01/01/2010 - 0:00
Diferente: a palmeira talipot é a única que floresce, e quando isso acontece o fim do ciclo se aproxima
O triste e o belo estão de mãos dadas no Rio de Janeiro. Uma paisagem atípica tomou conta de um dos mais conhecidos cartões-postais da Cidade Maravilhosa, o Parque Burle Marx, no Aterro do Flamengo. Inaugurado em 1965, o local leva o nome do paisagista que o idealizou e, em seu projeto original, optou por palmeiras da espécie Corypha umbraculifera, muito comum em países da Ásia, como a paradisíaca Tailândia.
Conhecida como palma talipot, essa é a única, em seu gênero, que floresce. Porém, quando isso acontece, a árvore está muito próxima do fim de seu ciclo e, no máximo em 15 meses, sua morte será certa. David Lessa, diretor de arborização do parque, diz que, apesar das buscas, não há notícias de outros hortos que a cultivem. “Estamos tentando achar outras para repor, mas não está fácil”, lamenta. “No Brasil, pelo menos, ainda não encontramos”, diz.
O jeito, segundo ele, será importar novos cultivares. Mas, seja como for, ele terá de esperar o fim da florada para encontrar uma solução. “Esse é o prazo que temos”, sentencia. O espetáculo em cores amareladas tem roubado a cena no Aterro do Flamengo, local frequentado por milhares de transeuntes todos os dias.
Engenheiro florestal de formação e um aficionado por plantas exóticas por vocação, Flávio Telles se especializou na vida e morte dessa singela planta. Ele explica que a arvore é natural da região da Costa do Malabar, área que contempla desde o sul da Índia até o Sri Lanka. Os frutos começam a aparecer quando a talipot chega aos 50 anos. “Porém, isso não é uma regra”, ensina.
Quando adulta, ela pode atingir 25 metros e do alto de sua copa é que começa a demonstração de beleza. A copa se enche de flores amarelas, que formam um longo cordão. Tal fenômeno, também chamado de inflorescência, é motivo de apreciação para os especialistas e, segundo Telles, só termina com a morte da planta. Outro detalhe interessante é que essa espécie é responsável pela maior florada do reino vegetal.
“É um fenômeno muito interessante de se apreciar”, avalia. Quem também se interessou pelo assunto, foi o Rotary Club Flamengo, que realizou um longo levantamento sobre a flora local. A paisagista Denise Pinheiro trabalhou no projeto e constatou que das 17 mil árvores do projeto original há, apenas, 9.494, ou 55% do que havia antes.
Do patrimônio total, 2.600 tiveram de ser sacrificadas ou morreram por causa de doenças. “A ideia é recuperar o projeto original”, diz, lembrando que o custo pode chegar a R$ 240 mil. Mas, como tudo na vida, os ciclos se renovam e, com a morte da palmeira, recomeça a vida. Isso porque das flores vêm as sementes, outra característica exclusiva dessa espécie.
De todos os botões que se formam, aproximadamente um quinto se torna sementes férteis, que podem dar origem a novas árvores. Com isso será possível criar um “acervo” de mudas para que daqui a 50 anos o mesmo problema não se repita. Enquanto isso, resta aos visitantes apreciarem esse espetáculo da natureza, porque o próximo só acontecerá daqui a meio século