SANTOS, DA BUNGE: “Investidores querem saber dos riscos de forma global”

 

Ao menos uma vez por ano, o holandês Ernest Ligteringen, CEO da Global Reporting Iniciative (GRI), uma organização sem fins lucrativos que desenvolve metodologias de análise de relatórios de sustentabilidade elaborados pelas empresas, deixa sua terra em visita ao Brasil. Número 1 entre as instituições do gênero no mundo, a GRI incorpora no conceito de sustentabilidade os balanços financeiros e econômicos aos sociais e ambientais. Com 4,5 mil clientes ao redor do planeta, a GRI tem 150 deles no Brasil. Destes, 23, entre os quais se incluem nomes como BRF Foods, Ambev, Carrefour, Fibria, Nestlé, Unilever e Bunge, têm alguma ligação com a produção de alimentos.“No Brasil, a previsão é de que o número de empresas do agronegócio dentro do GRI dobre no próximo ano”, diz Ligteringen.

Ligteringen: “O Brasil atrai as atenções do mundo porque se espera dele um papel de liderança”

Neste ano, a visita de Ligteringen aconteceu na primeira quinzena de novembro, oportunidade em que o executivo apresentou a metodologia da GRI traduzida para o português. Até então, os relatórios eram feitos apenas em inglês, espanhol e francês. “Hoje, o Brasil atrai as atenções do mundo porque se espera dele um papel estratégico e de liderança que começa a ganhar forma e peso por causa da sua capacidade de produção”, diz Ligteringen. Para ele, as empresas que não estiverem prontas para se mostrar sustentáveis não sobreviverão. Isso porque, acredita, no período de uma década ou duas, no máximo, o conceito de economia de mercado e o que significa o valor da produção de um País ou empresa estará totalmente mudado. “As informações que hoje estão nos relatórios de sustentabilidade, que para muita gente parece algo esotérico, coisa para especialista e sem interesse, vão se tornar cada vez mais corriqueiras nos balanços das empresas.”

Usina em Tocantins: abrangência da companhia no agronegócio aumenta a cobrança

A Bunge Brasil adota os relatórios da GRI desde 2006. “Antes, a empresa elaborava os relatórios de sustentabilidade, mas não com o atual conceito global de ação”, diz o agrônomo Michel Henrique Santos, gerente de sustentabilidade e responsável pela implantação da metodologia GRI na Bunge. Segundo Santos, a Bunge, por ter uma larga abrangência no agronegócio, está muito exposta ao público consumidor e por isso a demanda por controles cresce. A atuação da empresa vai da produção de fertilizantes à nutrição animal e bioenergia, além da produção de alimentos, setor em que atua com quase 20 marcas destinados ao consumidor final. “Quando uma empresa não está na ponta do consumo a pressão é menor”, diz Santos. “Mas, se está nas prateleiras a história muda.”

 

 

O setor de alimentos da Bunge emprega 22 mil funcionários e está presente em 83% dos municípios do País com operações diretas de compra ou venda de produtos e serviços. No ano passado, o faturamento da empresa foi de R$ 24 bilhões no País e recolheu R$ 1 bilhão em impostos. “Nós vemos sustentabilidade como sendo realmente uma forma de integrar os negócios da companhia, pensando na sua perenidade”, diz Santos. Os relatórios da GRI dão transparência a esses negócios ao mostrar as etapas da produção e como elas se entrelaçam até a prateleira dos supermercados. “Hoje, os investidores querem saber dos riscos do negócio de forma global”, diz Santos. De acordo com ele, atualmente a empresa conta com indicadores de desempenho mais precisos em todas as áreas em que atua, em comparação com cinco anos atrás. “Os relatórios também mostram as nossas fragilidades e fica mais fácil agir.” Dos 30 países onde a Bunge atua, o Brasil foi o primeiro a adotar os relatórios da GRI para medir a sustentabilidade de seus negócios. Os bons resultados obtidos fez com que a experiência começasse a ser implantada em outros mercados onde a empresa opera. “Cada um fará relatórios independentes e a intenção é que haja interação e troca de experiências”, afirma Santos.

 

Para a economista Maria Eugênia Buosi, diretora da consultoria Transforma, de São Paulo, especializada em sustentabilidade, a integração de relatórios nas empresas é uma tendência mundial e, por isso mesmo, o agronegócio deve apertar o passo para acompanhar outros setores da economia, como o de energia elétrica e comunicação. Maria Eugênia, que atuou como responsável pela análise das empresas que participam do Ethical, o primeiro fundo de investimentos responsáveis no Brasil, diz que a participação desse tipo de fundo em setores, como o de frigoríficos, tende a aumentar. “Eles vão olhar cada vez mais para a sustentabilidade de uma empresa, antes de qualquer decisão”, diz Maria Eugênia. “A consequência é que os frigoríficos deverão dar mais importância a seus relatórios globais de sustentabilidade para atender a exigências desses investidores.”