Uma grande campanha nacional em favor do agronegócio está para começar e com ela a chance de mostrar ao País a importância do campo brasileiro

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues é, talvez, o maior defensor do etanol brasileiro em fóruns mundiais. No último mês, ele viajou à China acompanhando uma missão do Itamaraty e ficou particularmente feliz com as recentes consolidações no setor sucroalcooleiro.

Agora, ele se preocupa com a imagem do campo diante da sociedade e, em parceria com entidades de classe, prepara uma grande ofensiva em favor do agronegócio para mobilizar a opinião pública. Como isso será feito você confere na entrevista a seguir.

Dinheiro Rural – Começamos 2010, que é ano de eleições presidenciais. Como o sr. observa o agronegócio na agenda dos principais candidatos?

Roberto Rodrigues – Esse é um tema que tem sido muito discutido pelas entidades do setor e a conclusão a que chegamos é que há, sim, uma agenda diante daquilo que é legítimo para o campo, ou seja, um plano de governo representado pelas ações de agronegócio. Levaremos nossas questões para todos os candidatos, como a ministra Dilma e o governador de São Paulo, José Serra.

Rural – Quais os principais pontos?

Rodrigues – É o que precisamos: seguro rural funcionando para valer, a questão florestal tem que ser decidida e, de preferência, ainda neste ano. Então é apresentar um velho cenário com as cores atuais e dar competitividade, levar em consideração a negociação internacional, inclusive o acordo com a União Europeia e o Mercosul. E levar isso às autoridades, à Presidência da República, ao Parlamento e aos governadores também, porque um país com disparidades fundiárias, tecnológicas, técnicas e culturais exige diferentes tratamentos, assim como a agricultura familiar tem necessidades diferentes da agricultura empresarial, embora sejam complementares.

Rural – Mas a impressão que fica é de que há um clima desfavorável para o agronegócio. Vivemos uma fase de preconceito?

Rodrigues – Essa é a palavra que eu tenho repetido constantemente: preconceito, que é filho da ignorância. Então, nesse caso, é claramente uma ignorância porque no próprio decreto de direitos humanos, quando se diz que o agronegócio, embora seja bom, não pode oprimir os pequenos, isso é um claro preconceito.

Rural – Então o sr. não observa diferenças entre grandes e pequenos?

Rodrigues – Não há pequeno, médio e grande. O agronegócio incorpora todos, não existe essa de o agronegócio oprimir alguém que faça parte dele mesmo. Isso é de uma ignorância brutal. Não entendo por que o MDA polariza com o agronegócio, o que é um erro. Quando se vê, por exemplo, aquela ideia de que os transgênicos têm que ser fiscalizados por algum outro tipo de instituição. Nós já temos a CTNBio, o Conselho de Ministros, entidades de pesquisa como a Embrapa. Inventar mais uma instância é algo absurdo.

Rural – Como será essa campanha para “limpar a barra” do campo diante da população?

Em primeiro lugar, se o povo entender que o agricultor é indolente e inimigo do meio ambiente, nunca teremos a opinião pública a nosso favor. Então há que se mudar a visão da sociedade em relação à agricultura. Em ano de eleição, isso é muito mais complicado porque os candidatos sabem que em termos quantitativos o voto é urbano e não rural. Deve sair uma campanha institucional de peso, para mostrar a verdade sobre o agronegócio para a sociedade brasileira e lá fora também. E isso tem que ser feito com cuidado, especificado técnica e cientificamente, para eliminar definitivamente os mitos.

Rural – E qual o formato? Será veiculada na televisão, rádio, revistas?

Rodrigues – Na verdade ainda não sabemos ao certo. O que sabemos é que será contratada uma agência especializada, profissional, para desenvolver esse trabalho.

Rural – E quem pagará essa conta?

Rodrigues – Temos uma série de entidades de classe envolvidas, um grupo que ainda pode crescer. Mas são os próprios representantes do setor que, finalmente, estão se unindo porque estão vendo que não é possível trabalhar de outra forma.

Rural – O sr. acredita que uma campanha como essa pode sensibilizar os principais candidatos ao Palácio do Planalto?

Rodrigues – Seja como for, a nossa parte é mostrar o que é necessário e aí vamos ouvir as respostas de cada um dos candidatos. Vamos mostrar à sociedade e por isso é importante essa campanha institucional, para que ela (sociedade) compartilhe essa discussão conosco.

Rural – Mas esse é um caminho longo, não?

Rodrigues – Sim, claro, mas para que possamos chegar nas eleições com uma imagem verdadeira e uma postura clara, temos que começar de algum lugar. A classe C já corresponde à metade dos brasileiros. Os cientistas políticos e sociólogos brasileiros estão mostrando, por exemplo, que a classe D começa a ter importância política e temos de sensibilizar a todos, mostrar que, se o Brasil cresce, é porque o agronegócio é o grande pilar da economia.

Rural – O modelo empresarial brasileiro, com a formação de grandes grupos agrícolas, também será demonstrado como um caso de sucesso?

Rodrigues – A própria FAO vem anunciando que a demanda por alimentos até 2050 vai aumentar 70%. De onde virá isso? A demanda mundial, seja por produtos agrícolas, seja por alimentos ou combustíveis, vai ser imensa. A FAO informa também que os lugares onde essa produção pode acontecer são a África Subsaariana e a América do Sul, com o Brasil mostrando uma larga liderança. E os investimentos não acontecem só no campo. Por causa do agronegócio, há investidores interessados em setores como logística, tecnologia e energia entre muitos outros.

Rural – Então as oportunidades do campo extrapolam os limites da fazenda…

Rodrigues – Sim. O Brasil é hoje o grande desejo do mundo comercial agrícola. É um dos maiores produtores de carne do mundo, referência em agroenergia e vai crescer ainda mais. Então os investidores estão vindo para o Brasil. Se você tem em suas terras investidores japoneses, europeus ou americanos produzindo, eles vão defender a abertura de mercado na OMC, o que é do interesse deles e nosso. Eu vejo com muito bons olhos essa expectativa de abertura do Brasil. Acho, porém, que é preciso ter regras claras para que isso seja feito.

Rural – Voltando à FAO, há uma série de organismos que alertam sobre uma pseudodegradação do meio ambiente e que a conta entre produção e preservação não fecha…

Rodrigues – Essa é a ferida aberta, a grande dicotomia entre a demanda por alimentos e a preservação ambiental. Os nossos cientistas calculam um crescimento de oferta sendo 80% dele em produtividade e 20% apenas com novas áreas. E novas áreas agrícolas serão formadas fundamentalmente por pastagens. Essa questão da sustentabilidade é o grande dilema da humanidade no curto e médio prazo.

Rural – Isso é motivo de preocupação?

Rodrigues – Eu não tenho preocupação nessa área porque acho que é perfeitamente compatível você produzir muito mais sem degradar outras áreas, até por conta dos estudos e investimentos em pesquisas em órgãos como a Embrapa e CTNBio, por exemplo, aqui e no mundo todo. Não tenho dúvida de que será possível dobrar a nossa produção agrícola nos próximos 30 anos.

Rural – O agricultor poderá contar com a demanda mais aquecida este ano?

Rodrigues – A recuperação dos países emergentes produziu uma demanda crescente por alguns produtos, como carnes. Isso muda completamente o cenário porque com o câmbio a R$ 1,60 a carne tinha perdido competitividade. Mas, com a demanda crescente no mundo, os preços aumentaram. Com isso, nós estamos olhando a melhoria das exportações de carne bovina, suína e de frangos. E frangos também por uma razão adicional: a China se dispôs a comprar frango do Brasil, o que abre uma possibilidade muito grande.

Rural – Isso entra nas cotas comerciais?

Rodrigues – Isso está nos acertos finais, mas o compromisso, a decisão de comprar carne foi tomada pela China. Bom, esse cenário de carnes é muito favorável. Outra coisa que mudou da água para o vinho foi a laranja, por causa do frio inédito na Flórida, que produziu uma quebra muito grande na safra de laranja norte- americana. Isso vai refletir logo depois no preço do suco de laranja em termos globais, que ainda não chegou ao produtor de laranja brasileiro.

Rural – Mas a Bolsa de Chicago há alguns meses já estava mais alta que aqui, talvez por causa da concentração…

Rodrigues – Mas nem é só por isso, porque aqui a colheita de laranja começa agora, em março, abril. Então, a negociação não começou ainda. Agora, a expectativa que nós temos é que essa concentração perturbe o processo e que tenhamos ganhos na citricultura brasileira, já que tivemos perdas em três anos de maneira dramática por causa dessa concentração e agora não há razão para isso continuar.

Rural – Para terminar, chegamos à era das petroleiras investindo no etanol. Esse é o nosso grande momento?

Rodrigues – De novo uma boa notícia. Eu sempre disse para a Petrobras há 40 anos, desde que o Proálcool surgiu, que as petroleiras um dia se dariam conta de que seu império seria colocado em xeque. Adicionar etanol na gasolina fará o império desses grupos durar mais 30, 40 ou 50 anos. Eu penso que as petroleiras acabaram penetrando nessa consciência coletiva de que os biocombustíveis terão relevância no cenário mundial, mudando os mecanismos da política global, o que já começa a acontecer. E, agora, ninguém segura o Brasil porque de fato nós temos um país preparado para ser conduzido ao Primeiro Mundo nas asas do agronegócio. Para nós, finalmente, chegamos ao futuro.