Produzir fertilizantes orgânicos, à base de esterco de aves, resíduos do processamento de cana ou mesmo do lodo retirado dos processos de saneamento, é uma prática sem grande valor comercial, restrita a atender pequenos agricultores. Essa situação começa a mudar, no País, com a decisão do empresário carioca Olavo Monteiro de Carvalho, presidente do conselho de administração do grupo Monteiro Aranha, que investiu R$ 55 milhões na Geociclo, primeira produtora brasileira em grande escala dos chamados fertilizantes organominerais, um cruzamento de insumos orgânicos com minerais como fósforo e potássio. Herdeiro da família que trouxe a Volkswagen para o Brasil, entre outros empreendimentos, Monteiro de Carvalho teve a ideia de criar a Geociclo no tempo em que controlava a empresa de saneamento Ecoaqua, vendida posteriormente ao grupo Odebrecht. “Nunca tive medo de investir, até porque avalio muito bem o potencial de cada negócio”, disse Monteiro de Carvalho à DINHEIRO RURAL.

Na Ecoaqua, ele descobriu que poderia aliar o útil ao agradável: transformar os resíduos do tratamento de água em um dos insumos mais importados pela agricultura brasileira, os fertilizantes, que consumiram US$ 9,1 bilhões no ano pas sado. Inicialmente, ele tentou transformar o lodo gerado pela empresa de saneamento em adubo em escala comercial. Não deu certo porque até então a tecnologia existente era limitada à produção de menor volume. Em 2007, ao se desfazer da Ecoagua e abrir a Geociclo, separou R$ 30 milhões para desenvolver a tecnologia, um trabalho que durou até este ano, com a inauguração da primeira fábrica, em Monte Alegre de Minas, cidade do Triângulo Mineiro, a 600 quilômetros de Belo Horizonte. “Formei uma equipe de pesquisa e desenvolvimento de 20 profissionais, para adaptar aquela tecnologia em grande escala”, diz. “Depois de testá-la em 40 culturas diferentes e obter sucesso, resolvemos abrir a primeira fábrica.”

Na primeira unidade, que será inaugurada neste mês, a capacidade é de 50 mil toneladas de fertilizantes. O produto da Geociclo é constituído por 60% de materiais orgânicos, formado pelos resíduos do processamento de cana e estrume de aves, e 40% com nitrogênio, fósforo e potássio (NPK). “Essa mistura é ideal para solos mais fracos, como os do Brasil”, diz Ernane Judice, presidente da Geociclo. “A produtividade obtida no campo foi 10% superior à dos fertilizantes minerais.”

Mesmo com a fábrica ainda no início das atividades, metade da sua futura produção para o ano já está vendida a usinas do setor sucroalcooleiro, que é um dos focos da Geociclo, junto com soja e milho. A ideia é que 50% da produção da empresa seja negociada com os usineiros, que trocam os resíduos da cana pelo fertilizante da Geociclo. “Precisamos dos resíduos, e eles dos fertilizantes”, diz Judice. De acordo com ele, está prevista também a construção de uma segunda fábrica no município de Goianésia, em Goiás. As obras serão iniciadas no primeiro trimestre de 2013 e a conclusão está prevista para abril de 2014, com a produção de mais 50 mil toneladas/ano.

A médio prazo, os planos para o futuro são ainda mais ambiciosos. Está no radar de Monteiro de Carvalho a construção de 15 novas fábricas, nas quais serão investidos cerca de R$ 400 milhões até 2022. “Estamos arredondando o projeto para apresentar aos eventuais parceiros”, diz. Segundo a Biominas Brasil, entidade dedicada a promover negócios voltados a biociências, o consumo de fertilizantes no Brasil irá dobrar até 2020, passando de 20 milhões de toneladas, hoje, para 40 milhões anuais. Com base nesses dados, Monteiro de Carvalho espera conquistar, em uma década, cerca de 5% do mercado de fertilizantes no País, com uma produção em torno de 1,8 milhão de toneladas por ano. Caso o plano se concretize, a empresa deverá faturar até lá R$ 2 bilhões, ante os R$ 40 milhões esperados em seu primeiro ano de operações. “Não sou ousado, só tenho a visão de que a agricultura é a nova mina de ouro do País”, afirma.