Os atletas que participarão dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016 terão sobre a mesa de refeições uma oportunidade de ouro: saborear leite e seus derivados, como iogurte e queijos produzidos por fazendas sustentáveis. Uma parceria firmada em janeiro deste ano, entre a Dow AgroSciences, braço agrícola da multinacional americana Dow Chemical, a Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Faerj) e a Embrapa, está qualificando pequenos produtores fluminenses  para fornecer leite para a competição esportiva mais importante do mundo, no ano que vem. Montado sob o arcabouço técnico do programa “Balde Cheio”, um projeto de transferência de tecnologia coordenado pela unidade Pecuária Sudeste da Embrapa, em São Carlos, no interior paulista, a plataforma batizada “Leite Sustentável” visa aumentar a produção e a renda das propriedades leiteiras, mas sem perder de vista o respeito ao meio ambiente. “Queremos mostrar ao poder público que é possível aumentar a produção de modo sustentável e as Olimpíadas são uma excelente oportunidade para isso”, afirma Roberto Risolia, líder de Sustentabilidade da Dow AgroSciences, patrocinadora oficial das Olimpíadas.


Aula na prática: Daniel Tavares (no centro), recebe produtores vizinhos e técnicos da Faerj/Senar, para difundir tecnologias de produção

Participam do projeto 24 pequenas propriedades, localizadas nas regiões Norte e Noroeste fluminense. Em comum, entre elas, além do tamanho e da vocação pecuária, pois a topografia acentuada da região desaconselha a atividade agrícola, está a baixa produtividade das pastagens. Para ampliar  a produção de leite, a tarefa número um é a melhoria das pastagens. “Dependendo do grau de degradação, optamos pela recuperação ou pela reforma da pastagem”, afirma Risolia. Em todo o Estado do Rio de Janeiro, estima-se que até 80% dos 1,4 milhão de hectares de pastagens estejam degradados, o que equivale a 1,1 milhão de hectares. Pela parceria, a Dow fornece para as propriedades as sementes de uma braquiária híbrida que produz massa verde, tem sabor agradável e é resistente à cigarrinha das pastagens, uma praga que ataca as plantas forrageiras. A orientação aos produtores é feita pelo assessor técnico Maurício Salles, da Faerj/Senar, que vem repassando a eles noções sobre pastejo rotacionado. “Orientamos os produtores sobre a altura correta em que as vacas devem entrar e sair dos piquetes, de modo a aproveitar ao máximo a proteína da pastagem”, diz Salles. A regularização ambiental também é contemplada. “Em parceria com o Sebrae, damos suporte para que as propriedades estejam em dia com a legislação ambiental, inclusive recuperando áreas, se necessário, dentro das regras do Cadastro Ambiental Rural.” 

A expectativa é de que até o dia 5 de agosto de 2016, quando a pira olímpica for acesa no Rio de Janeiro para o início dos jogos, a produção das fazendas atinja a meta de oito mil litros de leite por dia, volume correspondente ao consumo diário esperado na Vila Olímpica,  onde serão hospedados os atletas.  Atualmente, a ordenha rende cerca de cinco mil litros por dia. A produção se juntará à de outros mil pequenos produtores fluminenses que entregam leite para a Cooperativa Agropecuária Regional de Macuco, município distante 200 quilômetros da capital, onde são processados 150 mil litros por dia. “Os dirigentes do Comitê Olímpico Internacional visitaram as instalações do laticínio e gostaram bastante do que viram”, afirma Salles. “Mas, independentemente do que aconteça, as mudanças nessas propriedades já podem ser colocadas como um legado social dos Jogos Olímpicos.” Até o fechamento desta edição de DINHEIRO RURAL, a expectativa era grande em torno da parceria, porque o acordo ainda não estava oficializado, apesar das negociações bastante avançadas. “Faltam apenas alguns detalhes”, diz Salles.

Criado em 1998, o programa “Balde Cheio” atende atualmente a três mil produtores de leite, espalhados por dez Estados. Cada uma dessas propriedades, que recebe assistência técnica da Embrapa, é considerada uma vitrine e deve se comprometer a servir de “sala de aula prática”. Para o agrônomo Arthur Chinelato, doutor em biologia e coordenador nacional do Balde Cheio, as propriedades servem de exemplo de desenvolvimento sustentável técnico, econômico, social e ambiental, para os próprios produtores e também para os técnicos de extensão rural de uma determinada região. “É um programa que busca a geração de renda, o resgate da autoestima do produtor e, consequentemente, a sua fixação no campo”, diz Chinelato.

Um bom exemplo é o Sítio Tavares, localizado em Conceição de Macabu. A propriedade, pertencente ao produtor Daniel Tavares, que já fazia parte do programa Balde Cheio, hoje integra o projeto “Leite Sustentável”. Em junho de 2009, o sítio produzia 50 litros diários de leite, em uma área de dez hectares, na qual havia nove vacas em lactação. Em junho deste ano, já  contava com 17 vacas em lactação e produzia, na mesma área, 250 litros de leite por dia. Na ponta do lápis, quando entrou no programa, sem controle das contas e infraestrutura precária, o leite deixava um prejuízo de R$ 100 por mês. Ou seja, Tavares estava comendo seu patrimônio. Hoje, esse prejuízo se converteu em um lucro mensal de R$ 2 mil. “O programa fez toda a diferença na minha atividade”, diz Tavares. “Com o Balde Cheio, a propriedade se tornou viável. ” Em relação aos Jogos Olímpicos, Tavares se mostra entusiasmado com a possibilidade de ver o leite produzido na sua fazenda estar na mesa dos grandes astros do esporte mundial. “Seria a gratificação por todo o trabalho já realizado”, diz o produtor.  É como uma medalha para quem vive do campo.