Na safra 2010/2011, o Brasil produziu 1,4 milhão de toneladas de algodão e a previsão do Ministério da Agricultura é de que o volume salte para 2,4 milhões no fim desta década. Assim como ocorre com culturas como a soja, o algodão, que voltou a ser um bom negócio no campo, também é alvo de duas exigências cada vez mais presentes nos contratos de compra e venda: não ser transgênico e estar livre da presença de defensivos agrícolas. Para responder a essas questões, a Venbion, empresa paulista de biotecnologia, apresentou recentemente uma ferramenta inédita para auxiliar os produtores e institutos de pesquisas na detecção de sementes geneticamente modificadas, evitando que estas se misturem às convencionais. “O algodão é uma das culturas em que mais se aplicam defensivos no mundo por causa da quantidade de pragas que o atacam”, diz Frederico Rocha, um dos sócios da Venbion. Segundo ele, na contramão dos transgênicos, os europeus procuram por algodão orgânico, um nicho de mercado disposto a pagar até três vezes mais por um produto livre. “Neste caso, o monitoramento incorreto dessa cultura pode implicar acordos comerciais quebrados, principalmente em países nos quais há um grau de exigência elevado”, afirma.

 

Frederico Rocha:

“Por meio da análise dos genes é possível detectar a presença de transgênicos mais facilmente”

 

 

 

Em parceria com o laboratório do Instituto Matogrossense de Algodão (IMA), de Primavera do Leste (MT), a Venbion criou um kit de Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR, na sigla em inglês). O método consiste em extrair o material genético da célula, ou seja, o DNA do algodão. Depois de extraído, o DNA é adicionado a uma mistura química e colocado na máquina de PCR. “Por meio da análise dos genes é possível detectar as sementes transgênicas de uma maneira mais fácil”, afirma Rocha. A leitura do DNA é o resultado de três anos de pesquisas, nas quais foram investidos R$ 2,5 milhões. A versão comercial do kit de PCR chegará ao mercado em 2012. “Hoje, a análise do DN A é realizada por meio de tiras imunocromatográficas, um método mais caro que o PCR”, diz Leonardo Bitencourt Scoz, pesquisador em biologia molecular do IMA. “Com a metodologia por PCR, o custo poderá ser até 85% mais baixo”, diz Scoz.

O QUE VEM POR AÍ

Cultura do Algodão

Projeto da Venbion em parceria com o IMA

Investimento: R$ 2,5 milhões

Criação: Kit de Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR, sigla em inglês)

Objetivo: identificar sementes transgênicas da cultura do algodão e variedades resistentes à praga do bicudo (Anthonomus grandis)

Outro projeto que a Venbion e o IMA estão desenvolvendo é a pesquisa de variedades resistentes à principal praga do algodão, o bicudo. Atualmente, a praga é responsável por perdas de até 40% da produção nas lavouras atacadas. “Queremos encontrar uma tecnologia que seja simples, para beneficiar o produtor”, afirma Rocha. No País, somente a Embrapa Algodão, em Campina Grande (PB), tem pesquisas adiantadas sobre o bicudo.

 

Eucalipto a jato

Um segundo estudo da Venbion, ainda embrionário, é o sequenciamento e o mapeamento genético do eucalipto, matéria-prima de celulose, papel, chapas de madeira, aglomerados e carvão vegetal. A intenção dos pesquisadores é desenvolver uma variedade de eucalipto que seja mais facilmente reproduzida no campo e gere menos material poluente no processo industrial. “Queremos também encontrar uma espécie que alcance o ponto de corte em menos tempo possível”, diz Rocha. Hoje, o eucalipto leva até sete anos para atingir o ponto de corte. Os primeiros testes de campo mostraram que o eucalipto geneticamente modificado é capaz de atingir o padrão de corte com apenas quatro anos. O projeto de pesquisa está orçado em R$ 5 milhões e já está sendo negociado com uma grande empresa do setor.