01/08/2011 - 0:00
Quando chegaram ao Brasil, há 130 anos, os irmãos italianos Antonio e Giuseppe Perini se instalaram em Farroupilha, na região nordeste do Rio Grande do Sul, em uma área onde começaram o plantio de uvas e a fabricação de vinhos, embrião do que é hoje a vinícola Perini. Na bagagem, trouxeram uma imagem do Santo Anjo da Guarda, que, para eles, abençoaria as plantações e daria um sabor especial às uvas nascidas ali.
Mais de um século depois, o sistema de “proteção divina” dos vinhedos da Perini agora conta com uma mãozinha da tecnologia, embora a imagem do santo protetor continue por lá. Tratase de um sistema de rastreabilidade completo, desenvolvido pelo gerente de TI da Perini, Gustavo Ravanello, e pelo enólogo Leandro Santini, em parceria com a Datasul, empresa catarinense de desenvolvimento de sistemas e softwares. “Antes disso, tínhamos um controle feito de forma manual, muito demorado e pouco eficiente, que dificultava o trabalho”, diz Benildo Perini, neto de Giuseppe e presidente da vinícola.
O sistema de rastreabilidade foi implantado no final de 2009 e se estendeu para toda a safra em 2010. Neste ano, a empresa deve processar 13,2 milhões de quilos de uvas, já com a nova tecnologia. Desse total, aproximadamente 11%, cerca de 1,6 milhão de quilos, vêm dos vinhedos próprios, sendo 80 hectares cultivados em Farroupilha e 12 hectares na vizinha Garibaldi. Os outros 11,6 milhões de quilos de uva são fornecidos por cerca de 400 produtores da Serra Gaúcha. Graças ao software, hoje é possível comparar o rendimento de cada um dos vinhedos e analisar, por exemplo, quais são os tipos de poda mais eficazes e também o tempo exato de fermentação de cada variedade de uva.
Tradição: Benildo Perini, presidente da vinícola, pretende processar 13,2 milhões de quilos de uva com a tecnologia
A tecnologia garante o controle de todas as etapas de produção dos vinhos, desde o plantio até a chegada ao varejo, passando pelo desenvolvimento dos parreirais, pelos tratamentos fitossanitários e pela moagem. “A partir de agora, os códigos numerados das garrafas são a garantia para o consumidor de que a história daquele produto está toda registrada e controlada pela Perini”, afirma Ravanello. Segundo o executivo, no futuro, a rastreabilidade será certificada por uma empresa ou instituto habilitado para essa função.“Será um passo a mais na segurança do produto final.”
A Perini investiu R$ 700 mil no desenvolvimento do sistema. “A nossa rastreabilidade confere transparência à vinícola e nos leva a uma melhora diária na elaboração de vinhos, espumantes e suco de uva”, diz Santini. Na prática, a implantação do sistema permitiu, também, organizar melhor a administração da empresa e o controle de produção dos cerca de 80 itens do seu portfólio. “A rastreabilidade nos permite também gerenciar melhor os custos, além do processo produtivo”, diz Perini. Algo que, no médio prazo, pode significar a redução desses custos.
O investimento da Perini ocorre em um momento em que o mercado de vinhos, espumantes e derivados está aquecido. Segundo o Instituto Brasileiro do Vinho, o comércio de vinhos de mesa, que fechou 2010 com 75,7 milhões de litros vendidos, já alcançou 81,4 milhões de litros no período de janeiro a maio deste ano, representando um aumento de 7,5%. “A demanda interna de vinho vem crescendo e os consumidores buscam cada vez mais qualidade e segurança”, diz Franco Perini, diretor da vinícola.
No ano passado, quando o programa começou a ser utilizado, a Perini registrou aumento de 23,5% de sua receita, se comparado a 2009. A comercialização dos rótulos de espumantes Perini e Casa Perini foi responsável por 30% desse aumento, enquanto a linha de vinhos Jota Pe abocanhou 20,7% e a linha Casa Perini, 11%. Além disso, as vendas de sucos de uva cresceram 40%. Para este ano, a estimativa da empresa é crescer mais 20%, de forma global. “Triplicamos nossa receita nos últimos cinco anos”, diz Franco Perini, sem, no entanto, revelar o valor do faturamento da vinícola.
Tecnologia: Leandro Santini (à esq.) e Gustavo Ravanello usam um software para medir o rendimento de cada vinhedo
Rastreamento: controle em todas as etapas da produção