Enquanto só 6,9% dos pontos analisados em 120 rios da região da Mata Atlântica têm água de boa qualidade, 20% não têm condições mínimas para seu uso e o total da amostra praticamente se manteve na mesma situação de um ano para o outro. Mas um córrego – que nasce acanhado e espremido entre um prédio e uma casa na Vila Mariana e abastece o lago do Parque do Ibirapuera (onde houve coleta) – melhorou e se tornou o único de São Paulo considerado bom, conforme estudo da Fundação SOS Mata Atlântica.

A forma como isso se deu diz muito sobre o porquê da melhora. Em 2021, a Prefeitura de São Paulo e os moradores da Vila Mariana, onde o córrego nasce, resolveram se unir e dar ao local em que ele brota da terra atenção especial. Plantas, solo agora permeável à água da chuva, pintura nas paredes ao redor – o córrego nasce em uma espécie de beco que se forma entre os imóveis – e um portão, além de limpeza.

Uma parte da viela era concretada. O material foi retirado e o piso restaurado. Ele é feito com paralelepípedos intertravados que formam fendas – preenchidas com areia para deixar a água passar tanto para fora quanto para dentro.

A ação deu resultado e o Sapateiro passou a ter sua água avaliada como boa, uma conquista importante para o único rio da capital com essa avaliação. A Prefeitura de São Paulo diz que o projeto surgiu em reuniões entre as equipes da subprefeitura, Associação Amigos da Vila Mariana e membros do Conselho Participativo Municipal Vila Mariana.

TIETÊ E PINHEIROS

O exato oposto do Sapateiro é o Rio Pinheiros, pior do que o próprio Tietê na capital. Com três pontos de avaliação, em todos com avaliação péssima, como no ano anterior. Apesar do investimento do Estado no programa Novo Rio Pinheiros, que conectou redes de esgoto em 650 mil residências, e a melhora no odor e na aparência da água, já possível de se notar, a qualidade ainda é a pior da cidade.

O Rio Tietê, onde o Pinheiros deságua, por sua vez, tem condição ruim em todos os pontos de avaliação na região metropolitana. No interior, chega apenas a regular. E isso chama a atenção. Para Gustavo Veronezi, coordenador do programa Observando os Rios, do SOS Mata Atlântica, é um reflexo da falta de investimento dos municípios. Mesmo no Estado que, ao lado do Paraná, tem o maior número de cidades bem avaliadas no Ranking de Saneamento do Instituto Trata Brasil, só seis rios ou córregos foram considerados de boa qualidade.

MATA ATLÂNTICA

Em comparação com os 106 pontos analisados em 2021, quando houve uma redução nas coletas por causa da pandemia de covid-19, a qualidade média da água se estabilizou, com indicativo de pequena melhora. Na Mata Atlântica, bioma em que estão as cidades onde vivem mais de 70% da população brasileira, o levantamento do SOS apontou qualidade regular em 75% dos pontos de coleta, ruim em 16,2% e péssima em 1,9%.

O levantamento foi realizado por uma rede de 2.700 voluntários. E será apresentado por Veronezi hoje na Conferência da ONU Sobre a Água, em Nova York (EUA).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.