Um pequeno avião é preparado para sobrevoar uma floresta de eucalipto no município de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul. A aeronave, de 96 centímetros de envergadura, pesando cerca de 700 gramas, lembra o famoso caça militar americano B-2 Spirit, o mais caro do mundo, avaliado em US$ 2 bilhões. Mas, apesar de baseado numa tecnologia militar de guerra, a arma mais potente do avião de Três Lagoas são as suas lentes capazes de monitorar qualquer terreno, em tempo real. O Veículo Aéreo não Tripulado (Vant), modelo Ebee fabricado pela suíça Sensefly, sai pela bagatela de US$ 10,6 mil. Foi a tecnologia embarcada que fez do Vant o mais novo aliado na gestão das fazendas da Eldorado Brasil, uma das gigantes do País na produção de celulose, que pertence a holding J&F, dona também da JBS e da Alpargatas. “O uso do Vant nos proporcionou um salto tecnológico sensacional”, diz Carlos Justo, gerente de planejamento e controle florestal da companhia que faturou R$ 3,8 bilhões, em 2015.

De olho na demanda crescente, muitas empresas nacionais têm se esforçado para apresentar tecnologias equiparadas aos produtos importados. Em 2016, o mercado de Vants deve movimentar cerca de R$ 200 milhões. É por uma fatia de R$ 6 milhões, 3% desse negócio, que a paulista Xmobots, de São Carlos (SP), está atrás. De acordo com o seu fundador e diretor, o engenheiro mecatrônico Giovanni Amiante, a meta é possível. “Nesse setor, há um vasto mercado para trabalharmos”, afirma Amiante, que começou a vender aparelhos para a agricultura em 2012. “A demanda está especialmente nas empresas prestadoras de serviços.”


“O uso do Vant nos proporcionou um salto tecnológico sensacional” Carlos Justo, da Eldorado Brasil

Os Vants podem ser parecidos com aviões, como o Ebee, e também com helicópteros, os chamados drones (zangão, na tradução do inglês). Os mais eficientes para a agricultura têm sido os miniaviões, como os da Eldorado. Por serem mais ágeis, eles conseguem mapear até 800 hectares, por dia. Por isso, nos 220 mil hectares de eucalipto da empresa, não somente foi possível mapear a área de cultivo, como também definir o plantio de mais 160 mil hectares até o final de 2017. Com as informações coletadas, as áreas têm sido melhor aproveitadas, com até 3% a mais de árvores plantadas por hectare.  “Desde 2013, quase todos os manejos florestais ganharam em gestão”, diz Justo. Estão na lista de tarefas das aeronaves a inspeção do desenvolvimento das plantas, o acompanhamento de rebrotas e o monitoramento de pragas e doenças. Além disso, o mapeamento topográfico das fazendas, hoje é realizado em três dimensões (3D). Aos poucos, o aparelho substitui as imagens de satélites, que chegam a levar semanas de espera para serem traduzidas. O Vant barateou o serviço. Diluindo o custo do equipamento, em dois anos, a média de preço chega a R$ 5 por hectare, ante a média de R$ 30 nas imagens por satélite. “Por isso, o Vant é muito mais competitivo”, afirma Justo. No futuro, eles poderão até fertilizar as plantações. “É só uma questão de tempo para acontecer, porque a tecnologia vai revolucionar o agronegócio, cada vez mais.”

O Vant, que tem se tornado um equipamento  presente no campo, está ganhando uma importância estratégica em muitas lavouras. A francesa especializada em bioenergia, Tereos Inter-nacional, dona da marca Guarani, que faturou R$ 8 bilhões na safra 2014/2015, opera seu aeromodelo em sete usinas de cana-de-açúcar. São 110 mil hectares de cultivo concentrado no Estado de São Paulo. De acordo com o engenheiro agrônomo José Olavo Bueno Vendramini, gerente de desenvolvimento técnico da Guarani, o Vant entrou na gestão do negócio em 2014, como um refinamento da agricultura de precisão. “Acreditamos na tecnologia, pois ela tem nos servido de informações para tomar decisões rapidamente e com mais segurança”, afirma Vendramini.

Na Guarani, a identificação de falhas de plantio, por exemplo, hoje são resolvidas facilmente. Além disso, as imagens geradas pelo Vant ajudam a monitorar a incidência de plantas daninhas e as deficiências nutricionais do canavial. Manchas alaranjadas, por exemplo, podem indicar falta de potássio no solo. “Ainda não conseguimos calcular quanto ganhamos em produtividade, mas, só de ter acesso rapidamente à informação já é um grande avanço”, diz Vendramini. “O que sabemos é que o monitoramento fino da lavoura será cada vez mais necessário e o Vant é a melhor ferramenta.”