Hoje em dia, a maior parte dos produtos alimentícios expostos nas prateleiras dos supermercados destaca em seus rótulos diferenciais do tipo: enriquecido com vitaminas e ferro, rico em ácido fólico, em cálcio, em fibras, em proteínas e sais minerais. Isso não acontece por acaso, como já sabe o departamento de marketing dos produtores e fabricantes.

As descobertas relacionadas à alimentação acompanham a evolução da humanidade na busca pela sobrevivência. “Mas ainda hoje, no mundo, 3,2 bilhões de pessoas sofrem de deficiência de micronutrientes no organismo”, diz Sérgio Segall, consultor da Path, organização americana sem fins lucrativos, com sede em Seattle, que trouxe para o Brasil a tecnologia do arroz fortificado, batizado de Ultra Rice. Segundo o consultor, os índices de anemia no Brasil variam por Estado, de 25% a 60% da população, o que significariam deficiências nutricionais de moderadas a graves.

“O preço para a indústria é o do custo da compra de nutrientes”

Dipika Mathias diretora de projetos da Path

A formulação do “superarroz”, criado em 1989 pela empresa Bon Dente, com sede também em Seattle – e depois doada, em 1997, à Path, que, em parceria com a fundação Global Alliance, é a responsável por inseri-lo nos mercados mundiais -, agora está nas mãos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais.

A instituição repassará a tecnologia desenvolvida pelos americanos, sem custo algum para os interessados. Segundo Segall, desde o final da década de 1990, já foram investidos quase R$ 16 milhões em pesquisas para que o Ultra Rice chegasse às merendas escolares. “Melhorar essa dieta foi o objetivo dos pesquisadores que desenvolveram a tecnologia”, diz Segall. Segundo Dipika Mathias, diretora de projetos da Path, nos Estados Unidos, o Ultra Rice, de aparência idêntica ao arroz, não é exatamente o cereal verdadeiro, produzido nas lavouras.

O produto é fabricado por meio de extrusão a frio, técnica que permite moldar uma massa feita com farinha de arroz, misturada a micronutrientes, no formato do grão que é cultivado na agricultura. “O arroz fortificado é adicionado ao arroz tradicional, de acordo com a necessidade nutricional da região onde ele é oferecido às pessoas”, diz Dipika.

Em 2010, o produto foi inserido na merenda das creches e da rede municipal de ensino, em Sobral, no interior do Ceará, em um projetopiloto para 35 mil crianças. Em Dourados, em Mato Grosso do Sul, outro projeto contemplou 12,7 mil crianças; em Indaiatuba, no interior de São Paulo, foram mais 13,6 mil crianças. “Em Sobral, os índices de anemia, monitorados pela Universidade Federal do Ceará, caíram de 27% para 11%”, diz Segall.

“No mundo, 3,2 bilhões de pessoas sofrem de desnutrição”

Sérgio Segall consultor da Path

A Path e a UFV estão em busca de parcerias com moinhos, que normalmente já possuem extrusoras. Para quem não tem, o investimento de um equipamento com capacidade para fabricar 50 quilos de arroz fortificado, por hora, é de R$ 650 mil. A Adorella, de Indaiatuba, foi a primeira processadora de arroz, de pequeno porte, a adquirir a formulação do Ultra Rice. “Por contrato, o preço para a indústria é o do custo da compra de micronutrientes de empresas que atuam no mercado”, diz

Dipika. Segundo ela, a adição desses micronutrientes pode elevar entre 5% e 8% o preço final do arroz fortificado, em relação ao de um arroz comum. Para Segall, além das indústrias, as cooperativas de produtores do cereal também poderiam ter o “superarroz” em seu portfólio. “As cooperativas teriam mais facilidade em comercializar o arroz fortificado, por exemplo, para as prefeituras e no comércio regional, onde estão inseridas”, afirma Segall.