01/01/2022 - 17:00
Opresidente da Suzano, Walter Schalka, diz que o Brasil precisa de um plano estratégico – algo que o País não tem atualmente nas mais diversas áreas, seja saúde, educação ou habitação. Nesse sentido, de acordo com ele, está claro que os empresários, que vivem fazendo planos para a atuação das companhias que dirigem, podem – e devem – meter a colher na política.
O executivo, que está à frente da gigante de papel e celulose há quase uma década e que antes passou pela Votorantim, afirma que, durante muito tempo, o setor produtivo tentou se distanciar do governo, especialmente por causa da noção de que a política estava totalmente contaminada pela corrupção.
“Teremos de transformar o Brasil sim pela política, é a única forma. Precisamos eleger um Executivo melhor, um Congresso melhor, para que possamos fazer a ponte para projetos e alternativas para o Brasil do futuro”, disse Schalka, em entrevista ao Estadão.
Embora concorde que a definição de um plano estratégico para o País tenha de incluir um debate plural nos mais diversos setores, Schalka afirma há tempos que um problema brasileiro está claro: a presença exagerada que o governo tem na economia. “O Brasil precisa fazer uma redução do tamanho do Estado, que hoje representa 36% do PIB (Produto Interno Bruto). Isso pode ser feito com uma combinação de privatização e reforma administrativa.”
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
O Brasil vive uma expectativa ruim para 2022, agravada pela eleição presidencial, que deve trazer mais instabilidade. Qual sua visão do País atualmente?
O Brasil está perdendo uma grande oportunidade de inserção geopolítica internacional, de fazer um salto de qualidade para a população brasileira. Nós caímos numa armadilha política muito ruim da polarização e esquecemos que temos de construir um projeto para o Brasil. E esse projeto pode criar oportunidade significativa para aumentar a qualidade de vida dos brasileiros em saúde, habitação, educação e pela geração de empregos e oportunidades de desenvolvimento e crescimento.
Ou seja: falta planejamento, falta direcionamento.
Certamente. A primeira coisa que você faz é criar um planejamento estratégico para saber quais são suas competências e bases para o futuro. O Brasil está virando cada vez mais um país do agronegócio. E o agronegócio é ótimo – mas não pode ser só ele. O Brasil tem de ter outras virtudes. E o salto de qualidade passa obrigatoriamente para a educação, por um plano. Lá atrás, tivemos o objetivo de educação universal. Mas a nossa educação é ainda de baixa qualidade. Qual vai ser o modelo de negócios do Brasil para o futuro? Temos de debater, de agir, de buscar relevância global. Não podemos ser só exportadores de produto básico, minério e agricultura. Somos mais do que isso.
Muito se falou que as reformas estruturais eram o caminho, mas elas não saíram do papel. E agora o teto de gastos está comprometido. Isso atrapalha?
Minha percepção é de que as reformas são condições precedentes, necessárias e absolutamente fundamentais para que a gente possa fazer essa mudança da economia. O Brasil precisa fazer uma redução do tamanho do Estado, que hoje representa 36% do PIB. Isso pode ser feito com uma combinação de privatização e reforma administrativa. Mas agora temos de esperar a eleição. Espero conseguirmos fazer isso a partir de 2023.
Com esses problemas, como o sr. vê a perspectiva de crescimento para 2022?
Nos últimos dez anos, a taxa de crescimento médio no Brasil foi próxima de zero. O Brasil precisa repensar esse modelo (econômico) e precisa sair da polarização. E é necessária a participação ativa dos empresários na questão eleitoral para que se saia dessa polarização que não ajuda nada os brasileiros e que divide amigos e famílias. Precisamos criar um projeto para o Brasil e, para isso, os empresários têm contribuições a dar. Os empresários não deveriam ser omissos, como já foram em vários outros momentos da história do Brasil, quando achávamos que política não tinha nada a ver conosco.
Na pandemia, os empresários se colocaram a favor da vacina e da ciência…
É importante colocar que a sociedade civil tem sim um papel muito importante na transformação do Brasil – infelizmente, muita gente se afastou da política pela visão de que ela estava contaminada pela corrupção. Mas teremos de transformar o Brasil sim pela política, é a única forma. Precisamos eleger um Executivo melhor, um Congresso melhor, para que possamos fazer a ponte para projetos e alternativas para o Brasil do futuro.
O que o sr. tem a dizer sobre a visão negativa do Brasil na questão ambiental?
O Brasil tem um calcanhar de Aquiles: precisa resolver a questão do desmatamento ilegal na Amazônia, que representa 97% do desmatamento total. Há pessoas de baixo nível econômico (vivendo na região) e que estão envolvidas nas ilegalidades porque não têm outra opção. As pessoas não querem se envolver na ilegalidade, elas querem ter qualidade de vida. A prestação de serviços ambientais, combinada com (a venda de créditos de) carbono, será a solução para a Amazônia. O Brasil, ao participar da COP-26 (cúpula do clima, ocorrida em Glasgow, na Escócia, no último mês de novembro), criou um espaço para isso poder acontecer. Mas reforço: temos de combater a criminalidade na Amazônia. Não podemos ser o patinho feio da história, como somos hoje.
A Suzano, de certa forma, está ‘blindada’ do baixo crescimento do Brasil em 2022, pelo fato de ser uma empresa basicamente exportadora?
A Suzano está muito bem posicionada, tem planos de investimentos expressivos. É o maior plano de investimento da história da empresa, de R$ 13,6 bilhões, para o Brasil. É o que vamos investir no País em 2022. Nós somos uma empresa brasileira e queremos ver o Brasil melhor.