O filme “De volta para o futuro”, do diretor Steven Spielberg, grande sucesso de 1985, certamente marcou a infância e a adolescência de muita gente. Uma das cenas do clássico, que mais chama atenção, é
quando o cientista Emmett Brown, interpretado pelo ator americano Christopher Lloyd, utiliza lixo para abastecer seu veículo. Assim, produz uma energia tão potente que o “arremessa” para o futuro, parando
exatamente no ano de 2015. 

Coincidências à parte, as previsões do cientista Brown se confirmaram, e o que parecia ficção há 30 anos, começa a virar realidade, com a chegada do ônibus Scania Euro 6. Trata-se do primeiro veículo
de grande porte em circulação no Brasil, destinado ao transporte urbano, abastecido com biome tano, o chamado GNVerde, proveniente de dejetos de aves poedeiras e de bagaço de frutas cítricas utilizada na indústria de sucos.

A novidade foi apresentada pela Braskem, maior empresa petroquímica da América Latina, em sua unidade de Triunfo, na região metropolitana de Porto Alegre. Dona de receita líquida de R$ 41 bilhões, a companhia controlada pelo grupo Odebrecht, firmou parceria com a montadora sueca Scania, com a Companhia de Gás do Consórcio Verde Brasil, formado pelas Cooperativa Ecocitrus e a produtora de ovos Naturovos. A ideia foi importar o Scania Euro 6, desenvolvido pela montadora, que responde por 50% da frota de ônibus urbanos sueca. O Consórcio Verde Brasil responderá pela oferta do GNVerde e caberá à Sulgás distribuir o combustível, cujo projeto foi financiado pela Braskem. “O biometano é a solução para os problemas enfrentados pelas 

grandes metrópoles, como a destinação adequada aos resíduos urbanos”, afirma Silvio Munhoz, diretor de vendas da Scania. “Com o biometano, estamos transformando um grande problema em solução”.

Ainda segundo o executivo da Scania, o novo combustível, que pode ser obtido a partir do lixo residencial e comercial, por exemplo, tem ainda outra importante contribuição para a saúde pública, reduzindo a incidência de doenças respiratórias nas grandes cidades, causada pelo gás carbônico emitido pelos veículos movidos a gasolina e diesel. “O Euro 6 emite até 70% menos poluentes que um modelo semelhante, movido a combustível fóssil”, d z Munhoz. “O biometano é uma alternativa sustentável e renovável, produzindo ganhos imensuráveis para o meio ambiente”. 

A Sulgás, controlada pelo governo gaúcho e pela Petrobrás, vai distribuir o GNVerde em sua rede de 81 postos de Gás Natural Veicular. A companhia que conta atualmente com um gasoduto de 805  quilômetros de extensão, terá sua estrutura ampliada em mais 595 quilômetros, graças a um investimento  já anunciado de R$ 250 milhões. A decisão de ampliação do gasoduto só foi tomada após a
regulamentação da comercialização de gás biometano para uso residencial e veicular, aprovado no final de janeiro pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Até agora, o combustível era fornecido apenas aos associados da Ecocitrus. “Esse era nosso maior limitador” diz Roberto Tejadas, presidente da Sulgás. “Agora, continuaremos investindo para ampliar a rede de distribuição no Rio Grande do Sul”. 

Segundo Fábio Esswein, presidente da Ecocitrus, a produção atual da cooperativa é de mil metros cúbicos de GNVerde por dia. Com a regulamentação do uso do combustível, e a chegada do gasoduto até a usina de compostagem, a produção será expandida para 20 mil metros cúbicos diários, suficiente para abastecer 1,3 mil carros populares. 

“Continuaremos investindo na consgrandes trução de novos biodigestores para atender a demanda que será cada vez maior”, diz Esswein. Após as demonstrações no Rio Grande do Sul, a ideia das empresas é expandir o projeto para outros Estados. Com a chegada de um novo ônibus do mesmo modelo nos próximos meses, serão preparadas apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro, com o objetivo de mostrar os benefícios do novo combustível e assim incentivar novas parcerias.