Foram necessários milhares de anos para que, por volta de 1804, a humanidade atingisse o marco de 1 bilhão de pessoas. Quase dois séculos depois, em 1985, o número bateu os 5 bilhões. Com avanços da Medicina, que causaram declínio da mortalidade e aumento da expectativa de vida, só 12 anos foram necessários para passar de 7 bilhões para 8 bilhões, atingidos neste mês, segundo as projeções da Organização das Nações Unidas (ONU).

Se o número assusta ou parece inimaginável – para se ter ideia, seria preciso ter 103 mil Maracanãs para acomodar tanta gente -, a tendência é de que a população siga crescendo e atinja os 10 bilhões em 2058. Porém, com a redução na fertilidade, a velocidade do crescimento será menor. Em 2020, em meio à pandemia do novo coronavírus, pela primeira vez desde 1950 a taxa de incremento anual ficou abaixo de 1%.

Segundo as Nações Unidas, há 50% de chance de que a população mundial chegue ao pico – e que seu tamanho estabilize ou comece a cair – antes do fim do século. Embora a ONU destaque que a crise da covid-19 afetou “todos os componentes da mudança populacional”, com queda da expectativa de vida para 71 anos em 2021 – era de 72,8 em 2019 -, o real impacto ainda não é claro, pois a pandemia prejudicou operações de coleta de dados.

Para António Guterres, secretário-geral da ONU, o marco expõe a urgência do combate às desigualdades. “A menos que superemos o abismo entre os que têm e os que não têm, estamos nos preparando para um mundo de 8 bilhões de pessoas cheio de tensões e desconfiança, crise e conflito.” Uma melhor distribuição de riquezas, segurança alimentar, produção de energia limpa e controle de epidemias são alguns dos principais desafios.

“Não podemos confiar em soluções de tamanho único em um mundo onde a idade média é de 41 anos na Europa, ante 17 na África Subsaariana”, afirma a diretora executiva do Fundo de População das Nações Unidas, Natalia Kanem.

Considerando o cenário previsto para julho de 2023, quase seis de cada dez pessoas no mundo estarão na Ásia. Índia e China serão as nações mais populosas, concentrando cerca de 35% da população mundial. Só uma a cada dez pessoas tem 65 anos ou mais. Crianças de até 14 anos representam quase um quarto da população. Adultos, de 25 a 59 anos, respondem por pouco mais de 34%.

Cerca de oito em cada dez pessoas vivem em uma nação com renda média-baixa, média ou média-alta. Segundo a classificação do Banco Mundial, significa que elas estão em países com renda nacional bruta anual por habitante de US$ 1.086 a US$ 13.205 (de R$ 5,8 mil a R$ 70,4 mil).

Que o mundo continua a crescer não há dúvida, mas isso não é regra para todos os países. Mais da metade da alta projetada até 2050 será em apenas oito países: República Democrática do Congo, Egito, Etiópia, Índia, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Tanzânia.

O incremento populacional será puxado por nações menos desenvolvidas, o que impõe desafios para atingir metas sustentáveis, como frear a crise climática, em cenários de menor disponibilidade de verba e estrutura. Enquanto isso, 61 países devem encolher 1% ou mais entre este ano e 2050. As maiores reduções, com perdas de 20% ou mais, devem ser de Bulgária, Letônia, Lituânia, Sérvia e Ucrânia, que neste ano virou o centro de uma guerra após invasão pela Rússia.

As faixas de idade também mudam. Em 2018, pela primeira vez, idosos superaram as crianças menores de 5 anos. A ONU espera que haja 1,6 bilhão de idosos em 2050 – 16% dos moradores da Terra. Essa transformação muda as demandas de políticas públicas, como da rede hospitalar, da assistência social (como abrigos, moradias para idosos e na necessidade de cuidadores), previdência social (com elevação de gastos em aposentadorias) e de educação (com turmas menores diante da redução do número de crianças e adolescentes e uma janela de oportunidade para elevar investimentos na qualidade do ensino, por exemplo). Em relação ao gênero, hoje o número de homens é 0,5% maior do que o de mulheres. Em 2050, se iguala.

Brasil

Já a população brasileira será de 216,42 milhões em julho. O ritmo de crescimento já está abaixo de 1 ponto porcentual desde 2008. Com isso, deve atingir o pico populacional, com 231 milhões ainda em 2046 e, a partir daí, começa a decrescer. Em 2100, a ONU estima 184,54 milhões de habitantes. Se, por ora, pessoas com 65 anos ou mais representam cerca de 10,2% do País, a mesma taxa deve ser de 33% em 2100.

Para especialistas, o Brasil vem falhando em aproveitar o bônus demográfico das últimas décadas, quando houve uma proporção mais alta de jovens em idade economicamente produtiva. A maior fatia populacional nessa faixa etária, segundo economistas, deveria ser uma oportunidade para elevar a geração de riquezas.