01/04/2008 - 0:00
Apesar do nome Rally da Safra 2008, o evento não é uma competição automobilística cronometrada, tampouco tem o objetivo de testar pilotos. A finalidade é outra: fazer um raio X das lavouras brasileiras de soja e milho, antecipando o resultado da safra. Por isso, durante 16 dias, três equipes formadas por agrônomos e outros profissionais ligados ao agronegócio percorreram 30 mil quilômetros, passando pelos principais pólos produtivos do Brasil espalhados nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal, Minas Gerais, Maranhão, Tocantins e Piauí. Foram coletadas 1,5 mil amostras de soja e milho. “Foi o melhor rally da safra, tendo em vista o clima encontrado: bons preços e produtividade satisfatória. Novamente, a safra vai ser recorde, 62,4 mil toneladas de soja e 40 mil toneladas de milho”, diz o economista e agrônomo André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult, empresa realizadora do evento. Na oleaginosa, a produtividade média ficou em 48,8 sacas, enquanto o milho cravou 60 sacas por hectare.
ANDRÉ PESSÔA: o Brasil colherá uma safra recorde, apesar da quebra no Sul
Para chegar a estes dados, usou-se a seguinte metodologia. Na soja, eram contadas cinco fileiras de três metros, media-se o espaçamento entre as linhas e cinco plantas eram coletadas aleatoriamente para contagem do número de vagens e grãos de cada uma. Além disso, era feito um teste de transgenia e o agrônomo da equipe verificava a incidência de doenças na plantação. No milho, o procedimento era semelhante. Três fileiras de dez metros eram marcadas, anotavam-se o espaçamento entre as linhas e o número de espigas das fileiras. Na seqüência, eram coletadas cinco espigas para a contagem dos grãos em uma fileira e número de fileiras da espiga. Por último, o agrônomo dava o veredicto sobre a presença ou não de doenças na lavoura. A boa nova do rally foi a constatação da quase ausência da ferrugem da soja, doença que nas safras passadas causou um prejuízo homérico aos produtores. O principal motivo do desaparecimento foi a adoção pelos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e São Paulo do vazio sanitário, que nada mais é que a extinção do cultivo de soja na entressafra, o que quebra o ciclo da doença. O único local em que a ferrugem apareceu de forma preocupante foi em São Gabriel do Oeste, em Mato Grosso do Sul. Por isso a produtividade deve cair para 25 sacas por hectare. “Nos outros locais, o vazio sanitário, aliado à melhoria do manejo e à concentração do plantio de soja no mesmo período, foi o responsável pela diminuição da incidência de ferrugem”, explica Pessôa.
RODRIGO RODRIGUES: mofo branco foi constatado no sul de Goiás e no noroeste de Minas Gerais
Analisando o cenário nacional, os Estados que mais se destacaram na amostragem foram Mato Grosso e Goiás. O primeiro com uma produtividade de 55 sacas por hectare, o segundo com 52 sacas por hectare. Em Jataí e Rio Verde, por exemplo, as plantações de milho de sequeiro estão com um padrão americano, podendo chegar a 12 toneladas por hectare. “Os milharais estão muito bons, apesar da lagarta-do-cartucho. Os produtores não economizaram, fizeram quatro aplicações de defensivos e quem não fez foi por falta de defensivo”, diz Pessôa. Em relação à soja, uma curiosidade é o sudoeste e Goiás, que apresentou uma incidência de transgenia em torno de 80% , enquanto a média nacional foi de 59%. No sul do Estado, observou- se a presença da mosca branca e do mofo branco, parte pelo fato de ser uma região de plantio de feijão, cultura em que estas doenças são características. No noroeste de Minas, também foi registrada uma presença severa de mofo branco. Neste quesito, a dica dada por Rodrigo Rodrigues, filho de Roberto Rodrigues e agrônomo da Impar Consultoria no Agronegócio – uma das empresas que deram apoio ao evento –, para reduzir a ocorrência da doença foi caprichar na palhada. “Você minimiza o mofo branco quando tem mais palha no solo”, diz.
No oeste baiano, região de Luís Eduardo Magalhães, os resultados foram irregulares. Verificaram-se lavouras de soja com produtividade superior a 50 sacas por hectare e plantações comprometidas com uma produtividade na casa de 25 sacas por hectare. Uma das explicações para isso são as chuvas irregulares. No entanto, o Estado mais crítico por causa da seca foi o Rio Grande do Sul. A média por hectare é de 33 sacas, o que deve representar uma quebra de safra de 30%.