Verdinha tranquila? O dólar não deve repetir 2009, quando a cotação chegou a R$ 2,50

Em tempos de turbulências internacionais, não há pesadelo pior para osprodutores agrícolas do que plantar com dólar em alta, que encarece os insumos, e colher com a cotação em baixa. A boa notícia é que os economistas consultados pela DINHEIRO RURAL não preveem surpresas desagradáveis para o câmbio nem para o preço das commodities em 2012, a menos, é claro, que exploda uma crise bancária na Europa, com estragos semelhantes aos observados em 2008. Para esse grupo de especialistas, o cenário mais provável é de leve recessão no Velho Continente, lenta recuperação nos Estados Unidos e pequena desaceleração na China. “Se tudo isso acontecer, os preços das commodities agrícolas em 2012 devem ficar um pouco mais baixos do que em 2011, mas sem queda significativa”, diz José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro.

Do lado da oferta, há sempre a possibilidade de problemas climáticos prejudicarem a safra. Até abril, as atenções estarão voltadas para a colheita no Brasil e na Argentina sem imprevistos relevantes até agora. “A recomposição na oferta mundial impede altas expressivas de preços”, diz Amaryllis Romano, sócia da Tendências Consultoria. Na segunda metade do ano, será o momento de os produtores ficarem de olho no plantio da safra no Hemisfério Norte, principalmente nos Estados Unidos. Quanto à demanda, o setor rural depende da China e da Índia, países em que não estão previstas fortes desacelerações econômicas. A crise na Europa precisa ser monitorada com atenção, é claro, mas não se vislumbra no horizonte nenhum impacto relevante no setor agrícola. “Mesmo que a economia esfrie ainda mais, os europeus não vão deixar de se alimentar”, afirma Hausknecht. “Eles podem até trocar temporariamente a carne de boi pela de frango, mas vão continuar comendo bem.”

Sem problemas na oferta e na demanda, resta aos agricultores ficar de olho na variação cambial. Quando o dólar sobe em relação às principais moedas do mundo, o preço das commodities normalmente cai e vice-versa. No Brasil, o cenário cambial não embute grandes oscilações, com a moeda americana flutuando dentro de uma banda de R$ 1,70 a R$ 1,90 (ver projeções acima). “A percepção de risco deve subir ao longo do primeiro trimestre, o que pode pressionar o dólar num primeiro momento”, diz Homero Azevedo Guizzo, economista da LCA. “Ao longo do ano, no entanto, o câmbio voltará a se valorizar.” Nenhum dos economistas consultados pela DINHEIRO RURAL prevê um quadro parecido com o de 2009, quando a crise catapultou o dólar ao patamar de R$ 2,50, pegando no contrapé empresas e agricultores que estavam sem proteção, conhecida como hedge cambial.

Em caso de súbitas turbulências geradas por uma ruptura econômica ou política na Europa, pode haver um descasamento entre os preços das commodities e a variação cambial. Nessas horas, surgem oportunidades para os agricultores. “Se o câmbio sobe mais do que as commodities, você consegue travar a operação num preço melhor”, diz Hausknecht, da MB Agro. No entanto, para quem teme um susto cambial em 2012, Amaryllis, da Tendências, deixa uma mensagem tranquilizadora. “Não prevejo um descompasso entre o custo de produção e o preço de venda dos produtos.”

Ponto de vista

Com Fábio Silveira, sócio e diretor da RC Consultores

Qual o cenário para a taxa de câmbio e commodities agrícolas em 2012?

A cotação média do dólar em 2012 deve ser de R$ 1,85. Quanto às commodities agrícolas,acredito numa queda de 15% a 20% nos preços.

O que justifica essa redução nos preços?

A crise vai gerar uma queda na demanda global e um arrefecimento dos movimentos especulativos. Quem opera no mercado financeiro fica um pouco mais assustado nessas horas em que a economia mundial vai enfraquecer e em que não há mais a possibilidade de novas expansões monetárias nos países ricos, que já operam no limite.

A China não pode garantir a demanda por commodities?

Não tem como a China segurar tudo sozinha. Num ambiente de desaceleração econômica mundial, ela vai vender para quem? A China vai tentar exportar para o Brasil e outros países que ainda conseguem crescer um pouco, mas não há milagres.

Qual a sua previsão para a safra brasileira?

Será uma safra boa. Vamos exportar com preços razoáveis, mas a rentabilidade agrícola vai piorar um pouco e o saldo da balança comercial, que depende muito das commodities, deve diminuir quase um terço, para US$ 20 bilhões.