Filosofia de vida: mensagem na fazenda mostra os valores do agricultor John Jensen, que usa a tecnologia para ser mais feliz no campo: “Viva bem, ria sempre e ame muito”

Aos 3 anos de idade, o garoto Lane não tem dúvida sobre a sua futura profissão: “Vou ser fazendeiro”, sonha, enquanto move seus pequenos tratores de brinquedo sobre uma mesa na oficina da fazenda da família. Se é verdadeira a máxima que a diferença entre homens e meninos é o tamanho dos seus brinquedos, Lane tem bons motivos para querer ser agricultor. Os brinquedos de seu pai e de seu avô são versões gigantes dos seus, só que com muito mais tecnologia e força. É com imponentes tratores, colheitadeiras, caminhões e picapes, entre outros equipamentos agrícolas, que a pequena família Jensen maneja praticamente sozinha 2.700 hectares de lavouras de soja e milho em Ankeny, no Estado de Iowa, região do Meio-Oeste dos Estados Unidos. Os pais de Lane, Johnny e Linda, e seus avós, John e Karen, fazem todas as tarefas da Jensen Farms com a ajuda de apenas um empregado – por sinal, marceneiro. No escritório e no campo, são eles próprios que arregaçam as mangas e fazem de tudo, exceto na época das colheitas, quando contratam mão de obra adicional na cidade para ajudar.

“Quando eu crescer, vou ser fazendeiro”

Se no passado a agricultura familiar era árdua e espantava os jovens para as cidades, hoje o modelo americano é tão bem-sucedido que até crianças como Lane e sua irmã, Katie, são impelidas a permanecer no campo. Os dois filhos de John Jensen, Johnny e Ryan, trabalham nas fazendas do pai em dois Estados. O patriarca John, cuja família emigrou da Alemanha para trabalhar nas lavouras dos Estados Unidos no século passado, começou como empregado rural há 40 anos. “Não sou como os agricultores tradicionais. Não herdei nenhuma terra”, diz, logo ao receber DINHEIRO RURAL em sua pequena propriedade, em Ankeny. Durante décadas ele arrendou aquelas terras e dividiu o resultado da produção com a proprietária. Quando ela morreu, John arrematou a fazenda. Hoje, arrenda muitos hectares ao redor para cultivar milho (65% da produção, em média) e soja (35%). Seus tratores de US$ 300 mil cada um são financiados a perder de vista. “Não sou dono de nada”, afirma. Ele ainda guarda num galpão antigo o velho trator John Deere com o qual começou. “É nostalgia”, diz.

Brinquedão: ao custo de US$ 300 mil, um dos tratores da fazenda Jensen, em Iowa, modernizou a produção de milho e soja em 2,7 mil hectares de terras

 

No fundo, o agricultor não tem saudades dos velhos tempos. O trabalho era muito mais árduo. Jensen foi um dos produtores beneficiados pela revolução que o herbicida Round Up, à base de glifosato, lançado pela Monsanto no século passado, provocou no campo.

“Gastávamos várias semanas por ano somente para arrancar ervas daninhas manualmente. Graças a Deus isso acabou”, lembra. As sementes transgênicas de milho e soja, resistentes ao Round Up, permitiram aos agricultores alcançar níveis de produtividade nunca vistos, ajudando os Estados Unidos a se firmarem como um dos principais celeiros do mundo, com quase 19% da produção global de grãos. Na safra 2009/2010, o país produziu 416,4 milhões de toneladas de grãos, cifra que deve crescer quase oito milhões de toneladas na safra atual. “A biotecnologia duplicou a produtividade nos últimos 60 anos, sem aumentar a área plantada”, diz Paulo Hermann, diretor de vendas da John Deere para a América Latina.

Mãos à obra: da esq. para a dir.: Karen, John, Linda, Katie, Lane e Johnny vivem o sonho do fazendeiro americano. De boné, a cachorra JD segura um milho transgênico, cultivado a partir de semente da Monsanto

 

 

 

 

O Estado de Iowa é o principal produtor de milho e soja americano. Encravada no centro do Estado, a fazenda de Jensen comprova o sucesso de um modelo à base de mecanização intensiva, excelente infraestrutura para o escoamento da produção (estradas asfaltadas e ferrovias cortam todo o território) e biotecnologia de sementes e herbicidas. Cada vez mais, a tecnologia invade o campo e permite o manejo de fazendas com a redução de um dos insumos mais caros nos países desenvolvidos: a mão de obra.

Se em meados do século 20 um agricultor produzia comida para alimentar 26 pessoas, hoje ele alimenta 125. Gasta-se menos água e menos venenos contra as pragas, o que implica menores custos de pessoal na lavoura. Os Jensen fazem questão de pilotar os sofisticados tratores verdes da fazenda, todos da John Deere – o fazendeiro é tão fanático pela marca que batizou sua cachorra de JD. É fácil de entender. O conforto é muito grande. As máquinas têm bancos de couro, arcondicionado, piloto automático, GPS e sistemas de computador para o controle de todas as etapas da produção. São o que há de mais moderno na chamada agricultura de precisão, que está elevando a agricultura americana e de outros países para um novo patamar.

 

Com a ajuda do satélite, os agricultores podem mapear todas as áreas de cultivo nos mínimos detalhes, a partir dos dados enviados pelo computador do trator ao escritório central da fazenda. Dados da última colheita permitem a preparação da próxima com muito mais preciaumentar são. Ao obterem, por exemplo, a quantidade exata produzida em cada hectare, eles podem descobrir áreas de menor produtividade, detectar os problemas e corrigir o plantio da próxima safra. Enquanto o piloto automático dirige o trator, o fazendeiro pode-se ocupar de outras atividades, inserindo dados no computador de bordo ou se comunicando com a fazenda. Se preferir, pode ficar no escritório e controlar o trator a distância, usando o operador apenas para manobrar a máquina ao final de cada trecho plantado. Parece milagre: pode-se fazer tudo isso de dia ou de noite. “A luz solar não é mais determinante na agricultura. Com o piloto automático e o gerenciamento via satélite, a tecnologia tirou o agricultor das cavernas”, diz Hermann. Não é à toa que o garoto Lane quer ser fazendeiro. Os brinquedinhos no campo estão cada vez melhores.

Ontem e hoje

O antigo trator (1) de John Jensen é guardado por razões sentimentais, mas ele não tem motivos para ter saudade do passado. As novas máquinas, como este modelo da John Deere ao lado, exibido na feira Farm Progress Show, em Boone, tem ar-condicionado, bancos de couro com suspensão especial (2), computador de bordo com comandos na tela (touch screen) (3), sistema de navegação via satélite (GPS) e comunicação em tempo real com o escritório da fazenda. Até simuladores de direção são usados para atrair clientes nas feiras e treinar os futuros operadores (4).