Como garantir a alimentação de mais de 7 bilhões de pessoas no mundo? Sejam quais forem as soluções, elas já devem ser preparadas para o que virá no futuro. Pelo menos 9,23 bilhões de pessoas habitarão o planeta, em 2050, um contingente que exigirá uma produção 70% superior de alimentos, segundo a Organização das Nações Unidas. A indústria terá de se adequar a essa demanda, desenvolvendo novas opções de alimentos, de preferência mais nutritivos, de fácil preparo e com o custo mais acessível.

Cardápio variado:

produtos com mais fibras são presença cada vez maior na lista de compras do consumidor

Alimentos que nutrem e são elaborados a partir de subprodutos podem ser considerados uma nova vertente dentro da segurança alimentar no mundo e na América do Sul. É uma forma de fornecer alimentos que podem ter custo mais acessível, e que reduz o desperdício de matéria-prima, ao aproveitar ingredientes que poderiam ser descartados. Como isso impacta a indústria? Acredite, produzir mais do que já temos talvez não seja a única saída. Além de o governo facilitar o acesso aos alimentos – principalmente para os setores de menor poder aquisitivo – o processo de produção e industrialização dos alimentos pode ser aperfeiçoado, sem gerar desperdícios e aumentando a competitividade de países como o Brasil. Com o uso de tecnologias específicas, é possível produzir mais com menos energia, aproveitar melhor as matérias-primas e elaborar novos produtos com valor nutricional agregado.

Na América do Sul, os grãos merecem destaque. O Brasil desponta com uma das safras mais expressivas de soja do mundo, a Argentina lidera a produção de trigo e os países andinos se destacam pela produção de milho. Como usar isso a nosso favor? Sabemos que os grãos estão na dieta mundial e são base de energia para a ração animal e para a alimentação humana. Atualmente, com a alta produtividade das lavouras, os grãos são a matéria-prima para a tendência de praticidade nos processos obtidos via moagem, mistura e extrusão, entre outros. Incorporando ingredientes diferentes é possível extrair inúmeros produtos que muitas vezes são dispensados por desconhecimento ou ausência de tecnologias específicas, capazes de oferecer ao consumidor novas opções de produtos.

“A indústria de alimentos pode ser aperfeiçoada, aumentando a competitividade de países como o Brasil”

Henrique Oliveira é engenheiro da Bühler, multinacional suíça que atua na área de processamento de alimentos

 

Empresas comprometidas com a sustentabilidade do negócio já fornecem equipamentos com ajuste preciso que evitam o desperdício e garante um rendimento de moagem de farinhas, por exemplo, acima de 77%. Nos processos mais antigos, 75% de rendimento já são considerados um grande sucesso. Além de otimizar a moagem, novos equipamentos podem transformar subprodutos em produtos saudáveis. O céu é o limite para quem quer apostar na fabricação de alimentos a partir de subprodutos. Mariscos misturados com outros ingredientes e grão de bico podem se transformar em snacks, a proteína texturizada de soja pode ser ingredientechave na produção de almôndegas, o farelo da soja é um produto rico, de fácil preparo e que é utilizado com sucesso na ração animal, entre muitos outros exemplos. Combinações nutricionais, alimentos com mais fibras, mais variações, enfim, são tendências de mercado bem-sucedidas: seguramente, as empresas que aderirem às técnicas avançadas serão bem-sucedidas. A segurança alimentar pode ser otimizada com a variação do cardápio humano, com a adição de produtos nutricionais às matérias- primas que são pouco ou nada utilizadas, no País. Por sua vez, cabe à indústria buscar o melhor aproveitamento dos produtos que ela fornece ao mercado, incorporando outros ingredientes aos subprodutos. Os recursos estão aí, é preciso usá-los com criatividade.