A última semana de novembro foi marcada por um intenso frenesi no mercado de capitais brasileiro. Naquele período, estavam sendo fechadas as reservas para a abertura de capital da BM&F, a Bolsa de Mercadorias & Futuros, que negocia grandes contratos de commodities agrícolas, como algodão, soja, café e açúcar. O processo de IPO foi concluído após o fechamento desta edição da DINHEIRO RURAL, mas todas as projeções indicavam que a BM&F conseguiria levantar junto a investidores do Brasil e de fora cerca de R$ 5 bilhões com a sua venda de ações. O que será feito com todo esse dinheiro e o que mudará no dia-a-dia das bolsas são as grandes perguntas do mercado. Embora os executivos da BM&F estejam impedidos de comentar a operação, em função do período de silêncio imposto pela Comissão de Valores Mobiliários, já é possível prever alguns desdobramentos do IPO. Eles passam pela internacionalização da BM&F e pela realização de parcerias com outros gigantes, como é o caso da Chicago Board of Trade (CBoT), a bolsa de grãos mais importante do mundo.

Com a abertura de capital, a mudança mais imediata é o fato de a BM&F deixar de ser uma entidade sem fins lucrativos e ingressar de vez no mercado, em busca de lucros. Com o novo formato, ela passa a se equivaler a outras “concorrentes”, como a Bolsa de Nova York e a CBoT. Assim como em outros mercados, a associação com empresas do mesmo ramo se torna natural. Isso, aliás, começou antes mesmo de a primeira ação ser vendida na Bovespa. Em 23 de outubro, mais de um mês antes da abertura de capital, a BM&F assinou uma carta de intenções com o CME Group, uma empresa CME/Chicago Board of Trade, para a exploração de oportunidades conjuntas. Pelo acordo, o CME Group vai adquirir 10% das ações da bolsa brasileira por R$ 1,3 bilhão, até março de 2008. Haverá, também, uma troca de ações em que a BM&F terá participação de 2% na bolsa de Chicago. Resumindo: a maior bolsa de valores do mundo será sócia da BM&F. “É natural que essas bolsas se associem e que essa participação na BM&F até seja ampliada”, comenta uma fonte ligada à empresa.

Com a parceria e o novo modelo de gestão, a BM&F, segundo analistas, se tornará mais forte no Exterior, com a abertura de novos escritórios para diferentes produtos. Em Nova York, já existe uma repartição para a comercialização de café. Dos Estados Unidos, os investidores podem operar vendas no Brasil. Os valores são compensados pela própria BM&F, que possui uma conta para essa finalidade na cidade americana. “Isso pode acontecer com outros produtos como a soja”, diz um grande corretor. Até o momento, as regras vigentes dificultam a ação de operadores estrangeiros, que praticamente só atuam via bancos. Mas, com o novo formato que se avizinha, toda a operação deve ser simplificada. Outro projeto de Manoel Félix Cintra Neto, presidente da BM&F, é o fortalecimento dos negócios no Mercosul. Uma das possibilidades é que a BM&F também assuma os negócios que são feitos em Rosário, na Argentina.

Com o reforço que terá em seu caixa, também se espera que a bolsa de futuros se aproxime mais dos produtores rurais e traga novos clientes. Isso porque no Brasil ainda é pequeno o número de empresários rurais que negociam seus produtos em bolsa. Segundo estimativa de algumas corretoras consultadas, apenas 1% do volume total produzido no País é negociado via BM&F. “Mecanismos mais simplificados e produtos mais atrativos estão nos planos da bolsa para os próximos anos, até porque ela precisa captar novos clientes agora que é uma empresa que visa obter lucro”, revela o corretor ouvido pela DINHEIRO RURAL.

Ibiapaba Netto