SELO RSPO: garantia da produção é baseada em princípios de sustentabilidade

O que parecia improvável, até pouco tempo atrás, não apenas se tornou possível como já faz parte da realidade de um grupo de fazendas no País. Elas mantêm uma produção agrícola que leva em conta padrões de excelência em sustentabilidade socioambiental. Investem em práticas mais responsáveis não por modismo, causas sociais ou verdes, mas porque a estratégia faz parte da própria sobrevivência de seus negócios. E, naturalmente, pelos novos desafios do mercado, que tornam temas como desmatamento argumentos poderosos para impedir a entrada de produtos brasileiros em países da Europa e nos Estados Unidos, onde se concentram os clientes mais exigentes do planeta.

Faz parte desse grupo inovador a Agropalma, sediada no Pará, que investiu pesado na produção do óleo da palma e seus derivados e, por fim, em ações sustentáveis. Desde que foi criada há 29 anos, a Agropalma, do banqueiro Aloysio Faria, ex-dono do banco Real, já aplicou algo em torno de US$ 250 milhões na produção de biodiesel. O investimento foi recompensado. Como retorno, o grupo recebeu, no mês de setembro, o certificado Mesa Redonda do Óleo de Palma Sustentável (RSPO, sigla em inglês) – emitido pela entidade não governamental de mesmo nome. “Após três anos de espera, a empresa obteve o sinal verde para comercializar 100% da sua produção com o certificado”, diz Marcello Brito, diretor comercial e de sustentabilidade da Agropalma. A empresa iniciou o processo para receber o título quando estabeleceu parceria com a Associação de Certificação Instituto Biodinâmico (IBD), entidade brasileira filiada à RSPO, responsável por certificar produtos orgânicos. “Com isso, podemos apostar em novos negócios”, afirma Brito. Atualmente, a Agropalma exporta um terço da produção, cerca de 150 mil toneladas de seu principal produto, o óleo de palma, para os Estados Unidos, Alemanha, Holanda e mais dez outros países. “São clientes cada vez mais exigentes em normas de produção sustentável”, diz.

100% sustentável

Produção certificada de óleo de palma

No mundo

● 6,1 milhões de toneladasAgropalma

● 150 mil toneladas

Área plantadaNo mundo

●1 milhão de hectares No Brasil

● 39 mil hectares

 

A Agropalma é um dos maiores produtores individuais de óleo de palma da América Latina. São 64 mil hectares de reservas florestais, 39 mil hectares de áreas de plantio, cinco indústrias de extração de óleo bruto e uma refinaria com capacidade de produção diária de 320 toneladas, localizados nos municípios de Tailândia, Acará, Moju e Tomé-Açu, a 150 quilômetros de Belém (PA). Agora, ao ser contemplado com o selo de reconhecimento mundial, o grupo atesta ao mercado que a produção sustentável de óleo de palma cumpriu todos os princípios, critérios e indicadores desenvolvidos pela RSPO. Entre eles estão a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade, o uso de melhores práticas agrícolas e, claro, a conformidade da empresa com a legislação de cada país.

O óleo de palma e seus derivados têm diversas aplicações nas indústrias alimentícias e óleos-química. “Ao todo, existem hoje 6,1 milhões de toneladas de óleo de palma já certificadas no mundo, menos da metade do que é comercializado anualmente”, diz Anne Gabriel, diretora de comunicação da RSPO. Segundo ela, as primeiras plantações foram certificadas em 2008, na Europa. Três anos depois já há, em todo o mundo, 25 mil agricultores com propriedades certificadas.

Para a RSPO, a utilização do selo em produtos vendidos diretamente aos consumidores deverá ocorrer de forma gradual. “Empresas como Nestlé, Unilever, Carrefour e inúmeras outras dos segmentos de alimentação, biocombustíveis e óleo químico já assumiram compromissos públicos internacionais em só adquirir óleo de palma com certificação sustentável da RSPO, a partir de 1º de janeiro de 2015”, diz o secretário-geral da RSPO, Darrel Weber.

Produção: a Agropalma exporta cerca de 150 mil toneladas de óleo de palma para 13 países

Com a certificação concedida ao grupo brasileiro, a RSPO completa um milhão de hectares de área de produção certificada em todo o mundo. E coloca o Brasil entre os países com responsabilidade ambiental. Além da Agropalma, apenas uma empresa possui a certificação, ainda que parcial, no continente – a colombiana Daabon, com 29 mil toneladas de óleo produzidas por ano. Por enquanto, a vantagem na produção do óleo só está na facilidade de acesso a novos mercados. “No início pagava-se no mercado mundial até US$ 50 de prêmio por tonelada certificada”, diz Brito. Esse valor foi caindo, à medida que mais empresas passaram a receber a certificação. A tendência é que não exista prêmio – mas desconto para o produto que não seja certificado. “Por enquanto, o óleo certificado pela RSPO recebe prêmio de US$ 5 a US$ 6 por tonelada, que tem sido negociada, em média, por US$ 1 mil no mercado global”, diz Weber.

Para o coordenador de Agroenergia do Ministério da Agricultura, Denílson Ferreira, a certificação comprova que o País tem condições climáticas e solo que favorecem o crescimento da produção. Segundo ele, a Agropalma é a única empresa a plantar palma em escala comercial, respondendo por 2,5% da produção mundial de óleo. Foi de olho nesse mercado que o governo lançou, em 2010, o programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil, em Tomé- Açu. “A intenção é estimular os produtores, também conhecidos por dendezeiros, a extrair o óleo de palma de forma sustentável”, diz Ferreira.

Mercado: Brito (a esquerda) e Weber dizem que o prêmio por produção era de US$ 50 por tonelada. Hoje, ele é de apenas US$ 6