Mario Celso Lopes Sócio da Eldorado e Florestal

A bordo de seu helicóptero, modelo Esquilo BT que ele faz questão de pilotar, o empresário Mario Celso Lopes não esconde o sorriso ao sobrevoar uma extensa floresta de eucaliptos que forma um verdadeiro tapete verde, cercado pelas margens do rio Paraná, que separa os municípios de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, e Andradina, no interior de São Paulo. Sua satisfação é fácil de entender. As árvores que crescem naquelas áreas transformaram o vendedor de terras e pecuarista, até então pouco conhecido, no homem por trás de alguns dos principais projetos do agronegócio brasileiro. O maior deles se localiza a poucos quilômetros das suas áreas de florestas e atende pelo nome de Eldorado Celulose.

“O mercado mundial de celulose está em franca expansão e nós podemos conquistar um bom pedaço”

A reportagem de DINHEIRO RURAL visitou com exclusividade o gigantesco canteiro de obras onde centenas de homens e máquinas trabalham 24 horas por dia para erguer ali o que promete ser a maior fábrica de celulose de fibra fina do mundo. Uma indústria que pretende, já no primeiro ano de operação, produzir entre 1,1 milhão e 1,2 milhão de toneladas de celulose, desbancando pesos-pesados como a Fibria, união entre Votorantim e Aracruz, e que até a sua conclusão, prevista para setembro de 2012, deve consumir investimentos da ordem de R$ 4,8 bilhões, dos quais R$ 2,5 bilhões já foram destinados à compra de equipamentos. Um arrojado projeto capitaneado por um empresário que nunca esteve no centro dos holofotes, mas que possui uma invejável habilidade para costurar parcerias e conquistar grandes sócios investidores.

Bom de bastidores, conseguiu atrair para seus projetos alguns dos principais fundos de pensão do País, como Petros e Funcef, dos funcionários da Petrobras e Caixa Econômica Federal, respectivamente.

Madeira: para garantir colheita de qualidade, o maquinário foi importado da Alemanha

Entidades nas quais as decisões não são somente técnicas, mas também políticas, o que demonstra a força do empresário. Com seu jeito simples e bom papo, ele se aproximou de nomes como Alexandre Grendene, da indústria de calçados Grendene, a J&F Holding, empresa da família Batista, controladores do frigorífico JBS Friboi, sócios de Lopes na entrada no mundo da celulose. Uma parceria que começou há dez anos, quando Lopes vendeu o antigo frigorífico do lendário pecuarista Moura Andrade, para os irmãos Batista. Na medida em que o poderio econômico de ambos aumentava, cresciam também as parcerias. “Agora teremos uma linha de produção sem igual em qualquer outro País”, promete o empresário.

 

Poucos souberam aproveitar os períodos de abundância da agricultura brasileira como Lopes. Formado em direito, o empresário “descobriu” o campo há 30 anos, quando foi trabalhar na carteira agrícola do Banco do Brasil. Logo percebeu um mundo de possibilidades e deixou a instituição para atuar na negociação de terras, comprando e vendendo áreas, principalmente na região do Centro-Oeste, até então pouco explorado. Em suas contas já negociou mais de um milhão de hectares Brasil a fora. Depois passou a investir em pecuária. Foi um dos pioneiros a trazer para o País o modelo de confinamento para criação de gado em larga escala. Hoje em sua propriedade em Campo Grande (MS), engorda cerca de 50 mil cabeças por ano. Negócios que alavancaram sua empresa, a MCL Empreendimentos, responsável por coordenar suas atividades e que hoje tem faturamento na casa dos R$ 600 milhões. “Quando comecei, a terra era barata e eu fui atrás das melhores oportunidades para crescer”, simplifica.

Enquanto ia procurando terras para adquirir e gados para engordar, Lopes foi fazendo amizades e desenvolvendo um talento ímpar para “vender” seus projetos. Foi assim quando começou a pensar em investir em áreas de florestas. Percebendo o interesse de diversos grupos, nacionais e estrangeiros, em buscar áreas para o plantio de eucalipto, o empresário ficou curioso e foi pesquisar o mercado. Descobriu uma mina de ouro. Não demorou para convencer o empresário Alexandre Grendene a investir com ele no projeto de reflorestamento. Nascia assim, em 2005, a Florágua. Uma parceria que durou dois anos e foi responsável pela construção de um dos maiores viveiros de mudas do País. Uma área de poucos mais de 30 hectares, onde são produzidos cerca de 60 milhões de mudas por ano. Com estufas equipadas com controle automatizado de temperatura e tetos retráteis, a estrutura consumiu cerca de R$ 50 milhões em investimentos e é considerada por Lopes como o embrião de todos os outros projetos. “Uma coisa foi levando a outra. Tínhamos a muda, passamos a plantar. Depois tínhamos a madeira e resolvemos beneficiar”, explica.

R$ 4,8 bilhões É o montante que deve ser investido, até a finalização da Eldorado Celulose

De fato, após dois anos de atividades, a família Batista adquiriu a parte de Alexandre Grendene na empresa e teve início a primeira grande empreitada da parceria: a criação do fundo de investimentos Florestal Participações (FIP). Um fundo privado que conta com 210 mil hectares de áreas nos Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins e que administra cerca de R$ 1,1 bilhão em recursos. O projeto logo atraiu interesse de dois dos maiores fundos do Brasil, o Petros e Funcef . Juntos os fundos aportaram R$ 550 milhões no negócio. “Nós estabelecemos um fundo fechado, com participação dos quatro sócios que possuem partes iguais. Mas no futuro, poderemos abrir para outros investidores”, explica Lopes.

 

Gado bom: o empresário mantém confinamento em Campo Grande (MS), onde engorda cerca de 50 mil cabeças por ano.

Ambições do empresário, que foge do estereótipo do executivo. Tanto que muitos dos seus negócios são iniciados em seu suntuoso rancho, localizado à beira do rio Paraná, no município de Andradina. Um lugar acostumado a receber visitantes ilustres em suas mais de 21 suítes. Os irmãos Batista são hóspedes frequentes. E foi numa dessas visitas, entre um copo de uísque escocês e um mergulho na piscina, que nasceu a ideia da Eldorado Celulose. “Eu chamei os Batista e disse que tínhamos que verticalizar. Já tínhamos a matéria-prima, agora tínhamos que ter a indústria”, analisa. Argumentos que são respaldados pelos números desse setor. De acordo com dados da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), só no primeiro semestre de 2010 a produção de celulose do País cresceu 8,3%, chegando a 8,1 milhões de toneladas. As exportações somaram US$ 2,8 bilhões, um crescimento de 40% em relação ao mesmo período de 2009. “Vivemos um momento de franca expansão. Nos próximos dez anos, a indústria de celulose do Brasil deve investir US$ 20 bilhões. A demanda mundial é crescente por esse tipo de produto”, analisa a presidente da Bracelpa, Elizabeth de Carvalhaes.

R$ 550 milhões foram aplicados pelos fundos Petros e Funcef na empresa Florestal brasil

Lopes acredita que a localização da fábrica, erguida numa região chamada de “vale dos eucaliptos” devido à aptidão para o plantio da árvore, deverá trazer um diferencial competitivo para a indústria. “Nossas áreas de plantio ficam muito próximas do rio Paraná e a poucos quilômetros da área de florestas. Assim, poderemos fazer grande parte do transporte da madeira por via fluvial, o que reduz os custos em pelo menos 40%”, ressalta. Outro diferencial é a questão da matéria-prima. A Eldorado pretende manter todo o controle da sua madeira. “Nosso plano é expandir nossa área plantada em 30 mil hectares por ano, o que garante nossas necessidades.”

Enquanto a megaindústria não começa a operar, o momento é de definições. No horizonte está a fusão das empresas Eldorado e Florestal. “Assim, teríamos uma maior sinergia nas operações.” No Florestal, são quatro sócios: J&F Holding, Petros, Funcef e o Lopes, cada um com 25% no negócio. No caso da Eldorado, a participação era dividida igualmente entre os Batista e Lopes. Mas o empresário decidiu vender 25% de suas ações para a J&F, que passa a deter 75% da nova companhia. “Foi uma forma de proteger minha participação no negócio”, explica. “As conversas estão fluindo bem e estão adiantadas”, resume o empresário, que já vislumbra a possibilidade de um IPO no futuro. “É sem dúvida uma possibilidade. Mas no momento apropriado”, diz. Assim, o vendedor de terras e pecuarista vai caminhando para se tornar o “rei das florestas”, sempre bem acompanhado e em busca de novos projetos.

 

A trajetória de Mário Celso Lopes

1980

O empresário inicia trabalho de compra e venda de terras, principalmente na região do Centro-Oeste

1998

Mario Celso passa a investir em pecuária, sendo pioneiro ao implantar um confinamento para engordar 50 mil cabeças

2005

Forma sociedade com o empresário Alexandre Grendene para investir em reflorestamento

2009

Em sociedade com os irmãos Batista, do JBS, cria fundo de investimento com base no reflorestamento e atrai os fundos Petros e Funcef

2010

Inicia as obras do parque industrial que abrigará a Eldorado Celulose – será a maior fabricante de celulose fina do mundo

2012

Previsão do início das operações da nova fábrica e início do plano de estruturação de um possível IPO

Berço dos eucaliptos

Viveiro construído em Andradina é um dos maiores do mundo e consumiu R$ 50 milhões em investimentos

O viveiro produz 60 milhões de mudas ao ano

As estufas contam com sistema automatizado de climatização e tetos retráteis, evitando perdas

A estrutura ocupa uma área de 30 hectares e produz mudas no sistema de clones