Nunca um fim de ano ficou tão longo. Pelo menos para quem depende ou trabalha na produção de milho. Havia tempo que o setor não passava por um momento tão conturbado. Isso porque o produto simplesmente sumiu do mercado e quem desejar comprar grandes quantidades terá de esperar até o fim deste mês ou meados de fevereiro. Segundo o analista de mercados Eduardo Oliveira, da consultoria Safras & Mercados, não fossem as compras antecipadas e o planejamento de consumo, algumas das maiores empresas de alimentos do País estariam passando apertado para conseguir comprar sua matéria prima. A segunda solução, que seria importar o grão, também não é viável no momento. O fornecedor natural para o Brasil seria a Argentina, mas além de aquele país também estar com uma oferta ajustada, os importadores nacionais têm medo de comprar e ver seu produto ser barrado no desembarque. Nossos vizinhos cultivam uma variedade de milho transgênico ainda não aprovado no Brasil. Quem poderia dar o aval para a compra é a CTNBio, mas uma liminar impede que o órgão se manifeste a respeito do assunto. Sendo assim, ninguém arrisca importar milho, porque corre o risco de perder dinheiro.

Em cenários de oferta reduzida, normalmente são os produtores os maiores beneficiados. Afinal, quanto maior a procura por um produto, melhores são as chances de incrementarem seus ganhos. “Mas não é bem isso o que está acontecendo”, revela Oliveira. Os preços dispararam, é verdade. Em sete de dezembro, a saca de 60 quilos estava cotada a R$ 34,54 ante R$ 25,00 no mesmo período do ano passado. A diferença de 37%, porém, não beneficia diretamente o setor produtivo. Dados da Associação Brasileira da Indústria do Milho mostram que não há grão disponível no mercado e que a atual política de distribuição está causando problemas. Mas o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, declarou que, a não ser que algum estudo aponte a necessidade de mudanças, tudo fica igual. O motivo de toda essa escassez é a anunciada falta de milho no mundo, desde que os Estados Unidos começaram a desviar parte da produção para a fabricação de etanol. Aquele país ainda limitou as exportações do grão, o que abriu um filão para novos fornecedores mundiais. O resultado é que as exportações brasileiras deram um salto. Em 2006 o Brasil embarcou apenas 3,9 milhões de toneladas, enquanto os números ainda não fechados do ano passado apontam vendas externas de dez milhões de toneladas. “Com a entrada da safra, os preços devem cair um pouco, mas estamos num novo patamar de preços”, diz Eduardo, da Safras & Mercados.

por Ibiapaba Netto