A safra 2007/2008 começou de forma precoce este ano. Antes mesmo de as primeiras sementes serem plantadas, o mercado começava a negociar as vendas no próximo ano. É uma espécie de jogo de xadrez em que produtores traçam estratégias para conseguir melhores preços diante de tradings que sabem muito bem até onde podem pagar pela soja disponível. E, justamente por existir uma baixa oferta de soja até que chegue a próxima safra, produtores brasileiros têm recebido, em média, US$ 11 o bushel no porto de Paranaguá. Em reais, isso significa aproximadamente R$ 42 a saca. No mercado futuro, porém, os preços também estão bons. Os negócios têm se concretizado por média de US$ 10, o que garante rentabilidade e lucro, caso a safra se desenvolva bem. Por causa desses fenômenos as vendas antecipadas disparam.

Para que se tenha idéia, segundo dados da Agência Rural, empresa de consultoria que realiza pesquisas de vendas, 39% da safra brasileira de soja já está vendida. Em Mato Grosso, o número médio é de 60%. O fenômeno destoa de anos anteriores quando, na safra passada, no mesmo período, apenas 19% havia sido comercializado de forma antecipada. Na safra 2005/2006, então, foram contratados míseros 7% em vendas futuras. Na opinião do consultor Daniel Sabben, da Agência Rural, isso decorre dos bons preços no mercado internacional. Os bons níveis acima de US$ 9 o bushel têm animado as vendas. “Como o mercado está aquecido, os produtores travam o preço e garantem a rentabilidade das lavouras”, diz. Para o analista, o preço médio de US$ 10 firmado nos contratos futuros só não é melhor por causa do câmbio, muito desvalorizado. “Mas em termos de preços internacionais a soja vive um excelente momento”, garante. Sabben comenta que, em virtude de dívidas acumuladas nos últimos anos, os produtores parecem estar deixando pouco espaço para trabalhar no mercado físico, aquele que paga o preço do dia. Segundo ele, tudo aponta para um cenário positivo, com estoques mundiais baixos e aumento de demanda internacional. “Não havendo nenhum problema climático sério, será um bom ano”, afirma.

LAURENCE BELTRÃO, DA SLC: “Venda antecipada garante rentabilidade

Quem também acredita num ano promissor é o diretor de relação com investidores da SLC Agrícola, Laurence Beltrão. Até o início da colheita a empresa pretende estar com 70% de sua produção de soja vendida. Os 30% restantes serão armazenados e trabalhados no mercado físico, conforme os preços do dia. “Os dados do USDA mostram que os estoques norteamericanos cairão 68%, o que para nós é uma grande notícia”, revela. De acordo com Beltrão, a empresa segue, há anos, uma política de travamento de preços. “A venda antecipada nos garante a rentabilidade da empresa”, diz o diretor.

Para o analista Fábio Turquino Barros, da AgraFNP Consultoria, o preço do petróleo e a influência dos fundos de investimento, que têm entrado no mercado de commodities agrícolas, vão colaborar com a manutenção da cotação da soja no próximo ano. “Some a isso a demanda por biocombustíveis e teremos um cenário favorável para 2008”, acredita. O lado ruim da história, para ele, fica com os produtos nitrogenados, como fertilizantes, que usam petróleo na composição. “Se o câmbio recuperar um pouco, será um ano memorável”, comenta. Até que isso aconteça, se é que vai acontecer, diz ele, bom é pagar as contas. “Os produtores, em média, arrastam muitas dívidas. Então, o melhor negócio é se capitalizar novamente e esperar que o mercado continue favorável”, finaliza.