A notícia de adição de produtos proibidos ao leite das cooperativas Coopervale e Casmil, ambas de Uberaba, sul de Minas Gerais, pegou de assalto o mercado brasileiro. Isso porque o produtor vinha recebendo os melhores preços desde o ano de 2000 e superando uma crise que se estendia desde o começo desta década. O assunto ganhou as páginas dos jornais e caiu nas conversas de bares por todo o País. Paralelamente a isso, dois fenômenos vinham caminhando: aumento da oferta de leite com a proximidade da safra e redução de preço nas gôndolas dos supermercados, graças à baixa no consumo devido à explosão dos preços. Para especialistas, portanto, é preciso ter cautela ao se debruçar sobre os números que aparecerão dentro em breve. Em dezembro, começam as férias escolares. Como o leite está muito associado ao café da manhã, há uma redução no consumo até meados de fevereiro, com a volta às aulas. “É assim todos os anos”, explica a analista de mercado Cristiane de Paula, da Scot Consultoria. Portanto, para ela, uma redução no consumo, nos próximos meses, não pode ser atribuída exclusivamente ao escândalo divulgado na “Operação Ouro Branco”, da Polícia Federal.

Se haverá grandes mudanças pela frente é difícil prever. Mas a especialista acredita que, num primeiro momento, pode haver uma transferência de consumo. “As pessoas podem passar a consumir leite fresco, ou leite em pó, mas provavelmente é um fenômeno que não vai durar muito”, acredita. Isso porque o mercado de leite longa vida ocupa 75% do mercado e goza da preferência nacional. Da mesma opinião compartilha o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil), Jorge Rubez. Para ele, não há dúvida: quem faz esse tipo de adulteração tem de ir preso. “A lei existe para isso e sabemos da preocupação de produtores e das indústrias na busca de um leite de qualidade”, diz. Rubez, no entanto, acredita que algumas empresas foram demasiadamente prejudicadas. “Não houve muito tempo para defesa, de repente estava nos jornais”, avalia. Para o presidente da entidade, com o tempo e o esclarecimento dos fatos, ficará nítido que o setor não compactua com esse tipo de fraude. “Aos poucos as pessoas receberão as informações de como tudo funciona e voltarão a confiar. Além disso, está provado que a fiscalização existe e só quem é maluco se arriscaria a cometer outra fraude”, diz Rubez.

Mas nem tudo são más notícias. O mercado internacional ainda vive um momento de oferta reduzida. A Austrália, que responde por 12% das exportações mundiais, viu seu volume de exportação ser reduzido em 24%, segundo dados atualizados daquele país. Tudo graças à seca que assolou a Oceania, que ainda sofre seus reflexos. Azar de uns, sorte de outros, porque essa situação favorece os preços no Brasil. Apesar de as exportações não chegarem a 5% do total produzido no País, é inegável que haja pressão externa sobre os preços brasileiros.

JORGE RUBEZ, DA LEITE BRASIL:

“Quem cometeu adulteração tem mesmo de ser preso”

Outro reflexo da crise gerada pela ação da Polícia Federal se viu nos bastidores do mercado. O caos produzido pela desinformação e insegurança do consumidor deixou mais explícita a luta entre as grandes empresas em busca de fatias maiores de mercado. Por causa da exposição na mídia, empresas especializadas na fabricação de leite em pó, que também tiveram problemas, passaram com menos ranhuras se comparadas àquelas especializadas nos produtos longa vida. “Claro que não dá para acusar ninguém, mas com certeza esse episódio serviu para que algumas empresas tirassem suas lasquinhas dos fatos”, avalia Rubez, da Leite Brasil. Para Cristiane, é sabido que não existe muita cordialidade entre as empresas, mas em sua opinião não haverá grandes mudanças. “Mercado é assim, todos querem o melhor espaço e aproveitam as oportunidades”, avalia.