01/10/2011 - 0:00
Ainda está vivo na memória de quem cria bois o que aconteceu em 2005, ano em que foi detectado em Mato Grosso do Sul o último grande surto, no País, de febre aftosa, uma doença que ataca os cascos e a mucosa da boca dos animais. Com a doença, o gado deixa de caminhar e comer e emagrece, acarretando perdas diretas aos produtores e indiretas à economia. Muitos mercados importadores não aceitam a carne de animais de onde há a presença de vírus, por medo de que a doença chegue de carona com a carne desses animais Por isso, no mês passado, no dia 18 de setembro, quando as autoridades sanitárias do Paraguai anunciaram que havia um foco da doença no país, a pecuária brasileira entrou em estado de alerta máximo, para evitar que o problema passasse para o lado de cá. O secretário-executivo do Ministério da Agricultura do Brasil, José Carlos Vaz, tomou rapidamente algumas medidas. A primeira foi reforçar a presença do Exército na fronteira com sete mil homens e manter os médicos veterinários, zootecnistas e técnicos que compõem a força-tarefa nas barreiras sanitárias em permanente vigília. “O contingenfotos: te de fiscais ficará na fronteira pelo tempo que for necessário”, disse Vaz.
Baixar a guarda neste momento pode fazer a diferença entre ter ou não a febre aftosa no País, novamente. Somente com o Paraguai, o Brasil possui uma faixa de fronteira de 1.365 quilômetros, dos quais 437 quilômetros são de linha seca, ou seja, não há nenhuma separação natural entre os dois países, como rios, lagos ou montanhas. Nesses trechos, é comum animais passarem de um lado da fronteira para o outro, aumentando a possibilidade de contágio entre os rebanhos. Além do governo federal, os frigoríficos brasileiros também reagiram com presteza. Os grupos JBS e Minerva, ambos com unidades de abate no país vizinho, fizeram um comunicado oficial de que estavam tomando providências. O JBS, com dois frigoríficos, informou que o Paraguai representa apenas 1% de sua receita global com a venda de carne bovina e que passaria a destinar a produção deles para o mercado interno. O Minerva, com uma unidade na região, suspendeu imediatamente os abates. Enquanto isso, até o fim de setembro, os técnicos do Serviço de Qualidade e Saúde Animal do Paraguai (Senacsa) haviam sacrificado 820 bovinos de uma única propriedade, no departamento de San Pedro, distante 400 km de Assunção. O Paraguai tem um rebanho de 11 milhões de bovinos e está entre os dez maiores exportadores de carne do mundo. No ano passado, o país vendeu 170 mil toneladas, 80% para a Rússia e o Chile.
Guedes, do CNPC:
“O que aconteceu em 2005 não vai ocorrer agora. Hoje, as relações são outras”
Para Sebastião Costa Guedes, diretor de sanidade animal do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), o governo paraguaio agiu com clareza e rapidamente, com isso, dá para acreditar que o foco de aftosa seja controlado e não provoque maiores transtornos à pecuária do Brasil. “O que aconteceu em 2005 não vai ocorrer agora. Hoje, as relações são outras”, diz Guedes, uma das maiores autoridades em febre aftosa do Brasil. Ele acompanhou de perto o último surto, que penalizou Mato Grosso do Sul. Na época, houve 33 focos da doença no Estado e 30.735 animais sacrificados, sendo 29.719 bovinos, 593 ovinos e caprinos e 423 suínos.
A reintrodução da doença no rebanho nacional levou 56 países a aplicar restrições comerciais ao Brasil. Nesse período, entre os meses de outubro e dezembro de 2005, o setor deixou de faturar US$ 150 milhões por causa da suspensão das importações de carne do Estado do Mato Grosso do Sul, além do Paraná, que reconheceu a possibilidade de haver foco de febre em suas fazendas, e de São Paulo, que também estava sob suspeita. Na época, houve troca de acusações entre Brasil e Paraguai, de que o vírus poderia ter surgido do outro lado da cerca, hipótese que nunca foi confirmada oficialmente. Nos dois anos seguintes, os sul-mato-grossenses permaneceram fora do mercado de exportação de carne bovina e a estimativa é de que eles tenham perdido uma receita da ordem de US$ 1 bilhão no período.