01/12/2011 - 0:00
Quando os imigrantes alemães Ernst, Franz e Max Neugebauer chegaram ao Brasil, em 1887, trouxeram na bagagem o sonho de prosperar no País. Em Porto Alegre, onde se estabeleceram, eles fizeram história ao construir a primeira fábrica de chocolates do Brasil. Em 1981, a empresa, notabilizada por patrocinar um programa de auditório, no rádio, O Clube do Guri, que revelou a cantora Elis Regina, foi vendida e o dinheiro dividido entre os herdeiros da família. A tradição chocolateira dos Neugebauer poderia ter se encerrado ali. Um ano depois, porém, um dos herdeiros, Ernesto Harald Neugebauer – ao lado dos filhos Ernesto Ary e Werner – fundou a Harald. “O chocolate está no nosso sangue, como um sobrenome”, diz Neugebauer, presidente da Harald. Seis anos depois da inauguração da fábrica, a Harald deu início às exportações para 35 países, entre eles os Emirados Árabes. A segunda mudança radical na vida dos Neugebauer foi sair do Rio Grande do Sul e transferir-se para São Paulo. A mudança aconteceu em 1994 e não poderia ter sido mais acertada. Hoje, a Harald produz 70 mil toneladas de chocolate por ano e a expectativa é chegar a 100 mil toneladas, em 2012. Ela está entre as maiores fabricantes de chocolate do mundo, disputando o mercado com a Cargill, a Garoto e a Nestlé. A Harald, que não concorre no mercado consumidor final, produz chocolates para grandes empresas do setor de alimentação, como a Bauducco, a Kibon e o McDonald’s. Além das vendas para mais de 7,5 mil fabricantes de biscoitos, panificação, sorvetes e confeitaria. Do portfólio da empresa constam mais de 100 produtos, entre eles, o cereal coberto com chocolate, gotas de chocolate, granulados, cobertura líquida e pó de cacau. “Somos a maior empresa do País no mercado de coberturas de chocolate”, afirma Neugebauer.
Para atender à demanda crescente dos últimos anos, a empresa investiu R$ 70 milhões na compra de novos equipamentos para a fábrica que mantém, em Santana do Parnaíba (SP), e na construção de uma unidade de distribuição em Jundiaí (SP). Em 2011, a Harald faturou R$ 440 milhões e quer alcançar R$ 500 milhões, no próximo ano. Da receita deste ano, as vendas externas foram responsáveis por uma fatia pequena, de R$ 26,4 milhões. “Apesar de pouco relevantes, não queremos abandonar as exportações”, diz Jacob Cremasco, diretor-comercial da Harald. “É estratégico manter um pé lá fora.” Assim como a grande maioria das empresas brasileiras, a atual aposta da Harald é no mercado interno. “Com mais dinheiro nas mãos, as pessoas passam a querer novos produtos e a exigir melhor qualidade”, diz Cremasco.
INVESTIMENTOS: “Queremos valorizar o produto nacional”, diz Neugebauer.
Para não perder o espaço já conquistado, a Harald decidiu agregar valor aos seus produtos e começou pela matéria- prima. A empresa compra 20 mil toneladas de amêndoas de cacau por ano. Até 2009, a Harald importava a maior parte dessas amêndoas de cacau de países como República Dominicana, Equador, Gana, Madagascar e Venezuela. Mas, pensando na criação de uma identidade para os chocolates industriais que fabrica, a Harald deu início às parcerias com produtores de cacau do Norte e Nordeste do País. “Criamos uma linha de produtos gourmet, com selo de procedência da matéria-prima.” A linha de chocolates Gourmet Melken Unique é formada por nove produtos. Ele diz que é possível pensar em chocolates mais sofisticados a partir do cacau produzido no País.
A Harald em números
2011
Produção: 70 mil toneladas
Receita : R$ 440 milhões
2012*
Produção: 100 mil toneladas
Receita : R$ 500 milhões
“Precisamos trabalhar o conceito de qualidade nacional”, diz Neugebauer. “Meu sonho é ver o chocolate brasileiro tão reconhecido quanto o belga.” Segundo ele, o País sempre teve esse tipo de matéria-prima para a fabricação de um chocolate especial. Somente agora, porém, as indústrias brasileiras começam a dar maior importância ao que se produz em regiões como o sul da Bahia. Até a década de 1980, o Brasil esteve no topo do ranking dos maiores produtores de cacau no mundo, com safra de 400 mil toneladas por ano.
Cremasco aponta o crescimento de consumo no mercado interno de chocolate
Para resgatar a identidade dos produtos nacionais, a Harald escolheu Ilhéus, município baiano, que já foi símbolo da produção cacaueira no País, traduzida em muitas obras do escritor Jorge Amado. Um dos fornecedores de amêndoas dessa região é João Tavares. “Fornecemos 15 mil quilos de amêndoas especiais para a Harald”, diz. Tavares foi escolhido a dedo para a parceria: sua lavoura conquistou, pelo segundo ano consecutivo, o prêmio de melhor amêndoa de cacau da América do Sul do International Cocoa Awards, durante o Salão do Chocolate, em Paris.
Além da Bahia, a Harald tem procurado parceiros no Pará. A produção do Estado é de 40 mil toneladas por ano, com municípios que vêm se destacando no cenário nacional. Atualmente, Medicilândia é o maior produtor de amêndoas de cacau do País, com 16 mil toneladas cultivadas por 130 produtores. Parte deles são fornecedores de matéria-prima para a Harald. De lá, saem as amêndoas para o chocolate Melken Unique Amazônia, com 70% de cacau, e o Melken Unique Dark Chocolate, que possui 63% cacau. “Queremos valorizar o produto nacional, dentro e fora do País”, diz Neugebauer.