Dou-lhe 1, dou-lhe 2, dou-lhe 3!

Catenacci reinventa os leilões quando se transforma em pisteiro, ao mostrar ritmo, expressão corporal, desenvoltura e poder de convencimento na hora de puxar um lance. Afinal de contas, credibilidade na pecuária ele já tem

Em clima de festa, o pecuarista e detentor da marca 3R, e dos bezerros nelore mais valorizados do Brasil, Rubens Catenacci, recebeu a equipe da DINHEIRO RURAL no tatersal de leilões da Associação dos Criadores de Camapuã (Acricam), em Mato Grosso do Sul. Rubinho, como é conhecido na região, logo foi dizendo o motivo de tanto entusiasmo. Sua coleção de títulos e troféus estava prestes a aumentar, com a participação de mais de 600 animais da grife 3R em dois eventos: o Leilão Bezerros Qualidade 3R e o 27º Leilão do Fazendeiro. Na exposição do município, realizada em maio, os remates são precedidos de julgamentos, onde os técnicos da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) premiam os destaques em ganho de peso, precocidade e carcaças padronizadas, animais de biotipo cobiçado pelos frigoríficos.

No Leilão do Fazendeiro, o lote apresentado por Catenacci obteve o primeiro lugar na disputa entre os cinco melhores lotes de bezerros de qualidade. A cada conquista, os prêmios vêm em forma de valorização. Os preços dos animais 3R superam em pelo menos 30% as cotações médias de mercado. O lote campeão, com 25 machinhos de 10 meses, saiu a R$ 1.980 cada, mais de 180% acima do preço na praça, que gira em torno de R$ 700. O comprador foi o produtor Leonildo Denari Neto, da Fazenda Baia Rica, em Barão de Melgaço (MT).

 

No leilão de bezerros promovido pelo criador, o Qualidade 3R e Convidados, a média de preço dos 295 machinhos de 8 a 10 meses, ofertados em dez lotes, chegou a R$ 1,05 mil. As bezerrinhas, 264 ofertas em nove lotes, pegaram R$ 1,2 mil. Nada muito diferente do que tem ocorrido na história recente de Catenacci. Em 2010, o valor médio dos bezerros leiloados ficou entre 57% e 120% acima dos valores praticados no País. Enquanto os preços dos garrotes variavam entre R$ 500 e R$ 700, os da 3R eram arrematados à média de R$ 1,1 mil.

Para Catenacci, o segredo do sucesso está na tríade genética superior, manejo rotacionado e nutrição. “É possível ter um bezerro nelore pronto para o abate aos 12 ou 13 meses, pesando entre 16 e 17 arrobas”, afirma. “A carne desse superprecoce é macia e com o marmoreio que o Brasil e o mundo querem.” Até chegar à atual receita, o criador navegou em outros mares. Descendente de imigrantes – da Espanha, por parte de mãe, e da Itália, por parte de pai -, que aportaram no Brasil para “derrubar mato e plantar café”, Catenacci fez faculdade de direito, estudou contabilidade, trabalhou em banco e foi empresário na área de turismo. “Meus avós foram para a região de Araçatuba, no interior de São Paulo”, diz. “Nasci ’embaixo de um pé de café’ e na terra do boi gordo, mas acabei por trabalhar em Curitiba.” Foi na cidade grande, em 1984, que realizou o primeiro investimento em terras e na pecuária de corte. A trajetória bem-sucedida começou em Itararé (SP), mas para apostar mais no nelore, raça que gostava desde menino, Catenacci trocou o interior paulista pelo Mato Grosso do Sul em 1989.

 

Atualmente, as fazendas de Camapuã, mais Figueirão e Alcinópolis produzem por ano entre 2 mil e 2,5 mil bezerros. Os leilões deram visibilidade à marca. Em meados de 1992, a presença da grife 3R ganhou ritmo nos remates de Camapuã e não parou mais também em eventos fora da exposição do município. “Quero chegar a 3 mil bezerros e vender toda a produção em leilões”, diz Catenacci.

Leilão do fazendeiro : Com o troféu nas mãos, Catenacci comemora o 1º lugar conquistado pelos seus bezerros avaliados por técnicos da ABCZ

Os bezerros da 3R serviram para que as fêmeas do rebanho, inscrito no Programa de Melhoramento Genético Geneplus- Embrapa, se tornassem cobiçadas por selecionadores. A vaca Badalada, uma das primeiras a se destacar no plantel, ocupou o terceiro lugar no ranking de 1998 das melhores fêmeas do País. Ela conta com mais de 80 filhos, entre os naturais e os criados em barriga de aluguel. No auge da produção, chegou a ser avaliada em mais de R$ 500 mil. Aposentada e aos 24 anos, Balada ainda está nos pastos da 3R. “Apenas com a venda de suas filhas e netos a 3R faturou mais de R$ 1 milhão”, diz o administrador das fazendas, Rogério Rodrigues Rosalin.

Outra fêmea 3R, vendida ainda bezerra, também se tornou estrela nas pistas de julgamentos. Bélgica 8 FIV da 3R foi adquirida por R$ 180 mil, pelo pecuarista Ricardo Vicintin, da Rima Agropecuária, de Entre Rios de Minas (MG). Aos 29 meses, está avaliada em R$ 5 milhões e foi a grande campeã da Expozebu deste ano, em Uberaba (MG), neste mês de maio. “A Bélgica é uma recordista em títulos”, diz orgulhoso, o pecuarista.

Os títulos que não param de chegar às prateleiras da 3R turbinam os preços do gado comercial, muitos adquiridos para ser base de criação. Catenacci já chegou a vender bezerras e bezerros de pasto a R$ 2,7 mil e R$ 2,6 mil, respectivamente. “Há compradores no Brasil inteiro, mas a maioria é de Mato Grosso. Depois vem Rondônia”, diz Rosalin.

Catenacci é um dos protagonistas de um movimento que foi crescendo aos poucos. Camapuã foi reconhecida como a “Capital do Bezerro de Qualidade”, honraria recebida no dia 4 de janeiro de 2008, por meio da lei número 3.487, decretada pela Assembleia Legislativa de MS e sancionada pelo então governador do Estado, André Puccinelli. Catenacci foi eleito presidente da Acricam dez anos antes. “Naquele tempo era tudo muito simples”, afirma o criador. “Reformamos o parque de exposições e divulgamos a genética da região. Então veio esse barulho grande.”

 

Planilha: o custo de produção a pasto, de um bezerro aos 10 meses, está na casa de R$ 700 reais

Além dos bezerros nos leilões, a 3R comercializa cerca de 150 reprodutores por ano, avaliados ao preço médio de R$ 7 mil. Em geral, as cotações de um bom touro variam entre R$ 5 mil e R$ 8 mil. A grife também tem um leilão virtual de bezerras POs top de seleção, que saem na faixa de R$ 10 mil. Segundo Catenacci, produzir qualidade sempre custa mais caro, pois são necessários vacas e touros melhoradores, animais de valores mais elevados. O custo de um bezerro 3R aos 10 meses está na casa de R$ 700. “Na pecuária a pasto e mais extensiva, geralmente o custo de produção é 50% menor”, diz.

O sistema de manejo de pastos rotacionados aumenta em 30% o suporte animal por área, além de permitir a mamada controlada, acelerar o processo de retorno do cio na vacada, e elevar o ganho de peso diário dos bezerros em 50%, se comparado à engorda dos animais no pasto, em sistema extensivo de produção. Os cerca de 600 bezerros leiloados na feira de Camapuã seguiam uma programação de abate, na qual o ganho de peso diário era controlado em 900 gramas. “No pasto, a engorda é de cerca de 600 gramas por dia”, diz. “Se a manutenção da 3R continuar, com 14 meses os animais estarão prontos para o abate.”

No sistema rotacionado da 3R, em um pasto com uma invernada de 150 hectares, por exemplo, em vez de deixar toda a área livre para pastoreio, ela é dividida em dez piquetes de 15 hectares cada, todos em forma de pizza. Os animais ficam em cada piquete por cerca de três dias. Até voltar no primeiro, o pasto já descansou 27 dias e rebrotou vigoroso. No manejo extensivo a área comportaria, no máximo, 150 animais.

No rotacionado, é possível alocar até 200. Há também uma área central de alimentação para a cria dos bezerros em sistema de creep feeding, em que apenas eles, e não as mães, têm acesso à ração com 21% de proteína, por quatro horas. Com esse intervalo, o organismo das fêmeas se recupera mais rapidamente para voltar ao cio. “Os bezerros também mamam e pastejam, mas a ração é fundamental para a engorda”, diz o administrador Rosalin.

Há dois anos Catenacci iniciou as avaliações por ultrassonografia. Os resultados apontavam que eles estavam prontos para o abate aos 10-11 meses. Para tirar a prova dos nove, comprovar que isto era possível com o nelore, a 3R encomendou um abate técnico ao zootecnista Eduardo Pedroso, realizado no Frigorífico Canaã, de Cassilândia (MS). Os machos pesaram aproximadamente 14 arrobas, o ideal para o abate, com rendimento de carcaça de 56,65%, enquanto que o rendimento base é de 52%. As fêmeas pesaram cerca de 12 arrobas, com 58,5% de rendimento de carcaça. Geralmente, esse índice atinge no máximo 50%. “Os argentinos abatem os bezerros com 14 meses e têm a melhor carne do mundo”, diz Catenacci. “Então, nós também podemos.”

Wilson Fraga Fontoura pecuarista, da Fazenda Santo Antônio do Cadete, de Camapuã

“O gado do Rubens é diferenciado. Há três anos compro bezerros 3R, o que me faz sair na frente. Dos meus 1,2 mil garrotes, 20% é genética 3R”

Deosnildo Rodrigues criador, da Fazenda Santa Bárbara, de Camapuã

“O Rubinho tem um dos melhores rebanhos do País. Camapuã é a capital do bezerro de qualidade graças a ele. Tenho mais de 40 touros 3R”

Nicole Perondi produtora, da Fazenda Andressa, em Ribas do Rio Pardo

“O trabalho do Rubinho é de muitos anos. Ao longo do tempo, ele foi se aperfeiçoando, até conseguir criar os melhores bezerros de Camapuã”