20/09/2012 - 12:55
Nesta safra, a colheita mecanizada de cana-deaçúcar na região Centro-Sul do País, responsável pela moagem de 505 milhões de toneladas, está em 82% da lavoura plantada. Isso significa que, dos 8,1 milhões de hectares cultivados, 6,6 milhões de hectares estão sendo colhidos por máquinas, ficando o restante 1,5 milhão de hectares por conta do atrasado sistema de corte manual, feito à base de facões. No entanto, por vários motivos, máquina no campo, que deveria significar um progresso, sobretudo ao poupar dezenas de milhares de boias-frias das agruras de um trabalho desumano e insalubre, significa perda na lavoura acima dos índices registrados na época em que a colheita era apenas manual, que sempre ficaram abaixo de 5%. Entre os fatores apontados pelos produtores estão a falta de preparo do solo e equipamentos inapropriados, pouco adaptados às condições das plantações e mal manejados por operadores.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única estima em 7% as perdas da lavoura no momento da colheita. Como a produtividade está na faixa de 63 toneladas de cana por hectare, os produtores do Centro-Sul do País estão deixando no campo 28,9 milhões de toneladas de cana perdidas. Em média, cada tonelada equivale a 80 litros de etanol na bomba de combustível. Daniel Lobo, consultor de responsabilidade ambiental da Unica, afirma que nas últimas cinco safras os produtores já tiveram avanços na redução dos prejuízos com a colheita mecanizada. “Mas, com alguns cuidados, esse índice poderia ser bem menor.” Segundo a entidade, na safra 2007/2008, a perda de cana na mecanização era de 12% ou de até 15%, conforme estudos do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
O produtor rural Luis Carlos Dalben, da fazenda Agrícola Rio Claro, em Lençóis Paulista, a 290 quilômetros de São Paulo, concorda com o técnico da Unica. “Com boas práticas no manejo do canavial e das máquinas é possível perder menos”, diz ele, que até oito anos atrás deixava no campo 8% do que plantava. Hoje, as perdas em sua lavoura estão em 5%, quase iguais às registradas na velha colheita manual. Nesta safra, em oito mil hectares, mesmo com crise no setor provocada por problemas climáticos e baixa renovação dos canaviais, o produtor tira 550 mil toneladas de cana, ou seja, 68,7 toneladas por hectare.
Para reduzir as perdas no campo, Dalben tem seguido à risca a recomendação dos técnicos. Desde que começou a mecanizar a lavoura, ele vem nivelando o terreno nas áreas em que renova o canavial. “Não adianta mecanizar uma área toda desnivelada, porque isso vai fazer com que a máquina não corte a cana por igual”, diz Dalben. O segundo passo tem sido desmontar as colhedeiras e adequá-las à sua realidade no campo. Dalben mexe no sistema de marcação das linhas de colheita que, em geral, são padronizadas nas fábricas. Por fim, o produtor tem treinado a sua mão de obra e premiado os melhores operadores. Cada funcionário recebe um salário fixo e mais um adicional conforme a qualidade da colheita. Estão incluídos na avaliação itens como a manutenção da máquina e a quantidade de matéria-prima na forma de cana inteira, tocos arrancados com raízes e pedaços de cana deixados no campo, após a colheita. Do total de sua área, Dalben já mecanizou 90% e acredita que até o ano concluirá a tarefa.
Para Lobo, os prejuízos com a colheita mecanizada podem ser debitados à velocidade adotada na implantação desse sistema. Até a safra de 2007/2008, apenas 36% das áreas de cultivo no Centro-Sul eram mecanizadas. “Trocamos uma vida inteira de colheita braçal por máquinas, em apenas cinco safras”, diz Lobo. Para ele, hoje, a mecanização poderia ser mais eficiente se a tecnologia dos equipamentos fosse mais avançada – a tecnologia para a colheita da cana é o único caso no mundo em que a lavoura deve se adaptar à máquina e não o contrário. Lobo diz que esse tipo de problema pode ser um complicador nos próximos anos para o futuro da atividade, pois será preciso expandir de forma acelerada a área de cultivo de cana até 2021, sob pena de não acompanharem o crescimento da demanda. “O ideal é que na expansão de área as usinas já considerem todos os percalços da mecanização e se aprontem para resolvê-los logo de início, poupando, assim, tempo e dinheiro”, afirma Lobo.
Além dos ajustes na colheita da cana, os produtores têm outro desafio pela frente: as mecanizações do plantio. Hoje, o plantio da cana com máquinas representa apenas 54% do total, segundo dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba (SP). Como observa Marcelo Pierossi, especialista em tecnologia agroindustrial do CTC, as perdas no plantio são menores que na colheita, de apenas 3%, mas, por estarem no início do processo de produção, elas são significativas. “Em geral, as máquinas danificam as mudas no momento do plantio, comprometendo a brotação das lavouras”, diz. Plantar com equipamentos é um processo recente na cultura canavieira, que só começou a se intensificar a partir de 2009. “Isso conta por que os equipamentos precisam de mais adaptações”, diz Pierossi. Na fazenda Rio Claro, por exemplo, Dalben mecanizou 60% de seu plantio e o mesmo ato de desmontar as máquinas de colheita é repetido para as máquinas de plantio. “Não dá para usar a máquina do jeito que ela chega da fábrica”, diz Dalben.