01/01/2009 - 0:00
O agrônomo Zenon Wróbel mostra com orgulho seus campos cobertos de neve. Debaixo do gelo, esperando o inverno passar, está hibernada a plantação de frutas vermelhas que garante sua prosperidade em tempos de União Européia. Aos 55 anos, Wróbel é um retrato da revolução que transformou a Polônia no país cuja agricultura orgânica registra o maior crescimento do continente.
“Quem acompanhou as mudanças, se deu bem. Quem não investiu, ficou para trás”
ZENON WRÓBEL, produtor de fambroesa e morango
Em 17 anos, o número de fazendas orgânicas polonesas certificadas saltou de 49 para 15.158. O começo da escalada coincidiu com a mudança política do país, que colocou fim ao regime comunista, no final dos anos 1980. “Quem acompanhou as mudanças, se deu bem”, resume Wróbel. “Quem não investiu, ficou para trás.”
A UNIÃO EUROPÉIA CONCEDE UM SUBSÍDIO DE 400 EUROS POR HECTARE AOS PRODUTORES ORGÂNICOS POLONESES
Na vila onde mora, Brzostówka, a 26 quilômetros da cidade de Lublin, 80% dos quase mil habitantes colocaram a vocação agrícola em segundo plano por não se adequar às regras do jogo capitalista. Tiveram dificuldade de se especializar, apesar da forte tradição camponesa do país, o único do antigo bloco soviético que não estatizou as pequenas propriedades rurais. Wróbel também colecionou alguns fracassos até fazer a opção pelos orgânicos, em 1998. Em um país de área equivalente à do Estado brasileiro do Maranhão, ele é dono de uma propriedade de 20 hectares – uma fazenda de médio porte para os padrões locais. Em 2008, colheu 58 toneladas de frutas vermelhas orgânicas – 40 de morangos e 18 de framboesa. “No auge da colheita, cheguei a contratar 50 trabalhadores da Ucrânia”, conta, referindo-se ao país que faz fronteira ao leste
Entusiasmado com os frutos da agricultura sem aditivos, o técnico em eletricidade Slawomir Fiutka, 40 anos, fez o caminho inverso dos conterrâneos que foram para a cidade grande. Voltou há cinco anos para Brzostówka, para assumir a propriedade da família, cujas raízes são agrícolas. Com Wróbel e outros seis produtores de frutas vermelhas da vila, Fiutka montou um grupo para negociar a colheita em conjunto. Como outros colegas do setor orgânico, recebe um subsídio de 400 euros por hectare da União Européia desde que a Polônia entrou para o bloco, em 2004. O governo polonês também colabora, subsidiando parcialmente os custos dos certificados. “Para ficar melhor, precisaríamos só de consultores para ajudar a lidar com a papelada”, comenta Fiutka, em tom de ironia, referindo-se aos trâmites que garantem ao consumidor a origem e a integridade do produto.
APOSTA RENTÁVEL: Liliana Rychel (à esq.) criou uma ONG para divulgar os orgânicos no país, um mercado de € 58 milhões, € 4 milhões deles movimentados por Artur Tyminski (à dir.)
As produções de Wróbel e Fiutka ficam no sudeste da Polônia, onde se concentra a maior parte das propriedades orgânicas do país, com caráter familiar e extensão média de 18 hectares. Em diferentes níveis de concentração, a agricultura sustentável se espalha, no entanto, por todo o território. No total, produziu quase 192 mil toneladas em 2008, o que corresponde a 2% da safra agrícola do ano. “A tendência é esta proporção aumentar cada vez mais”, garante Michal Rzytki, que gerencia o Departamento de Agricultura Ecológica do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural. “Desde o ano passado o governo está fazendo uma campanha, inclusive na tevê, para promover o consumo de alimentos naturais.”
MAIORIA DA PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL SE CONCENTRA EM REGIÃO CUJAS FAZENDAS SÃO MENORES
A comercialização desse tipo de produto é o foco do empresário Artur Tyminski desde 1997, quando ele voltou de uma temporada de seis anos nos Estados Unidos. Acostumado a consumir produtos sustentáveis em Nova York, Tyminski investiu no setor quando ele começava a se expandir na Polônia. Hoje, sua empresa, a Symbo, movimenta 4 milhões dos 58 milhões de euros do mercado de orgânicos poloneses. “Compro 150 itens diferentes, de cerca de 300 produtores de todo o país”, diz Tyminski. “Oitenta por cento dessa produção é exportada, principalmente para a Inglaterra.”
COLHEITA FUTURA: Slawomir Fiutka mostra a resistência da plantação ao inverno e conta que a negociação conjunta da colheita tornou o mercado sustentável ainda mais atraente para os produtores de sua vila
De olho na expansão do mercado, a empresária Liliana Lehrer-Rychel decidiu reunir parceiros do setor na organização não-governamental Ekologia Polska depois de participar de uma das maiores feiras de orgânicos do mundo, a BioFach de Nuremberg, na Alemanha, em 2006. “Eram muitos os agricultores poloneses, mas poucos estavam processando o alimento”, lembra Liliana. “Decidimos nos organizar tanto para trocar experiência quanto para divulgar o produto ecológico.” Em seu próprio negócio, na cidade de Rogoznik, a 380 quilômetros de Lublin, Liliana produz cerca de 500 mil pães por mês – 10% da produção é orgânica. “Apesar de ser o pão mais saudável, não é o mais consumido pela população, pois custa o dobro do convencional”, compara Liliana. “Mas esse cenário está mudando.” Na Jasiolka, tradicional fabricante de embutidos, Pawel Krajmas acompanha a mudança desde 1995, quando introduziu a produção natural. “São pelo menos 20 toneladas sem nenhuma química todo mês”, conta Krajmas. “É quase a metade de nossa produção.” Além disso, basta circular pelo país de 38 milhões de habitantes para notar a diferença. Embora as lojas especializadas sejam raras, são cada vez maiores e mais sortidas as “ilhas” de alimentos sustentáveis oferecidas pelas grandes redes de supermercado, como o Carrefour e o Tesco.
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