O espanhol Alfonso Alba desembarcou há um ano no Brasil para assumir a presidência da Monsanto. Na bagagem, trouxe idéias e novos investimentos. E, até agora, vinha trabalhando em silêncio. Foi somente em meados de setembro, ou seja, um ano depois de ter chegado por aqui, que Alba falou pela primeira vez sobre os planos da Monsanto para o País. E aproveitou para, além dos planos, fazer algumas provocações contra inimigos antigos da empresa.

Alba parece ser um homem que não perde tempo. Foi rápido. Anunciou o investimento de US$ 28 milhões, que será feito nos próximos cinco anos, no desenvolvimento de um novo tipo de soja, geneticamente modificado e destinado especificamente ao plantio na América do Sul, em países como Brasil e Argentina. O novo produto alia a resistência à lagarta da soja (chamada tecnologia Bt), existente justamente nas lavouras dos dois países, à nova geração da tecnologia RR2Yield, de roundup ready, que torna a planta tolerante a herbicidas à base de glifosato. A nova soja modificada da Monsanto só pôde ser viabilizada, segundo o próprio Alba, porque o processo regulatório no País avançou e também porque a Monsanto tem a certeza de que o produtor brasileiro honrará o pagamento da propriedade intelectual. “O produtor brasileiro amadureceu e hoje reconhece o valor dos produtos que criamos justamente porque trazem benefícios financeiros”, afirma Alba, em bom português. “É certo que em muito pouco tempo metade das nossas vendas será feita de produtos com base na propriedade intelectual.” Hoje somente 20% dos produtos vendidos pela Monsanto têm os royalties pagos na compra; 80% são pagos ao final da colheita como forma de indenização, e cobrados 2% do valor da safra.

U$$ 28 MILHÕES é o volume de investimentos que será feito pela empresa nos próximos cinco anos

Além de falar sobre investimentos, Alba, que já ocupara a diretoria comercial da empresa durante seis anos, não perdeu a oportunidade de alfinetar um dos grandes algozes da Monsanto no mundo: a organização não governamental Greenpeace. “Com os produtos que estamos lançando, o Greenpeace deveria ir aos locais onde fazemos testes no campo e nos aplaudir, nos parabenizar pelos benefícios que estamos agregando à sustentabilidade do planeta e diminuindo o impacto ambiental. Ou melhor, o Greenpeace deveria se tornar sócio do nosso trabalho”, cutucou Alfonso Alba. A provocação tinha razão de ser. Há décadas o Greenpeace ataca os alimentos geneticamente modificados em laboratório da empresa norteamericana – e as reações da entidade ao grupo ficaram ainda mais provocativas no documentário The Corporation (A Corporação), dirigido por Mark Achbar e Jennifer Abbott.