Rondônia, um Estado de apenas 237,5 mil quilómetros quadrados – superfície equivalente a um quarto da do vizinho Mato Grosso –, é um mar de pequenas propriedades rurais. Das 80 mil fazendas, cerca da metade possui áreas entre 50 e 500 hectares. A maior parte dessas fazendas se dedica à criação de gado de corte. No Estado, há 12 milhões de bovinos, para uma população de apenas 1,6 milhão de habitantes, ou seja, 7,5 animais por pessoa. Foi essa vocação para a criação de gado que levou a agropecuária Nova Vida, dos irmãos Ricardo Arantes e João Arantes Neto, em Ariquemes, município a 240 quilômetros da capital Porto Velho, a intensificar a produção de bezerros. A ideia dos irmãos, que receberam a fazenda como herança de João Arantes Júnior, em 2003, foi apostar no confinamento do gado para terem a chance de negociar o preço da arroba do boi com maior poder de barganha no frigorífico. Para ligar essas duas pontas – a produção das pequenas propriedades com a intensificação da engorda no confinamento –, os irmãos criaram um sistema de parceria com os criadores de gado da região, que elevou o faturamento anual da empresa de cerca de R$ 18 milhões até 2009 para R$ 50 milhões em 2011. “Eu me inspirei no que a Sadia fez, que é uma integração total”, diz Ricardo, o irmão que cuida da administração do gado.

Além da fazenda de Ariquemes, na qual está o coração do projeto de integração, os irmãos possuem outra fazenda em Comodoro, município em Mato Grosso, a 600 quilômetros. No total, são 120 mil hectares de terras, com um rebanho que chega a 60 mil animais na época das águas e a 40 mil animais na seca, quando falta pasto e boa parte do gado com idade próxima de dois anos é levada ao confinamento. No ano passado, foram engordados no sistema intensivo 27 mil animais. Neste ano, a previsão é de que esse número se aproxime de 30 mil animais. Ricardo tem dois planos em mente: chegar a 100 mil animais alojados nas fazendas e elevar a quantidade de animais confinados a 45 mil animais daqui a dois anos. “Para isso, temos de organizar o fluxo de entrada de bezerros na fazenda”, diz Ricardo. “Preciso de parcerias para que outros pecuaristas criem os bezerros para mim. Mas não pode ser qualquer bezerro.”

Há dez anos, a Nova Vida tem feito cruzamento industrial entre animais nelore e senepol, uma raça que nasceu da mistura de sangue de gado europeu com africano. “Eu acredito 100% no cruzamento industrial e passo a receita para a frente”, diz Ricardo. Nas parcerias que criou com pecuaristas de Rondônia, o velho e bom escambo é o sistema de pagamento: ele fornece touros ou sêmen de senepol e recebe em troca bezerros desmamados, em geral, um ano e meio depois do início do acordo. “Quem tem vaca e pode entregar mais bezerros tem mais crédito com a Nova Vida. É assim que funciona.”A transação é garantida com a emissão de Cédulas do Produtor Rural (CPRs). Hoje, 20 parceiros entregam 13 mil animais cruzados meio-sangue nelore com senepol por ano. “Mas estamos trabalhando para ter 40 parceiros e dobrar a quantidade de bezerros”, diz Ricardo. Além desses animais, a fazenda produz mais sete mil bezerros cruzados e trabalha para elevar a quantidade de fêmeas puras da raça senepol.

O rebanho de genética top serve para a produção de touros repassados dos parceiros e de fêmeas para serem vendidas a criadores de gado puro. Na fazenda, o rebanho de seleção é de mil fêmeas e de 700 machos destinados à troca por bezerros. O projeto é chegar a duas mil matrizes da raça e ter pelo menos mil touros em estoque. “Meu pai trouxe essa raça de gado para o Brasil, em 1996, e ela tem ajudado na produção de bois para o abate”, diz João. “Até agora, a raça tem crescido no Estado, na base do boca a boca. Um compra e fala para o vizinho.” Mas, no mês passado, rior ao de uma vaca comum. Cerca de 200 pessoas compareceram à fazenda para comprar os animais, entre elas o cantor e compositor Almir Sater, que também é criador de senepol, em sua fazenda no município de Maracaju, em Mato Grosso do Sul. Sater adquiriu duas fêmeas e se tornou sócio dos irmãos Arantes, ao arrematar 50% de uma das matrizes top da fazenda. A receita do leilão foi de R$ 1,6 milhão. “Para nós, tudo vale como parceria”, diz João.

As parcerias com os criadores da região servem para que a Nova Vida tenha uma espécie de banco de arrobas de boi gordo. Segundo Ricardo, a pecuária está começando a mudar em função da nova postura dos frigoríficos de também querer as parcerias com os pecuaristas que lhes garantam animais superiores para o abate. “Eu dependo do frigorífico para vender meu gado, mas o frigorífico também depende de mim para entregar grandes quantidades de animais padronizados”, afirma . Ricardo diz que acredita muito em projetos como o Swift Black, do JBS-Friboi, marca de carne premium destinada a restaurantes de alta gastronomia. Em Rondônia, o JBS opera cinco frigoríficos e seus técnicos têm participado de dias de campo promovidos pela agropecuária Nova Vida.

Segundo Eduardo Pedroso, diretor de relacionamento com o pecuarista do JBS, um departamento criado no início deste ano, a carne com valor agregado é produzida sob encomenda, como é o caso da marca Swift Black. “Estamos mapeando o País, em busca dos criadores que possam fornecer ao frigorífico animais de qualidade superior”, diz Pedroso. Nos últimos meses, ele e sua equipe vêm montando um projeto de validação desse estoque de bons animais com os maiores fornecedores de gado do JBS. “Onde esses animais estiverem, nós iremos buscá-los.”