Não importa se é dia ou se é noite, a colmeia não para. Milhares de abelhas operárias trabalham para alimentar a rainha e gerar estoques de mel. O zunzunzum que elas fazem é capaz de hipnotizar quem quer que ouse se aproximar. Talvez esse ritmo enlouquecido e a organização minuciosa dos insetos tenham atraído o empresário José Henrique Faraldo para a produção de mel, há 23 anos. Ainda adolescente, ele decidiu apostar numa pequena produção em Botucatu (SP). Pouco depois, abandonou o campo e abriu sua primeira loja para venda de mel, que tinha nove metros quadrados e já levava o nome A Realeira. “Tinha 17 anos e me emancipei para abrir a loja”, conta Faraldo que aos 41 anos comanda a empresa que no ano passado processou 2.400 toneladas do produto, cuja exportação rendeu R$ 14 milhões e deve crescer entre 15 e 20% nos próximos cinco anos. “Cerca de 72% do que produzimos tem origem orgânica”, explica o empresário, que também está à frente da Acellera, empresa que comercializa quadriciclos, jet skis e motores para barcos, além do mais novo empreendimento: o primeiro shopping da cidade, batizado de Pátio Botucatu, cuja inauguração está prevista para 2012.

Em meio a tantos projetos, ele não descuida de sua mais doce paixão: o mel. A empresa tem unidades no Piauí, Ceará e Maranhão, onde também são processados própolis, cera, geleia real, pólen desidratado, castanha do Brasil, castanha- de-caju e amendoim. “Esses produtos ainda são produzidos em pequenas quantidades, nosso carro- chefe é o mel.” Hoje, a Realeira exporta para 15 países, com destaque para os Estados Unidos, responsáveis pela compra de 50% do que a empresa vende lá fora. O restante vai para a Europa. “Cerca de 80% do que exportamos vai direto para a mesa do consumidor. O resto é usado na indústria de alimentos e cosméticos”, conta Faraldo. Segundo dados do Sebrae, de janeiro a agosto deste ano, foram exportados 13,84 mil toneladas do produto, que geraram receita de US$ 39,79 milhões. Para Constantino Zara Filho, presidente da Associação Paulista de Apicultores, é preciso investir no consumo interno, já que as exportações vêm sendo prejudicadas por conta do dólar desvalorizado. Além disso, ele explica que o Brasil tem potencial para produzir 200 mil toneladas de mel por ano, mas só produz 40 mil . “Se melhorarmos nossa produtividade, conseguiremos atender ao mercado interno e externo”.

Essa oscilação na oferta gerou uma leve alta nos preços da safra nos últimos anos. Os irmãos Dirceu e Joel Andrade, de Itatinga, a 39 quilômetros de Botucatu, fazem parte dos cerca de 100 fornecedores da Realeira e sentiram a variação de preços. Juntos eles produzem 35 toneladas de mel de laranjeira e eucalipto por ano, em 350 caixas, cada uma com média de 40 mil abelhas. Eles contam que o mercado melhorou e o balde de mel de eucalipto, de 25 quilos, vendido a R$ 55 em 2007, chegou aos R$ 90 em 2009. O balde com o mel de laranjeira, sai por cerca de R$ 100. “Vendemos o tambor de 290 quilos por R$ 1.300”, revela Dirceu. Apesar dos preços, Faraldo explica que o gargalo está na falta de produtos de qualidade, somados ao alto custo de produção. “O Brasil é um dos únicos países que exporta mel processado, o que encarece o produto, mas garante a qualidade”, revela. Mesmo com os desafios, o setor conta com a vantagem de produzir muitas variedades o ano todo. Além disso, a China, grande produtora, está aumentando seu consumo interno e a tendência é que ela diminua as exportações. “Teremos de atender a essa demanda deixada por eles”, calcula Faraldo.