08/06/2020 - 7:16
O presidente Jair Bolsonaro foi alvo neste domingo de protestos no Distrito Federal e em ao menos 11 capitais. Classificados por Bolsonaro na semana passada como “marginais” e “terroristas”, os manifestantes fizeram atos majoritariamente pacíficos. A adesão foi maior em São Paulo, onde também houve panelaços e buzinaços contra o presidente. Após a manifestação terminar, a Polícia Militar (PM) usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar um grupo que continuava nas ruas de Pinheiros, Zona Oeste. Os jovens quebraram vidraças de agências bancárias e viraram uma caçamba de material de construção.
Os grupos que foram ontem para também levantaram outras bandeiras, como o combate ao racismo. Ao longo do dia, foram registrados atos a favor de Bolsonaro bastante reduzidos. O presidente havia recomendado a seus seguidores que não saíssem de casa. Ainda assim, houve aglomerações a favor do presidente em São Paulo e Brasília. Se nas semanas anteriores, Bolsonaro sobrevoou os atos e os visitou a cavalo, ontem ele apenas cumprimentou um grupo de simpatizantes na porta do Palácio da Alvorada.
Em São Paulo, os defensores de Bolsonaro ocuparam parte da calçada do cruzamento da Avenida Paulista com a rua Pamplona. Eles carregavam faixas que pediam “intervenção militar” e criticavam o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O tráfego de veículos na via não foi afetado. Previsto inicialmente para ocorrer no mesmo lugar, o protesto contra Bolsonaro foi deslocado para a zona oeste, após decisão judicial. Opositores do presidente chegaram a preencher parte do Largo da Batata e duas faixas da Avenida Brigadeiro Faria Lima. Depois, caminharam por um trecho de 700 metros da Rua dos Pinheiros, até um bloqueio montado pela PM.
Parte das pessoas carregava faixas com os dizeres “Fora Bolsonaro”, enquanto outros levantavam cartazes questionando ações do governo nas áreas cultural e indígena, além de palavras de ordem contra ataques a negros. No carro de som, líderes de movimentos sociais, ativistas ligados ao PSOL e representantes de torcidas organizadas discursaram sobre direitos humanos. Não havia outras bandeiras de partidos políticos. Alguns manifestantes entregaram cravos para integrantes da PM para fazer referência à Revolução dos Cravos, movimento histórico contra os fascistas em Portugal. Alguns policiais aceitaram as flores, mas depois foram orientados pelo comando a devolvê-las.
A maior parte dos participantes usava máscaras. Mas, durante a manifestação, não mantiveram a distância de 1,5 metro entre cada pessoa.
Por volta das 18h30, quando o ato já tinha terminado, um grupo menor de manifestantes continuou na rua dos Pinheiros, próximo à estação Fradique Coutinho do Metrô. Eles pretendiam seguir até a Avenida Paulista, mas foram impedidos pela PM.
Secretário-executivo da Polícia Militar de SP, o coronel Álvaro Batista Camilo afirmou ao Estadão que as pessoas que entraram em confronto com a PM não eram manifestantes. “Meia dúzia de vândalos não representam os manifestantes. O dia inteiro o protesto ocorreu de forma pacífica.”
Capitais
Nos demais Estados, os atos também ocorreram com tranquilidade. Em Brasília, protestantes ocuparam parte da Esplanada dos Ministérios para se posicionarem contra o presidente Jair Bolsonaro e contra o racismo. A Polícia Militar fez um cordão de isolamento para impedir que os manifestantes avançassem até a Praça dos Três Poderes, onde fica o Palácio da Alvorada.
Rio, Belo Horizonte, Belém, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Fortaleza e Goiânia também registraram atos políticos neste domingo. Manifestantes vestidos, em sua maioria, de preto e usando máscaras para proteção contra o novo coronavírus tomaram uma das pistas da Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, para protestar contra o racismo e a violência policial nas favelas da cidade. O ato também criticou governo Bolsonaro e pediu a sua saída do poder.
Na capital mineira, a concentração de opositores a Bolsonaro se deu na Praça da Bandeira, região sul, e seguiu em direção à Praça Sete, no centro da cidade.
Já em Belém, um esquema de segurança impediu manifestação contra o presidente. A capital do Pará também não teve atos a favor do presidente da República. Mais de 100 manifestantes foram detidos e levados para uma delegacia.
O centro de Porto Alegre se tornou palco de atos contra o presidente Bolsonaro. Embora organizadores dos atos que se denominam antifascistas não tenham chegado a um consenso sobre sair ou não às ruas, temendo atos de vandalismo provocados por infiltrados e também a pandemia do coronavírus, manifestantes tomaram a região central.
Ameaça e afastamento
A Polícia Militar de São Paulo afastou das ruas ontem um cabo que fez, em suas redes sociais, postagens ofensivas a grupos que protestam contra o presidente Jair Bolsonaro. Segundo o comando da PM, uma apuração foi instaurada para averiguar a conduta do cabo Lemos, da Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (ROCAM). Reportagem do Estadão mostrou, neste domingo, que o governo de São Paulo tem tentado conter o bolsonarismo na corporação e manter a neutralidade e o caráter apartidário da instituição.
A apuração contra o cabo Lemos foi instaurada porque ele escreveu, em sua conta no Instagram: “Hoje tem manifestação no Largo da Batata, e os ANTIFAS (anti-fascistas) querem marcar presença. Eu quero cacetar a lomba dos baderneiros”. Após tomar conhecimento da publicação, a PM retirou Lemos da escala de trabalho. “A polícia não compactua com essas atitudes”, disse ao Estadão, o secretário executivo da PM, coronel Alvaro Batista Camilo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.