Assim como é preciso quebrar os ovos para se fazer um omelete, também é necessário quebrar paradigmas para se mudar uma cultura de consumo. Esse é o caminho trilhado pela Raiar Orgânicos desde o início de suas operações em abril desse ano. Durante esses seis meses, ou um pouco mais, o conceito que vinha da essência do planejamento ganhou novas proporções e revelou outras possibilidades de negócios. O primeiro passo com a produção de ovos abriu o caminho para uma ampla e intensa atuação na cadeia de orgânicos: fabricação e fornecimento de ração, incentivo e apoio à conversão de produtores de milho e avicultores convencionais e a expectativa da entrada em outras proteínas animais e vegetais.

A partir de um investimento de R$ 200 milhões, os sócios Marcus Menoita, Luis Barbieri e Leandro de Almeida querem, em quatro ou cinco anos, formar um plantel de 700 mil aves com produção diária entre 500 mil e 600 mil ovos. O ritmo parece estar indo bem na fazenda de 170 hectares localizada em Avaré (SP). Do total de 40 mil aves no começo, com metade produzindo, já são 80 mil e quase todas em produção, com volume diário de 75 mil ovos. “O plano é crescer em módulos de 80 mil, e já estamos prontos para a largada do próximo”, afirmou Barbieri. Até junho de 2023 serão 160 mil galinhas no total.

MULTIPLICAÇÃO Tem crescido o alcance da Raiar no varejo (Crédito:Divulgação)

Essa expansão não seria possível sem o fornecimento da ração adequada aos padrões da produção orgânica. “A nutrição é o coração do negócio, pois responde por 80% da nossa produção e tem impacto direto no bem-estar animal e na rentabilidade”, disse Barbieri. Dessa necessidade surgiu a parceria com nove agricultores familiares nos arredores da fazenda para ter o milho orgânico. Agora já são quase 100, inclusive de outras regiões e com diferentes perfis. Há desde os que moram na fazenda e cultivam 20 hectares até os que têm mais área e fazem rotação com outras lavouras também orgânicas.

A partir dessas parcerias, a Raiar já consegui garantir o abastecimento de milho para todo o ano de 2023. “Temos até excedente de grãos para negociar”, afirmou Menoita. Essa visão de escala deu origem à maior fábrica de ração orgânica do País, uma estrutura totalmente automatizada com capacidade de atender até 1,5 milhão de aves, mais do que o dobro da meta da empresa. “O abastecimento de milho está deixando de ser um problema para que outros avicultores façam a conversão.” Segundo o empresário, a companhia ainda pode ajudar quem cultiva o milho e quem produz as aves em todo o processo para certificar a produção orgânica.

RETORNO Diante das as exigências para essa mudança de sistema produtivo, é natural o questionamento sobre a agregação de valor ao negócio. Essa é uma equação que a Raiar também vem trabalhando desde o início. De acordo com os sócios da empresa, o ovo orgânico chega ao consumidor final com valor entre 30% e 40% maior do que o do caipira – a bandeja da Raiar com dez unidades custa R$ 18 – e há uma parcela de 3% a 5% da população que pode pagar essa diferença de preço.

A confirmação tem vindo pelas parcerias já fechadas com redes de varejo para a venda dos ovos: BIG, Natural da Terra, Mambo, Zaffari, Quitanda, Santa Gemma, Raízs, Santa Luzia e St. Marche. Muito da aceitação por essas lojas vem, além da qualidade do produto, da distinção do orgânico em relação a outros sistemas de postura, como o caipira ou o cage free, segundo os sócios da Raiar. “Esses termos, por si só, não garantem o mesmo rígido controle que temos, com regulação, auditoria e certificação”, disse Menoita. “Inclusive, foi por isso que escolhemos o nome Raiar, para jogar luz sobre esse debate.”

FUTURO A partir da esquerda, Menoita, Almeida e Barbieri, os sócios da Raiar Orgânicos que querem chegar a 700 mil galinhas em cinco anos. Hoje são 80 mil (Crédito:Carol Gherardi)

De tão convencidos que estão sobre as oportunidades de avanço no segmento de orgânicos, os sócios da Raiar já decidiram entrar na produção de outras proteínas, animais e vegetais. “Só falta definirmos quando e como”, afirmou Menoita. Enquanto essa decisão não vem, toda a operação da Raiar continua relacionada às galinhas. Menos o voo.