01/11/2009 - 0:00
Sem aditivo: com produto orgânico, empresa consegue atingir os principais mercados consumidores de mel
O empresário Paulo Levy é o que se pode chamar de uma pessoa persistente. Em 1994 ele figurava como um dos principais produtores de mel do Brasil. Sua marca, a Apilevy, conquistava o mercado e estava presente nas prateleiras dos principais redes varejistas do País. Mas o negócio que parecia ir de vento em popa acabou naufragando depois que a Argentina passou a exportar seu mel para o Brasil e jogou os preços do produto para baixo. Sem ter como competir com os “hermanos”, Levy se viu obrigado a retirar sua marca de circulação. Mas o episódio, que poderia ter encerrado sua carreira empresarial, na verdade serviu de estímulo para que ele iniciasse o que viria a ser seu grande projeto. Diante da crescente demanda mundial por mel de qualidade, com países dispostos a pagar mais caro por um produto certificado, o empresário criou a empresa Cearapi, localizada na cidade de Crato (CE), e resolveu investir na produção de mel orgânico. A aposta deu certo e, passados 11 anos oferecendo um produto diferenciado, hoje a companhia é a maior exportadora de mel orgânico do Brasil, com um volume anual de duas mil toneladas e faturamento de US$ 4 milhões. “Conseguimos atender aos mercados mais exigentes, temos o reconhecimento e a confiança desses clientes”, revela Levy, o persistente, que hoje preside a empresa e conta com mais três sócios.
Lucro Farto: empresa fatura US$ 4 milhões com exportações de mel orgânico
Formado em zootecnia, o empresário aprendeu os macetes da apicultura em longas viagens pela Europa. Com o conhecimento adquirido, passou a percorrer o País em busca de regiões onde fosse possível produzir mel não apenas de alta qualidade, mas que tivesse volume para atender às exportações.
Foi assim que ele encontrou a Chapada do Araripe. Nesse lugar que cobre boa parte do sul cearense existe uma vegetação singular, capaz de manter-se verde e florida, mesmo sofrendo com períodos de estiagem que chegam a durar seis meses. É lá que cresce uma planta conhecida como cipó-uva, da qual as abelhas retiram um dos méis mais nobres do mundo, comparado aos produzidos em países como o Iêmen – neste país se obtém um tipo raro de mel, cujo preço alcança 50 euros o litro e que ostenta a fama de ser um dos financiadores da organização terrorista Al-Qaeda. “Hoje nenhum país tem condições de produzir um mel da qualidade do brasileiro e com o volume que podemos produzir. A verdade é que está faltando mel no mundo e nós estamos prontos para atender a essa demanda”, anima-se Levy.
De fato, a apicultura brasileira passa por um bom momento. Depois de sofrer com embargos da União Europeia, o produto hoje é visto com bons olhos no Exterior. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 2008 o Brasil exportou cerca de 18 mil toneladas, crescimento de 30% em relação ao último ano. Só no primeiro semestre de 2009, as vendas já passaram de 21 mil toneladas. Um mercado que movimenta por ano cerca de US$ 52 milhões. Segundo o presidente da Confederação Brasileira de Apicultura, José Correia, a razão do crescimento se deve às características do produto nacional. “Produzimos naturalmente o mel ecológico. Nossas abelhas são rústicas, africanizadas, dispensam o uso de antibióticos, de acaricidas e pesticidas que afetam a qualidade do mel com a presença de resíduos. O Brasil tem uma situação única no mundo”, afirma.
No caso da Cearapi, para garantir a qualidade do produto e atender às exigências do mercado europeu, toda a produção, que vem de 1.300 apicultores integrados, espalhados por todo o Nordeste, é certificada pelo Instituto Biodinâmico (IBD). Número de colmeias, localização, tipo de vegetação, entre outros aspectos são rastreados e monitorados por GPS e qualquer uso de medicamento é proibido. Além disso, os apicultores são vistoriados e o sistema de produção é acompanhado.
2 mil toneladas: é o volume de mel que a Cearapi exporta por ano
Outro aspecto importante é que os apicultores precisam estar localizados a mais de três quilômetros de qualquer área com produção agrícola convencional, explica o diretor-técnico e um dos sócios da Cearapi, Aglayrton Câmara Souza. Para verificar se todas as exigências foram cumpridas, todas as 22 toneladas que são entregues diariamente na fábrica da empresa ainda passam por uma rigorosa análise de laboratório para medir o teor de fumaça, a coloração, densidade e inexistência de resíduos.
Rastreabilidade: todas as colmeias são mapeadas por GPS e não podem ficar próximas de lavouras que utilizem agrotóxicos
Para o apicultor, a vantagem é o preço recebido pelo produto, que pode chegar a 20% acima do de mercado. “Como produzimos um produto diferenciado, nós conquistamos preços diferenciados e parte disso é repassado aos apicultores integrados”, diz o diretor-financeiro e também sócio da Cearapi, Edvaldo Sá. Para se ter ideia, enquanto o preço médio nacional do mel exportado é de US$ 2,49 o quilo, os preços recebidos pela Cearapi são de US$ 2,91. “Mesmo em um momento de crise, com embarques reduzidos, nós conseguimos manter um bom volume”, conta.
Com o mercado externo bem consolidado, a empresa se prepara para expandir sua participação também no mercado interno e até o final do ano deve iniciar a comercialização de uma marca própria. “Será um produto premium. Destinaremos 1% da produção do nosso melhor mel para o mercado interno. O produto não será vendido em grandes redes e sim em casas especializadas e pela internet”, conta a diretora administrativa e esposa de Paulo, Ana Carolina Levy. Para Levy, que de uma marca falida conseguiu se tornar um dos grandes exportadores do País, o mel é, sem dúvida, um doce negócio.