01/03/2011 - 0:00
Aroma mais acentuado, teor de acidez agradável, sabor mais forte e encorpado. Além desses atributos, os cafés especiais são identificados pela qualidade e uma ampla gama de conceitos, que vão desde características físicas, como origens e cor, aos sistemas de produção e às condições de trabalho da mão de obra nas plantações. Até a venda desses grãos está sujeita a um ritual próprio, no qual o contato do produtor com o consumidor é muito próximo.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o valor de venda atual desses cafés diferenciados tem um sobrepreço que pode chegar a quatro vezes o do café convencional. Isso já descontado o aumento dos custos de produção. “Enquanto o quilo de um café tradicional custa R$ 10,80 no supermercado, o especial chega a R$ 40”, afirma o diretor-executivo da Abic, Natan Herszkowicz. “Mesmo assim, sua demanda continua em alta.”
Geórgia Souza: os produtos premiados em concursos é o que garante o sucesso do Lucca Cafés, de Curitiba, no Paraná
Embora represente a menor parte do consumo, o café especial continua apresentando taxas de crescimento de 15% a 20% ao ano. Impulsionado principalmente pelas casas de café, como Fran’s Café. “Até 2000, não havia nenhuma marca de café fino no mercado”, diz Herszkowicz. “O produto não era oferecido ao grande público, pois sua oferta era restrita.” De acordo com a Abic, dos 19 milhões de sacas de café convencional consumidos no Brasil, apenas 700 mil são de grãos especiais.
Anualmente, informa a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), o País produz 1,5 milhão de sacas de cafés finos, a metade delas destinadas à exportação. Os principais mercados do café fino brasileiro são os Estados Unidos, Japão, Inglaterra, Coreia do Sul e Aus-trália. “Para a produção de café especial a variedade arábica é a mais usada”, diz a diretora-executiva da BSCA, Vanusia Nogueira. “Porém, a robusta tem apresentado sabor diferenciado. Apesar de ser uma commodity, o café especial tem algumas vantagens na sua comercialização. “Isto ocorre porque há um contato direto do comprador com o vendedor”, diz Vanusia.
Com o objetivo de promover os cafés especiais no mercado brasileiro e internacional, entidades como Abic e BSCA desenvolvem concursos ao longo do ano pelo País. O mais importante deles é a edição brasileira do Cup of Excellence, que acontece em janeiro e reúne os principais compradores do mundo. Só os melhores lotes da bebida são negociados nesse leilão e uma saca de 60 quilos pode custar R$ 15 mil.
Barista, mestre torrefadora e especialista em aromas, a empresária Geórgia Franco Souza, do Lucca Cafés (PR), não perde um concurso. Os lotes que adquire passam a fazer parte do grupo Edição Limitada da empresa. Aliás, em menos de uma década, a marca Lucca Cafés Especiais se transformou na mais conceituada cafeteria. “A qualidade dos nossos cafés, em especial os premiados em concursos, é que garante o sucesso da nossa marca”, diz Geórgia. Em 2006, sua empresa investiu algo em torno de R$ 150 mil, só em cafés de concurso. “Sem contabilizar o investimento em infraestrutura”, diz. O retorno foi compensador, conta ela: a empresa, que faturava R$ 1,2 milhão por ano, na época, dobrou o faturamento.