01/03/2008 - 0:00
Candidato às prévias presidenciais do Partido Republicano, o congressista texano Ron Paul, 72 anos, é o que se pode chamar de “uma figura”. Apesar de pertencer a um partido conservador, suas idéias são extremamente libertárias e, na raiz, defendem o liberalismo puro e simples: quanto menor atuação do Estado, melhor. Mesmo aparecendo em último lugar nas pesquisas de opinião, Paul tem se destacado por suas idéias “polêmicas”. A principal delas defende que os Estados Unidos liberem a agricultura do cânhamo, ou seja, o plantio de maconha para fins industriais. Segundo Paul, a “plantinha do capeta” é capaz de produzir muito mais etanol que o milho, principal matriz energética americana para biocombustíveis. “É indefensável que o governo dos Estados Unidos impeça os agricultores americanos de cultivar esta planta”, diz o indignado republicano.
Paul sustenta que a restrição traz prejuízos aos cofres do Tio Sam. Agricultores canadenses e romenos se tornaram grandes fornecedores dessa matéria-prima, o que causa impacto na balança de pagamentos. O mais interessante é que não faltam alimentos à base de cânhamo. Entre os mais populares destacam-se o French Meadow Bakery, Hempzels, Livng Harvest, Nature’s Path e Nutiva. Afora os biscoitos turbinados, ainda há outras utilizações para a “maconha industrial”, como no setor de autopeças e roupas, que utilizam a fibra da planta. “Ao aprovar a Lei de Agricultura do Cânhamo Industrial, a Câmara dos Deputados pode ajudar os agricultores americanos e reduzir o déficit comercial sem gastar um único dólar do contribuinte”, defende. A mágica, segundo ele, está justamente num desajuste comercial que ele chama mesmo é de hipocrisia. “O que poderia ser produzido por aqui, somos obrigados a importar por causa de uma restrição sem fundamento”, completa.
O que deixa o republicano realmente indignado é o fato de que, no passado, o cânhamo pôde ser cultivado por agricultores americanos. Mas, segundo ele, a aplicação distorcida da lei de substâncias controladas proibiu o cultivo da erva. “A lei do cânhamo industrial, proposta em 2007, nos trará de volta aos tempos mais racionais em que o governo regulava a utilização da maconha, impunha suas regras, mas mostrava aos produtores que poderiam prosseguir com a cultura, como sempre foi feito”, diz em defesa de seu projeto. A bem da verdade é que, embora Paul tenha apoio de agricultores interessados em sua proposta, seu projeto já foi derrotado uma vez e agora ele tenta uma segunda investida. O texto apresentado no Congresso americano, com a identificação HR 1009, prevê a abertura de precedente para que indústrias que utilizam o cânhamo como matéria-prima façam suas encomendas com produtores locais e deixem de importar.
“É indefensável que o governo dos Estados Unidos proíba o cultivo do cânhamo para fins industriais”
RON PAUL, congressista americano defensor do “etanol de maconha”
Até agora, Paul não conseguiu eco dentro de seu partido. Mas alguns congressistas democratas já fazem coro ao discurso do libertário republicano. Ao todo, nove colegas engrossam o time de adeptos do cânhamo. Algumas entidades como a Vote Hemp (Vote Maconha), que representam agricultores de Dakota do Norte, conseguiram mobilizar outros 14 Estados que aprovaram medidas a favor do cultivo da erva, enquanto outros sete retiraram antigas barreiras que impediam projetos de pesquisas científicas. Mas analistas daquele país acreditam que o pré-candidato americano não tem como ter o apoio maciço dos agricultores, com ou sem maconha. Isso porque Paul é um defensor ferrenho do fim dos subsídios agrícolas. Para ele, se os Estados Unidos não são competitivos na produção de um produto, que comprem de outros países. Paul avalia que, no passado, houve algumas experiências interessantes tendo a planta como base. Numa delas uma grande montadora americana chegou a fabricar um carro cuja carroceria era feita à base de cânhamo.
O projeto de Paul não tem grandes chances de ser aprovado. Isso porque, segundo ele, há uma associação equivocada do cânhamo industrial com o consumo de drogas. Mas o congressista acredita que com o tempo a história deve mudar. “O Canadá consegue controlar as plantações de cânhamo e é muito severo com as liberações”, compara. Naquele país, apenas 10% dos pedidos, em média, conseguem aprovação. “Já seria um começo”, afirma.