Os Jogos Olímpicos Rio 2016, que começam dentro de cinco meses, vão contar com uma equipe de 20 “atletas” diferentes. Em vez de esportes, como basquete, boxe ou judô, essa equipe disputará uma corrida. Mas não entre eles e sim contra o tempo, para ajudar a tornar o mundo um lugar mais sustentável. O campo de provas para esses atletas são cerca de 100 mil hectares de terras cultiváveis no Estado de Mato Grosso, a cerca de 2,5 mil quilômetros de distância dos modernos estádios esportivos construídos no Rio de Janeiro. A nobreza da modalidade levou a equipe a garantir suas medalhas de ouro antes mesmo do início dos Jogos. Mas quem são eles? Trata-se de vinte produtores rurais que estão utilizando em suas lavouras a agricultura de precisão, promovendo uma faxina no meio ambiente. Entre os dias 5 e 20 de agosto, enquanto os atletas na cidade produzirão gases de efeito estufa para fazer a máquina dos jogos olímpicos funcionar, a equipe do campo já terá sequestrado esses gases, zerando a conta da competição. Os atletas vão produzir 500 mil toneladas de gás carbônico equivalente (CO2eq) estimadas, o mesmo volume emitido por 640 veículos funcionando 24 horas, durante um mês. A métrica CO2eq serve para incluir na mesma base de cálculo outros gases danosos, como o metano e óxido nitroso, por exemplo.


No campo: a área do projeto para o sequestro de carbono é de  100 mil hectares  de plantações de soja e milho

O convite para que os agricultores de municípios como Diamantino, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e Sorriso participassem dessa missão foi feito pela americana Dow Chemical, conglomerado de empresas de produtos químicos e plásticos. Como patrocinadora global dos jogos, a Dow é parceira nos programas de redução de emissão de carbono do comitê organizador da Rio 2016, com todas as suas unidades industriais. No campo, a iniciativa é coordenada pela Dow AgroSciences, subsidiária agrícola que produz agroquímicos e biotecnologias, empresa que em 2014 faturou US$ 7,3 bilhões.

“A contribuição da agricultura no sequestro de carbono deverá ser superior a 50% da meta de 500 mil toneladas”, diz o agrônomo Roberto Risolia, líder de Sustentabilidade da Dow AgroSciences.

O Projeto Agricultura Susten-tável, visando reduzir a pegada de carbono durante os Jogos Olímpicos, começou no início da safra 2015/2016, em setembro do ano passado. A ideia é que ele não termine com o fim da Olimpíada.

A meta é estender o projeto por mais cinco anos, deixando um legado sustentável para o País, ao garantir um saldo de 1,5 milhão de toneladas sequestradas de CO2eq. A proposta de implantação e intensificação da agricultura de precisão, como modelo de sustentabilidade ambiental, agradou produtores como Erny Parisenti, da fazenda Hervalence, de 15,6 mil hectares no município de Diamantino, onde são cultivados soja e milho. “Vamos mostrar que uma lavoura mais produtiva é também mais econômica e ainda beneficia o meio ambiente”, diz o agricultor. Com o projeto, ele economizou 17% em fertilizante na safra 2015/2016, saindo de 385 quilos por hectare para 321 quilos. A meta é chegar a 256 quilos por hectare na safra 2016/2017.

Na soja, que está sendo colhida, o produtor já contabiliza um incremento de produção de 480 quilos por hectare, com uma média de 3,5 mil quilos por hectare. No milho safrinha, que será colhido nos próximos meses, o incremento esperado é de 1,5 mil quilos por hectare, chegando a 6,9 mil quilos. “Ao melhorar meus índices, o ambiente vai junto”, diz Parisenti.

Os ganhos de eficiência dos 20 agricultores serão monitorados pela Dow, com a ajuda da canadense Farmers Edge, empresa especializada em serviços e equipamentos para a agricultura, como sistemas de mapeamento de solo e medidores de colheita. “Esses agricultores, ao fertilizarem a terra apenas onde há necessidade, mudam o padrão de produção”, afirma Risolia. “Além de economia de insumos, como o adubo, eles vão consumir menos óleo diesel, em função da menor movimentação de máquinas. E vão produzir mais.” 

A Dow AgroScienses quer mostrar que o uso de tecnologias na agricultura pode levar a um saldo negativo em emissões de gases de efeito estufa. De acordo com dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa, promovido pelo Observatório do Clima, uma rede de 30 organizações não governamentais de perfil socio-ambientalista, o Brasil emitiu 1,6 bilhão de toneladas de CO2eq em 2014. Desse total, 423 milhões de toneladas, o equivalente a 27% foram creditadas às atividades agropecuárias. “Esse peso pode cair muito porque dispomos de técnicas para isso”, diz Risolia.  “É a hora de mostrarmos ao mundo do que a agricultura é capaz.”


Ganhos: para Risolia, da Dow, entre os benefícios da agricultura de precisão estão menores gastos com adubo e combustível