sua safra no banco de investimento islâmico Abu Dhabi Equity Partners (Adep), com sede nos Emirados Árabes Unidos. No final do ano passado, o banco começou a oferecer dois produtos no País: financiamento de commodities agrícolas e o de alimentos, tudo de acordo com os preceitos religiosos dos países islâmicos do Oriente Médio.
No caso da carne bovina, para ser halal (permitida para consumo), o abate do animal deve ser feito por um muçulmano. É proibido, por exemplo, o consumo de produtos de origem agrícola modificados geneticamente. Segundo o empresário Muneef Tarmoom, um dos sócios do Adep, os financiamentos podem ser quitados com produtos, como carne, etanol, açúcar e grãos, com prazos de três a seis meses após a colheita. A negociação é semelhante à CPR física oferecida por bancos nacionais. “Mas a Adep consegue gerar rendimentos até dez vezes maiores”, afirma Tarmoom. “Os investidores do Golfo buscam retornos ajustados ao risco, em contratos de curto prazo, como são os de safras agrícolas.”
Os financiamentos do Adep são uma combinação de contratos de representação que permitem aos investidores comprar e obter a titularidade de um produto que tem liquidez no mercado, e que é segurado, armazenado e inspecionado por uma empresa global de monitoramento. São parceiros do banco a assessoria jurídica global White & Case, o australiano Macquarie Bank, para a proteção de preços, o alemão Deutsche Bank, para custódia e caução, a Khalij Islamic, uma consultoria em leis sharia, de Dubai, e a holandesa Control Union Group, para monitoramento e inspeção dos produtos. Todos os parceiros contam com escritórios no Brasil. No primeiro semestre deste ano, o banco acredita ser possível emprestar a produtores brasileiros mais de US$ 100 milhões. No mês passado, foi celebrado o primeiro contrato do País, com uma usina de etanol, em Mato Grosso do Sul. O negócio ainda é mantido em sigilo, mas, no mercado financeiro, transações como essa costumam ficar entre US$ 5 milhões e US$ 25 milhões.