21/12/2012 - 16:49
Na agropecuária moderna, o ganho de produtividade é uma regra. Hoje, quem não produzir mais em menos tempo, em uma área menor e com custos mais baixos está fora do jogo, seja no cultivo de grãos, de florestas, seja na criação de animais. Para o setor avícola, que abate frangos com 42 dias de vida, o senso comum é de que a fórmula da alta produtividade já foi encontrada. O Brasil é o terceiro maior produtor de aves do mundo, com quase 13 milhões de toneladas no ano passado, e o maior exportador global, com 3,3 milhões de toneladas. Mas há quem acredite que a atividade ainda não chegou ao topo, em termos de eficiência: para a americana Cobb-Vantress, empresa com sede em Arkansas e subsidiária no Brasil há 24 anos, o frango do futuro ainda não chegou às gôndolas dos supermercados. “Ele ainda está sendo concebido”, diz Jairo Arenazio, diretor-geral para a América do Sul da Cobb, com sede em Guapiaçu, município a 440 quilômetros da capital paulista. A Cobb-Vantress, que nasceu em 1916 e hoje é controlada pela Tyson Foods, grupo americano que fatura US$ 32 bilhões por ano, é a maior empresa especializada em genética avícola do mundo. “Nossa busca de todo dia é pelo frango ideal que estará na mesa do consumidor e que seja rentável para o produtor”, diz.
Na pesquisa genética, o maior desafio para aumentar a produtividade no campo tem sido a conversão alimentar. As empresas buscam por animais que comam menos ração, para produzir a mesma quantidade de carne. “A alimentação das aves, à base de milho, é o item que mais pesa no bolso do produtor”, diz Arenazio. Nos últimos anos, o melhoramento genético já tem levado as aves a comer, em média, 20 gramas a menos de ração para cada quilo de carne produzida. “Isso significa duas coisas: economia de alimentos ou aves mais pesadas para o mesmo tempo de vida.” Nos próximos dez anos, o plano da Cobb é chegar a 1,4 quilo de ração para a produção de um quilo de carne de frango – atualmente é necessário 1,7 quilo de alimento.
Somente no Brasil a Coob investe mais de R$ 70 milhões em pesquisas genéticas por ano. A empresa já identificou 50 genes diferentes nas aves, entre eles os responsáveis por comer menos, beber menor quantidade de água, gerar menos dejetos, engordar apenas nas partes de carnes nobres e ter melhor empenamento, que mostra se uma ave é saudável ou não. “Com os genes desvendados, passamos a selecionar as famílias que vão dar origem a frangos mais produtivos”, diz Arenazio.
O ganho de produtividade significa dinheiro direto na veia do produtor. Atualmente, para o abate de uma ave de 42 dias com 2,7 quilos, o gasto com alimentação pode chegar a 30% do custo de produção. “Já evoluímos muito em relação a décadas passadas”, afirma Arenazio. Nos anos 1990, eram necessários 2,5 quilos de ração para gerar um quilo de carne, com o abate dos animais aos 49 dias e peso de 2,3 quilos. Um bom exemplo de como a alimentação afeta a indústria avícola é o que ocorreu com as unidades produtoras de aves da Tyson Foods, nos Estados Unidos, que abatem hoje 2,5 bilhões de frangos por ano. A melhor conversão alimentar levou a empresa a economizar mais de US$ 7 milhões por ano, volume equivalente a 18,4 mil toneladas de ração a mais que seriam necessárias para engordar a mesma quantidade de aves na década de 1990.
Segundo o zootecnista Tadeu de Barros Cotta, especialista na área de produção de aves e professor da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais, o avanço dos últimos cinco anos coloca o Brasil em uma posição privilegiada. “Nenhum país do mundo conseguirá produzir carne de frango para competir com o Brasil”, diz Cotta. “Competimos em preço, em área para produzir e agora em genética.” Mas nem sempre foi assim. Segundo o professor Cotta, na década de 1970 a indústria avícola nacional tentou produzir genética, mas as iniciativas não vingaram e foram abandonadas. As pesquisas somente foram retomadas com mais intensidade pelas empresas a partir de 2005. “Antes, quase tudo era pensado e estudado fora do País”, diz Cotta.
A Cobb possui no Brasil seis incubatórios, dois laboratórios e nove granjas para fazer o melhoramento de suas aves.As pesquisas começam na seleção dos bisavós dos frangos que vão chegar à mesa do consumidor. A empresa busca nos Estados Unidos e na Europa mais de 70 mil bisavós machos e fêmeas, ainda pintinhos, por ano. Esses bisavós são filhos de 27 raças puras, os chamados pedigrees. Cada um desses pedigrees traz em seu genoma características diferentes. Segundo Fausto Ferraz, gerente de negócios da Cobb Brasil, ao serem cruzadas entre si são elas que dão origem a avós melhoradas. “É da composição dessas raças que vai surgir um frango com mais carne nobre, por exemplo”, diz Ferraz. Atualmente, a empresa produz 1,4 milhão de avós, dos quais 60% são fêmeas e 40% são machos. A Cobb Brasil produz 10% de todos os avós vendidos no mundo. “Comercializamos essa produção na América do Sul, sendo que o Brasil consome 85% desse total”, diz Ferraz.
São as avós que vão originar as matrizes, mães dos pintinhos de um dia, que serão vendidos para as granjas engordar e o frigorífico abater. São produzidos 23 milhões de matrizes por ano, o equivalente a 75% desse mercado no País. O Brasil produz 30 milhões de matrizes de aves por ano, sendo que a segunda maior empresa é a multinacional alemã Aviagem, em Campinas (SP), com menos de 10% do mercado local. A produção de pintinhos de um dia da Cobb é de 3,2 bilhões de unidades por ano, repassados para grandes empresas como Marfrig, Brasil Foods e até a JBS, que, desde maio, controla a marca Frangosul, que pertencia aos franceses do grupo Doux. “Cada boa avó que a Cobb produz coloca no mercado 540 toneladas de carne a cada cinco anos”, diz Ferraz.
Para Arenazio, o Brasil pode se tornar o maior produtor de aves do mundo dentro de poucos anos. “Acredito que em 2015 vamos produzir mais de 15 milhões de toneladas de carne de frango e ultrapassar a China.” Segundo Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), essa meta é factível porque a China produz pouco mais de 13 milhões de toneladas de aves e não deve alterar muito esse cenário nos próximos dois anos. “A genética pode ajudar os produtores a serem mais eficientes”, diz Turra. “De resto, estamos nas mãos do mercado.”